VII. Gélido

A umidade tornava-se mais densa e a jovem já podia sentir alguns flocos de neve pousando sobre a sua ávida pele e derretendo logo depois. O gelo mostrava-se não em sua forma mais densa, mas em algo instável e frágil que invadia o pântano, trazendo uma delicadeza sem igual à paisagem. Por um momento, tudo parecia propenso a desmoronar devido à isso, mas não era nada muito alarmante no momento.

Despreparada para o frio da natureza boreal selvagem, a garota era obrigada a pegar um casaco fino de lã em sua mochila, mas não chegava nem perto do visual que deveria ter para uma estadia longa na neve. Ou corria para a próxima cidade depois desse pântano, que por sinal, ainda estava um tanto longe ou simplesmente se aquecia com as batalhas.

Não precisava nem ser um expert para notar que Rufflet estava se sentindo estranho desde a última batalha. Ainda fora de sua Poké Ball junto dos outros companheiros, ele estava mais quieto e reservado.

— Você está bem? — Pausava a jornada, não deixando de notar isso. Altair era seu companheiro há muito tempo, então ela podia perceber por detrás de seus olhos que algo não estava indo tão bem assim.

— Ru... — Assentiu com a cabeça positivamente. Ele estava bem, só as coisas não estavam tão tranquilas assim dentro dele. A propósito, nem mesmo a ave sabia o que acontecia. Eram momentos de extrema excitação e momentos de extremo desinteresse, mesmo que quando filhote ele se sentisse atraído por coisas bobinhas como uma minhoca andando por aqui e ali. Parecia mais um sintoma de seu amadurecimento iminente, um desabrochar da idade.

— Pode contar com a gente se você se sentir mal. Estamos aqui. — Respondeu Luna, encucada, mas tratou de prosseguir em conjunto com eles.

Algo dizia no coração da exploradora de que ela estava sendo observada. Não tardava para ela, em meio aos seus pensamentos, colocar seu pé num lago congelado do pântano e só perceber isso ao ouvir o barulho do gelo trincando e seus Pokémon a puxando para trás.

— Nossa, que louco. Eu podia jurar que o caminho continuava daqui. — Pontuou ela para seus Pokémon, que a observavam atentamente aliviados enquanto passava a mão em seus cabelos de forma descontraída. Algo não estava certo, mas Luna preferiu continuar no caminho.

Ilusões gélidas eram bem comuns na região norte, principalmente em domínio de Pokémon fantasmas e psíquicos. E isso quase sempre levava aos vários acidentes, as vezes fatais. Seus companheiros, no entanto, não estavam tão submetidos à isso, uma vez que podiam ver o pântano gélido e a garota não.

Dessa vez, Luna sentia que o caminho não tinha fim e, logo ao lado, havia um convidativo atalho ao preço de um pulo de uma pedra para a extremidade da outra, com um riacho bravo passando por baixo. Atentada a pular, ela foi surpreendida quando Altair sentiu a presença de algo e, como o arauto desse invasor, o atacou com um Aerial Ace. A ilusão se dissipava e a garota percebia que aquele "atalho" na verdade era muito mais longe e seria impossível que ela chegasse no outro lado, sendo possivelmente levada pelo rio. Uma armadilha preparada pela mente.

Deu um passo para trás e a dona das confusões aparecia, com um sorriso malévolo na cara, mas furiosa por ter sido contrariada. O que tinha de ruim em ela colocar uma nova estátua de gelo em sua coleção, afinal?

O Pokémon era branco e flutuante, com um obi vermelho na cintura e braços com ornamentos em azul descendo de sua cabeça. Seus braços e esse laço faziam parecer que ela estava vestindo um kimono. Essa delicadeza logo contrastava com a ferocidade que trazia em seus olhos azuis-cristal e com a fria baforada que ela expelia contra a ave, que era atingida em cheio. Em seguida, ela usava esse vento novamente mas para criar um cenário de neblina, aterrorizando o trio que havia sido deixado para fora da batalha claramente depois de projetar sua face furiosa nela usando mínimos cristais de gelo e jogos de luz. Sua birra mesmo era com Altair.

A ave preparava um Wing Attack, enquanto ela se dividia em várias cópias num círculo para se esquivar desse movimento. O pássaro destruía metade dele, enquanto puxava seus limites para continuar com suas asas fortificadas e acabava com a outra metade e ainda atingia o corpo principal, que sofria com o dano.

Os lábios da Froslass começavam a brilhar e então um orbe rosado aparecia na frente de seu rosto. Um raio a conectava com Rufflet, que não conseguia se esquivar e logo era pego no Draining Kiss.

A ligação entre ambos era impossível de ser desfeita a menos que a gueixa fosse derrotada ou algo muito forte acontecesse. Todos estavam incapacitados de fazer alguma coisa, enquanto ela sugava a energia do pássaro de forma ininterrupta, usando ainda o Double Team para dividir-se no meio de várias cópias que usavam versões fantasma do movimento.
Além do movimento do tipo fada, ela também começava a usar o Icy Wind pelo fio de energia, atingindo-o com vários ataques super efetivos e pondo sua durabilidade a prova. O Pokémon sofria bastante.

Não dando-se por vencido, Altair começava a berrar e abrir suas asas com força. Então, o seu corpo era engolido por uma forte luz azulada, que anunciava algo grande acontecendo. A ave aumentava de muito de tamanho, ficando praticamente do seu tamanho; suas asas também cresciam vertiginosamente. Seu bico aparecia mais pontudo e curvado. Várias penas ornavam sua cabeça como uma coroa, enquanto suas garras também cresciam e se fortificavam. Uma cauda aparecia.

Quando a luz se dissipou, a aparência do pássaro havia mudado. As cores eram muito mais vívidas e diferentes, com o vermelho se mostrando em toda a parte de cima e o azul-marinho reinando na parte de baixo até as garras e o rosto. As penas na sua cauda eram multicoloridas. Seus olhos possuíam um brilho diferente agora.


— Braviary! — Exclamou Luna, sendo respondida por um olhar reconfortante de seu companheiro enquanto se libertava do ataque de Froslass usando o novo movimento que havia aprendido com a evolução: o Superpower. Usando essa força para emplacar mais ataques voadores, logo a fantasma sucumbia, sumindo logo em seguida. Ela não imaginava que o fator surpresa também ajudaria a derrotá-la.

Com a batalha terminada, Luna finalmente podia vibrar e seus Pokémon comemorarem a evolução de seu companheiro. Aproximou-se estendendo o braço e acariciando a nova penugem no topo da cabeça do Pokémon. Reconhecia, então, que mesmo que tivesse evoluído, continuava carinhoso como sempre. — Eu não acredito que você pôde evoluir! Esse sempre foi o meu sonho para você. Não consegue imaginar o quão orgulhosa estou de você, Altair!

Para a ave, ainda era estranho lidar com aquele enorme e mais pesado corpo, mas ele ainda tinha tempo para se acostumar. Abrindo suas asas de orgulho, emitindo um grito agudo que ressoava por toda a rota, o enorme voador podia reconhecer o aumento do seu poder agora.

Rufflet evoluiu para Braviary e aprendeu Superpower no lugar de Fury Attack.

Atualização

Luna

Nossa sua missão foi muito interessante, a forma como a Frosslas surgiu na história foi muito interessante. A evolução de Braviary foi emocionante. Parabéns.

+2 Níveis
2x Ice Gem
1x TM13 — Double Team

A adolescente continuava trilhando o seu caminho pela congelada rota, enrolando-se no seu casaquinho que não conseguia parar nem mesmo dez por cento do frio que sentia. Não via a hora de chegar em Argent e ser tratada como uma cidadã de respeito no meio da parte norte de Aurille, já que na verdade ela estava parecendo uma despreparada moradora da área quente – e era o que ela era no momento.

O que a jovem não sabia é que ela não era a única. No caminho, ela avistou um sapato preto no chão. Logo, ela se aproximou e pode observar um cadáver consumido pelo gelo e por uma lança gélida bem no estômago.

– Credo! – Exclamou, surpresa. Ela nunca havia se deparado com algo assim e o choque havia feito ela ignorar até mesmo um Pokémon que estava ali, que usava suas patas embebidas em veneno para ataca-la e pegá-la despreparada.

– Bridgie, use já o Magnitude! – Lançando a Poké Ball da terrestre no ar, a criatura amarelada logo se transformava de um feixe avermelhado para uma Sandshrew furiosa e disposta a defender sua treinadora, principalmente depois dos acontecimentos na batalha contra a Ariados mais cedo.

Usando sua pata para criar um terremoto que fazia o corpo se mexer no chão, o Pokémon se sentia ainda mais raivoso e cuspia uma bomba de lama, combinando com o ataque corporal logo depois. Bridgie já começava na desvantagem.

– Swift agora! – A proximidade deixava o Pokémon em seu devido lugar para receber uma saraivada de estrelas a queima roupa, lançando-o contra uma árvore próxima. O impacto o fazia se sentir impotente, mas ainda queria continuar. Decidiu expelir uma enorme quantidade de veneno pela sua boca, batia no corpo da roedora e a danificava. O líquido tóxico esparramava-se pelo chão, colorindo de roxo o gelo em que o cadáver havia sido envolvido e também a vegetação rasteira nos arredores. Vendo que aquela coisa toda não fazia diferença e só deteriorava ainda mais o espaço, ele decidiu parar e começar a chorar.

Aí então ela descobriu que aquela era a morada improvisada daquele Pokémon: havia a sua Poké Ball quebrada e alguns apetrechos que, provavelmente, eram do seu antigo treinador e ele decidiu se apropriar a partir do momento que foi obrigado a viver na sua casa pela segunda vez. Quando chegou lá procurando pela sua família, eles também não estavam lá e o anfíbio decidiu ficar por ali mesmo, guardando a memória do treinador. A mochila, no entanto, já não estava mais por ali.

– Ok, Bridgie, deixa comigo. Pode parar de atacar. – Disse a jovem, tomando a dianteira e indo até o Pokémon. – Ele foi seu treinador, não é?

– Gunk, gunk. – Concordou o Pokémon, ainda na defensiva e tímido. Ele olhava fixamente para a destruição causada pela batalha e cobria seus olhos lacrimejantes com ambas as mãos, reconhecendo que tentando ajudar proteger o morto com a própria vida era um total erro e aquilo não iria melhorar em nada a situação. Também não o traria de volta.

Aquilo significava muito para o Croagunk. Ele queria reparar a situação, mas não sabia o que fazer, apenas chorar. Luna estendeu a sua mão para o Pokémon, tentando criar uma espécie de laço com ele e fazê-lo se sentir acolhido novamente.

– Olha, eu não acho que o seu treinador iria gostar de te ver assim. – Pontuou Luna. – Do jeito que você se sente em relação a ele, acho que ele ia se sentir melhor se você seguir em frente e se tornar mais forte em nome do legado que ele deixou para você. Eu consigo perceber que tudo isso aqui foi você que fez, então o seu trabalho já foi cumprido com a memória dele. Não precisa chorar!

– Gunk?! – Chocou-se. Ele não imaginava que isso poderia ser uma possibilidade. Aquele choque de realidade que a estranha havia lhe dado até fazia sentido e o atentava para algo que ele não havia percebido. Como tudo aconteceu de forma muito abrupta, ele ainda não tinha parado e pensado sobre. O destino havia pregado uma peça, mas ele precisava seguir em frente.

– Bom, irei fazer uma coisa para te deixar feliz. Bridgie, execute o Magnitude! – Sugeriu a jovem. – Eu quero que você faça um pedestal para o corpo e o ornamente com alguma coisa nos cantos. Irei pegar alguns gravetos, já que não temos flores.

Prontamente a Pokémon o fazia, usando o movimento ora de forma sutil, ora de forma mais poderosa para construir as coisas de terra, pedra e gelo. O pedestal emergia debaixo do corpo, enquanto ela tratava de criar algumas estacas de pedra que o cobriam, junto com alguns pilares baixos nas quatro extremidades. Usou suas garras para esculpir vasos em que poderiam depositar os gravetos. Em volta, o chão arroxeado fazia até um efeito elegante.

O sapo aparecia, com os olhos brilhando e maravilhado com o bom gosto da Sandshrew. Jamais imaginou que aquelas estranhas poderiam fazer aquilo por ele. Logo Luna aparecia, com alguns gravetos nas mãos e se deparou com aquele lindo trabalho. Não pode deixar de reconhecê-lo.

– Nossa, ficou muito bonito, Bridgie! – Acariciou então a sua cabeça e depois dividiu seus gravetos com o Croagunk, assim ele podia também distribuí-los entre os vasos. Com um desses, ele escreveu o seu nome, junto com o do treinador. Parecia que havia se livrado de um peso.

Agora, sentia que algo estava faltando, dessa vez com sua nova amiga. Ofereceu-se para ir com ela sem pestanejar, já que ela poderia completar o legado que o rapaz não pôde criar por partir de forma tão precoce. Ela pegou uma Poké Ball, tocou na superfície do Pokémon e ele logo foi engolido. Tilintou apenas duas vezes e a captura já havia sido consumada.

– Que reviravolta inesperada de eventos! Isso acabou nos trazendo um novo companheiro. – Disse a treinadora, enquanto Bridgie externava sua felicidade por ele ser o novato da equipe. Ela havia gostado mesmo desse fato e Luna podia reconhecer esse laço de amizade se formando. – Vamos, Argent não está longe. Eu preciso mesmo de roupas novas!

No caminho, Bridgie ainda matutava, imergindo na situação e se perguntando como agiria caso fosse ela naquele lugar, um lugar de impotência, onde ela não pôde fazer nada para salvar seu treinador da lança de gelo, conviver com todo esse sofrimento a cada dia que chegava, defendê-lo com unhas e dentes e ainda ter que lembrar de tudo de bom. Era algo simplesmente muito pesado para apenas um Pokémon, o que despertava uma emoção diferente e bem mais forte na criatura amarelada, que era o suficiente para desencadear uma evolução.

Seu corpo era envolvido por uma forte luz amarelo-amarronzada. Ela aumentava em tamanho, assim como as suas garras nas mãos e nos pés e os vários espinhos em suas costas. Era agora, uma Sandslash.


– Opa?! – Surpreendeu-se. – Não imaginei que isso aconteceria agora. Vem cá, me dá um abraço. Estou muito orgulhosa de você por esses dias. Obrigada por estar no meu time.

Emoções à parte, agora elas realmente podiam seguir em frente até Argent, onde Luna deveria chegar antes da caída da noite, que não estava tão longe assim de acontecer...

• Antecipei o post apenas por praticidade, pois já sabia que ela iria ganhar os níveis.
  
• Sandshrew evoluiu para Sandslash e aprendeu Crush Claw no lugar de Sand Attack.
  
• Pode trancar e me dar os despojos.
  

Atualização

Luna

No início eu fiquei "Nossa que sapão! Eu nunca tinha visto uma coisa dessas na minha vida", mas depois eu fiquei "Sadness_and_sorrow_naruto_ost.mp3". Parabéns pelo trabalho.