III - Mão Amiga

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Saímos de Geonite no anoitecer como combinado, acompanhava meu bom e velho amigo de infância Napa Aiolos, mais conhecido como Scar, durante a sua empreitada de trabalho. Acontece que com a chegada do outono vem os períodos de chuva e essa por ser uma região naturalmente quente devido a proximidade com o vulcão, nas estações frias é muito comum haver tempestades de raios e o um dos vários ofícios rurais do Scar depende disso. Prometi ajudá-lo a recarregar o seu bando de Magnemites, estes pokémon são usados para armazenar a energia drenada dos raios, feito isso a reserva é distribuída em regiões onde há queda de energia constante, um infortúnio também corriqueiro nessa época do ano.


— Veja só! Parece que ela está chegando... — Anunciei, apontando para a direção norte. Lá estava mais do que nublado, havia nuvens tão escuras que botavam medo. A trovoada ecoando ao longe denunciava a força daquela tempestade que estava por vir. As rajadas de vento levantavam a areia das zonas desérticas, alguns pokémon locais simplesmente fugiam do caos ou buscavam abrigo o mais rápido possível em buracos ou cavernas expostas nos rochedos ao longo da paisagem. Era uma loucura sem precedentes, estávamos mesmo indo para o "olho" da tempestade? Felizmente a carroça em questão foi projetada especialmente para o transporte em ocasiões como essa, e a montaria que nos guiava também, era um par de Zebstrikas bem aprumados e inteligentes.

— Está com medo, grandão? Hahaha — Caçoou Scar percebendo algum tom de insegurança na minha voz. — Se estiver pode vim que dou colinho... hahahahaha — Continuou.
— Deixa disso! Já enfrentei Jinn piores que essa tempestadezinha ai! — É mentira, mas não deixaria ele tirar sarro de mim tão facilmente. — Pode deixar! Se nada der certo é no teu colo onde eu vou me refugiar. Fique tranquilo! HAAHAAAHAA — Fui na onda. Uma gozação entre amigos íntimos, normal. É saudável para quebrar a tensão.

Quando chegamos próximo ao ponto determinado ajudei ele a liberar os mais de trinta Magnemite, cada um em sua respectiva Repeat Ball. As criaturas de fato reagiam como um rebanho, todas se conheciam e se cooperavam, além deles tinha outros dois personagens que desempenham papéis importantes nesse serviço, são eles Manectric e Electrike. O canino azulado eu tive o prazer de conhecer agora, era sério e centrado no seu trabalho, já o verdinho... Foi contra ele que eu batalhei lá em Geonite, o pequeno ainda me estranhava um pouco cheirando e latindo ocasionalmente. Ambos possuem a função de coordenar os rebanhos e mantê-los organizados, eram como se fossem cães pastoreios; além é claro, suas habilidades atraíam os raios com facilidade, desse modo os Magnemite só precisam segui-los. Scar realmente pensou em tudo! Não é a toa que é reconhecido por essas bandas.

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Desafios

Escolha dois dos quatro desafios

Aquelas duas Cacnea me encaravam com muito deboche, ambas pareciam estar dispostas a nos expulsar dali a qualquer custo, só que a tempestade logo chegaria aqui e Scar já estava pronto para recebê-la com o seu rebanho, como eu tenho a vantagem com o Heatmor ele me pediu que eu cuidasse desse infortúnio. Está confuso? Então vou resumir para você. Íamos em direção ao olho da tempestade quando de repente fomos surpreendidos não por uma, mas sim duas Cacneas que, aparentemente, estão "protegendo" o seu território. O que é incomum, pois essa espécie não costuma ficar fixa num ambiente só, são como nômades, principalmente à noite.


— São muito desaforadas mesmo, viu... Siegar, está pronto? — É lógico que ele estava. Toda aquela tensão pré tempestade deixava-o aceso. As adversárias, no entanto, pareciam não se importar com o inimigo estando em vantagem, nesse sentido ambas combinaram de atacar simultaneamente para desarmá-lo, vieram para cima preparando um Needle Arm cada. — Incinerate! — Rapidamente o tamanduá lançou uma crescente de bolas de fogo sobre as duas antes mesmo que chegassem até ele, os danos foram logicamente graves.

Após se apoiarem, a dupla de Grass-Type se entreolhou, estavam tramando algo que só elas duas poderiam entender, mas não sou eu quem vou deixar esse plano fluir, hm? Ordenei logo outra leva do Incinerate para terminar o combate o mais rápido possível, só que dessa vez apenas uma delas foi atingida, a outra conseguiu evadir utilizando a sua amiga como escudo e distração, não obstante, encontrava uma brecha para disparar uma semente contra o seu adversário do tipo fogo, era um Leech Seed pronto para entrar em ação. Enquanto a erva drenava ocasionalmente a energia do Heatmor, a outra Cacnea atingida lançava suas raízes ao solo para buscar nutrientes que possam revigorá-la, um clássico Ingrain.

— Ah, então essa é a estratégia das duas? Pois bem, deve ter um jeito de quebrar isso... — Comentei alisando a barba e pensando numa solução. — Já sei! Siegar, use o seu Hone Claws para partir as vinhas da semente! Em seguida, Fire Spin!

Uma tática capciosa, diga-se de passagem. Heatmor afiou precisamente suas garras e dilacerou as vinhas que dominavam o seu corpo, mas devo dizer que esse aqui é um caso a parte, por serem selvagens o movimento Leech Seed dessas Cacneas não é tão resistente assim, caso fossem treinadas nem mesmo os arranhões poderiam cortá-las tão fácil. Vendo que o oponente estava livre da armadilha, a Cacnea que lhe lançou o truque previamente, agora bufava em reprovação e aumentava o seu poder de ataque através do Growth, não obstante, a outra Cacnea presa às suas raízes deu um jeito de dali mesmo disparar uma sequência de Poison Stings que foram liquidados pelas chamas do Fire Spin, pegando-a de surpresa. No fim do ato, tanto as plantas quanto o tamanduá se encararam em fúria.

— Acabe com isso, Siegar! Incinerate! — Apressei. Os ventos começavam a ficar mais fortes que antes, a tempestade de raios estava chegando...
— Ei grandão, estou indo na frente! Nos vemos lá! — Alertou Scar partindo para a direção norte com o seu bando.

Sob a pressão de terminar logo, Heatmor sugou o máximo de ar possível dos orifícios de sua cauda para dar gás às chamas do seu interior, desse modo o Incinerate lançado não foi só uma mera crescente e sim uma única e poderosa bola de fogo. A primeira Cacnea foi mais ativa que a outra agarrada às raízes e conseguiu evadir por muito pouco, já a sua amiga não; além de estar presa ao Ingrain, tudo o que ela recuperava com o movimento, perdia em seguida pelos efeitos do Fire Spin, desse modo, bastou esse Incinerate para nocauteá-la de vez. Uma já foi, resta a outra. A remanescente ao ver que sua amiga foi liquidada desferia um Payback sobre Heatmor causando algum dano considerável, graças ao acréscimo do Growth. — Ora, ainda restou uma?! Use Incinerate nessa dai! — Ordenei novamente apressado; Scar já não podia ser mais visto no horizonte nublado.

Um último round instaurou-se com a colisão entre o movimento do tipo fogo e o Needle Arm da Cacnea faceira. O resultado não deu outro, o poder de ataque dela não se sobrepôs ao do tamanduá dando-lhe a vitória no final. Antes que eu seguisse meu rumo parei para avaliar o ambiente... Era só o deserto como conhecíamos, mas tinha algo a mais e talvez fosse isso que elas estivessem "protegendo". Durante o combate podia jurar ter visto uma luz saindo de uma fissura no paredão de rochas ao leste dali, mesmo assim ainda era um perímetro distante para a guarda das Cacnea. — Que estranho... — Concluí em pensamento. Deixaria para investigar depois, por hora tinha que alcançar o Scar que a essa altura já estava no olho da tempestade.



Um par de olhos resplandecidos por um intenso brilho em meio a obscuridade da fenda parecia observar a dupla de homens fortes a todo instante, desapercebido. Que tipo de criatura seria? Estariam as Cacnea envolvidas? ...

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Após derrotar a dupla de Cacneas atrevidas quilômetros atrás, fui de encontro a Scar no que seria o "olho da tempestade" e de fato estava muito caótico aqui, em contrapartida ele aproveitava muito bem a atração dos raios pelo Lightning Rod dos seus pokémon para alimentar o rebanho de Magnemite. Uma noite bastante lucrativa, diria, se não fosse pelo horror que a tempestade causava ao ambiente... a começar pelas nuvens escuras e avermelhadas cobrindo todo o céu do deserto, inúmeros raios sendo forçadamente puxados pelo Manectric e Electrike, toda a força magnética do bando de Magnemites, felizmente eram resistentes o bastante para aguentar a força dos ventos. Já eu? Bem, preferi ficar de fora da zona de perigo da eletricidade e só observar, mas confesso que era desesperador.

— Caramba... só mesmo o Scar para aguentar tudo isso... — Pontuei, fitando o moreno forte no horizonte coordenando muito bem o seu ofício. Sorri de canto por um momento, mas logo minha atenção voltava-se para as criaturas que ocasionalmente atravessavam o campo afim de se refugiar da tempestade. Uma delas corria tão depressa e com tanto medo que sequer olhava o que tinha a sua frente, fui surpreendido pela sua colisão repentina. — Ei! Calma ai amigão! — Só que, movido pelo medo, o Numel não notava a minha resposta branda e reagia com hostilidade; normal.


O pequeno pokémon camelo ainda jazia com os olhos fechados agindo às cegas receando ver qual era o seu obstáculo durante a fuga, nesse sentido liberou de sua boca uma bola de fogo de disparo rápido como um canhão, a julgar pelas características tratava-se de um Flame Burst. Siegar estava comigo na hora, felizmente o tamanduá absorveu a investida com a sua habilidade Flash Fire e revidou o ataque com uma sequência de Fury Swipes.

— Ah não Siegar, não pegue tão pesado assim... Ele só está com medo! — Adverti. E de fato, Numel estava com muito medo mesmo. Negava-se a abrir os olhos, retraía-se com o clarão dos raios, agitava-se com o barulho dos trovões e estava claramente incomodado com a ventania. Sua resposta desesperadora pra tudo foi, a princípio, usar Curse involuntariamente na tentativa de se manter mais seguro, em seguida batia com as patinhas no chão de areia denunciando o uso do Earth Power. Atos que me fizeram intervir grosseiramente, antes que ele causasse maiores danos. — Siegar, Snacth seguido de Fury Swipes!

Quando Numel iniciou a tática do Curse, Heatmor rapidamente interferia o uso furtando o procedimento do movimento através do Snacth, um truque capcioso que fazia os olhos do tamanduá brilharem num tom rubro. Agora era ele quem aumentava seu poder de ataque e defesa, por outro lado, sua velocidade ficava comprometida. Seguindo o instinto, Numel avançava com Earth Power, o ataque rompia o solo abaixo do tamanduá causando danos severos, mas logo após a recuperação ele desferia o Fury Swipes como desejado, uma longa sequência punitiva que deixou o oponente medroso bem cansado.

— Mesmo levando uma surra ele se nega abrir os olhos. Está com tanto medo, porém, isso tem lhe deixado mais forte e perseverante... — Minha análise particular sobre o desempenho daquele pokémon, certamente que havia um talento ali e eu pude enxergar isso. Seria um possível novo candidato para o meu time? Se antes eu não pretendia nada, agora minha intenção mudou. — Finalize isso Siegar! Mais Fury Swipes!

No ímpeto da confusão entre o medo e a perseverança, o pokémon Ground-Type entregou-se a uma estratégia inútil para o combate, mas útil para o seu estado mental e espiritual, ele usou um Amnesia. Tal ação lhe deixou com a guarda física baixa para as investidas do Heatmor, e apesar dos danos terem deixado o camelo visivelmente debilitado, o mesmo pareceu não se importar com a intensidade da dor após o anestésico Amnesia... algo bem estranho inclusive. Eis que finalmente ele abre os olhos lentamente e entrega-se a fadiga.

— Siegar, afaste-se... — Pedi, trazendo uma Pokéball em mãos. — Você é meu, Numel! — Lancei sobre o corpo amarelo e rechonchudo dele. A esfera fez o procedimento comum de recolhida, em seguida realizava a efetiva captura do mesmo. Certamente que aquele Numel precisava ser trabalhado em suas inseguranças para salientar todo o seu talento e capacidade; e serei eu a fazer isso!


A tempestade daquela noite passava, afinal. A madrugada foi mais tranquila e a previsão é de que mais tempestades como a de ontem venham a acontecer hoje no mesmo horário. Scar e eu dormimos na carroça que também foi projetada para ser confortável e acolhedora. Relembramos momentos em que, quando jovens, vínhamos para o deserto para observar as estrelas nos rochedos acima, infelizmente naquela noite não havia a presença delas, mas nós sabíamos de outro jeito que nos faria ver estrelas, hm... O moreno deslizou sua mão abaixo da cintura, apalpou a bermuda e em seguida tirou do bolso um pacote quadricular. Olhei pra ele, ele olhou pra mim, ambos querendo a mesma coisa.

A fumaça da erva imprensada subia vagarosamente pelo céu, tinha um odor característico. Era ela o conteúdo do tal pacote. Na época em que éramos adolescentes vínhamos para observar as estrelas e dar um tapa nessa erva tão gostosa que, apesar de não ser proibida em Aurille, ainda é muito subjugada pelas pessoas, principalmente em famílias conservadoras. Ok, não era o nosso caso... mas é que coisas gostosas como essa pareciam ser muito mais divertidas quando feitas no completo sigilo. Entende? Dali nós compartilhávamos o desejo de reviver momentos nostálgicos e quando o efeito bateu foi gozação a rodo pelo resto da madrugada. O dia seguinte seria certamente um dia mais feliz.

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Um novo dia de outono, uma bela manhã nublada tivemos. Acordamos tarde pois madrugamos e nos demos a esse luxo, ao levantar preparamos um belo café da manhã com direito a frutas frescas e geleias das mesmas, pães fofos e deliciosos produtos laticínios da própria fazenda de Scar; tudo do bom e do melhor! Lógico que nossos pokémon não ficaram de fora, a eles foi dado uma ração especial, cem porcento natural também produzido na fazenda. Numel e Heatmor ainda não estavam tão próximos, também não forçaria esse momento, sei que apliquei uma Potion em cada para sarar as feridas do último combate, em breve estariam ótimos.

Na rodovia principal, colegas de Scar atravessavam com suas respectivas carroças e rebanhos, cumprimentavam-nos à distância, oferecíamos café mas não ficaram, talvez estivessem com pressa ou só não queriam atrapalhar. Seguiram viagem rumo ao desfiladeiro. Napa me observava com curiosidade enquanto eu cuidava do Numel, o novo integrante comia a ração ligeiramente e depois isolava-se num canto para repousar. Napa riu: — Preguiçoso igual ao dono! Haha — Disparou. Não sei se concordo ou discordo, o fato é que mais dias, menos dias esse Numel teria que deixar a sua postura pouco produtiva e explorar o lado mais empenhado que expôs naquela batalha.

— Uhm... Scar, o que acha de um treino? — Assim repentinamente soltei o convite. Meu amigo parou para pensar por um momento, é possível que estivesse se lembrando do nosso último confronto que não foi tão linear assim, mas concordou.
— É, pode ser sim. — Foi para a carroça, remexeu algumas bolsas e retornou convicto de sua nova aquisição. — Só que dessa vez estaremos balanceados, ou por ai... — Com a fala ele liberou o pokémon contido naquela Quick Ball. Era um Maractus.
— Um Maractus?! Quando foi que-...
— Ah ha! Você não é o único com surpresas aqui, Yasuf! Essa eu peguei ontem a noite enquanto você enfrentava as Cacneas, eu acho... — Pausou. — Na real ela tem algo que me interessa muito hehe. E então, vai usar o seu Numel ou nem?

A intimação foi feita. Para o combate ser justo ambos usaríamos os recém chegados ao time. Me aproximei de Numel que me recebia com um olhar de curiosidade provavelmente já prevendo o meu pedido, coloquei sobre ele o pingente com a Lucky Egg, esse item certamente ajudaria no seu crescimento assim como ajudou o Siegar. Dei-lhe com um tapa brando na traseira para que estivesse pronto, o pequeno com toda a sua calma se levantou e disparou um olhar desmotivado sobre a dupla adversária.

Sem aviso prévio a batalha tinha começado...


— Mesmo que tenha a vantagem, dessa vez eu não vou perder. Maractus, comece usando um Acupressure seguido de Needle Arm! — O moreno era ligeiro em seus comandos, dava pra ver que ele estava determinado a ter a sua revanche.
— Numel, Flame Burst! — Respondi à altura.

O pokémon cacto espetou um de seus espinhos num lugar específico de seus membros inferiores, tal tática lhe proveu maior velocidade nos movimentos seguintes, como foi demonstrado pela execução do Needle Arm. O braço espinhoso dela acertou em cheio o Numel que sequer preocupou-se em evadir ou contra-atacar, inclusive nem mesmo o Flame Burst ele usou com propriedade... a esfera de fogo saiu tão preguiçosa de sua boca que caiu no chão ali mesmo estourando como uma bombinha de festividades.

— O-O quê?!! — Reagi boquiaberto. Scar tentava conter o riso que ocasionalmente escapava-lhe da boca. — Ora Numel, reaja! Eu preciso ver aquela determinação outra vez, vamos!
— Bom, já que o seu não faz nada, o meu fará. Maractus, Acupressure novamente! Depois, Pin Missile! — Concluiu ainda contendo o riso debochado.

Dona da maior velocidade em jogo, Maractus repetiu a façanha do Acupressure só que dessa vez ela espetava a agulha em seus braços de modo que seu poder de ataque ficasse maior, nesse sentido, os inúmeros espinhos do movimento seguinte causavam um dano consideravelmente relevante, ainda que não fosse super eficaz. Numel recebia tudo e bocejava por fim mantendo a mesma feição palerma de antes.

— Ah não, ele só pode estar brincando comigo!!! — Bufei. — Olha aqui Numel, não me faça trovejar mais que aquela tempestade, viu?!
No entanto, o bicho sequer ligou para o sermão. Scar se divertia com a situação, parecia que a vitória desejada estava mais perto do que ele podia imaginar, e mais, seria extremamente fácil.
— O que posso dizer... Dessa vez o Yasuf como especialista não deu muito certo... HAHAHAAHAHA.

Não era para levar a sério, mas o que ele dizia tinha um fundo de verdade... e se eu não for realmente tão bom quanto pensava? Heatmor sempre foi meu companheiro, nunca houve espaço para mais um... Será que caí no comodismo da competência dele? Não, não! Tinha que me livrar desses pensamentos! Pois, assim como os humanos, os pokémon também tinham sentimentos e personalidades diversas, Numel não é um atrevido, ele só não se sente pronto... eu tenho que respeitar. Desse modo, cessei qualquer comando e deixei o pokémon por conta própria.

— Tudo bem... Maractus vamos acabar com isso. Use o Giga Drain!

A grass-type saltava sobre o adversário e lançava de seus braços um feixe de luz rubra que sugava a energia do Numel e convertia em nutrientes para si mesma. Durante a execução e após perceber que me calei, Numel subitamente assumiu uma feição mais encorajada e no ímpeto do momento disparou sem avisar um grande e poderoso Lava Plume. O ataque pegava Maractus de surpresa visto que jazia acima de si e toda aquela rajada de fogo e lava saiu da corcunda dele. Não foi só um movimento super eficaz, como também crítico, e como se não bastasse ainda lhe deixou queimada. Com tantos somatórios assim, Maractus fadigou perante as circunstâncias e ficou fora de combate num único golpe. Foi realmente um nocaute e ninguém esperava por essa...

— E-eu não posso acreditar nisso... — Balbuciou Scar, desolado.
— Ne-nem eu... — Assenti abobado também.

Após garantir a vitória, Numel voltava tranquilamente ao seu estado de sonolência num canto isolado esperando não ser incomodado novamente. Quanto a Maractus? Napa a recolhia de volta para a Quick Ball para que ela pudesse descansar. Sei que o resto da manhã inteira ficamos perplexos com o resultado repentino da batalha, ficávamos mudo um com o outro, fazíamos ações impensadas, ficamos com o pensamento tão vago que agíamos praticamente como robôs, e claro, não ousávamos nos aproximar do Numel. E arriscar interromper o seu sono? Nem pensar! Essa característica teimosa e impulsiva me fez lembrar um pouco o Napa quando adolescente.

— Sabe de uma? — Pausei enquanto dava um gole na caneca com água. — Acho que vou chamá-lo de Napa...
— "BPHHHHSH!!!" — Scar imediatamente cuspiu toda a água que tinha bebido. — É O QUÊ?!
— É uma homenagem, oras! E eu venci a batalha, não tem direito de reclamar não!
Já começava a me vangloriar sem causas quando todo o mérito tinha sido somente do Numel. Embora tivesse ficado surpreso, Scar não ficava incomodado com a escolha do apelido, suas bochechas pouco coradas entregavam isso.
— Ah é né? Pois muito bem... Deixe eu capturar um Trubbish e colocar o seu nome nele...

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Durante a tarde descansamos um pouco e nos deslocamos para o próximo ponto das tempestades elétricas que estavam previstas para além do desfiladeiro. O trajeto é conhecido por seus altos paredões rochosos e firmes, mas tão firmes que dificilmente há deslizamentos por aqui. A distância entre uma parede e outra era satisfatória e não nos deu a sensação de andar num beco eternamente, o caminho naturalmente cilíndrico possuía seus vários desdobramentos e com eles podemos contemplar a beleza singular de um deserto por vezes tão hostil.

Quando a noite finalmente chegou nos instalamos próximo a entrada de uma caverna famosa por ser um ponto de exploração entre os profissionais do ramo, entretanto, recentemente houve algum alerta de perigo iminente que selou a entrada, é possível ver que há placas e fitas impedindo a passagem. Não por isso... Nossa aventura sequer seria caverna adentro mesmo, mas sim no que estava diante dela: um vasto mar em curvas arenosas, as dunas da rota 13. Paramos a carroça, liberamos o bando de Magnemites, Manectric e Electrike romperam a dianteira guiando o rebanho metálico, Scar iria após terminar de mimar o Zebstrika que regia nosso transporte; quanto a mim? Estava na companhia de Siegar e Numel, o pequeno vulcânico já receava pela tempestade que viria, eu tentava acalmá-lo aplicando sobre sua pele amarelada o último frasco de Potion que tinha para sarar as feridas provocadas pelos espinhos na luta da manhã.

— Relaxe parceiro... é só uma tempestade de raios, você vai ficar bem. — Acariciei os pelos da sua cabeça, em seguida descartei o frasco vazio da Potion utilizada. Enquanto Numel ficava com medo do caos climático, Heatmor parecia apreensivo com alguma coisa, como que estivesse sentindo algo estranho ar, e não era difícil identificar isso, a espécie usava sua língua catalisadora para aferir a temperatura, pressão atmosférica e por ai vai. Siegar estava constantemente expelindo e contraindo o membro flamejante e olhando vagamente para o horizonte ou céu. — No que será que ele está pensando? — Refleti.


A tempestade chegou, Scar já está ativo no seu ofício, mas algo o deixava um tanto incomodado. Quando veio até mim explicou que os raios não pareciam estar sendo atraídos pelo Manectric como antes... Fora que os Magnemites estavam perdendo força, tinha alguma coisa errada; mais uma para a conta. Não tardou para que o canino azulado viesse ao nosso encontro deixando o Electike assumir o comando do bando. Acontece que o Manectric tinha farejado algo suspeito, latia e se expressava de modo a nos convencer a ir na direção apontada, direção essa que, diga-se de passagem, Siegar já estava desconfiado anteriormente: Era no lado oposto ao paredão rochoso da esquerda. Fomos averiguar cautelosamente. Movemos o bando e as outras coisas para o mesmo sentido e quando chegamos no lugar apontado como suspeito, eis que a nossa frente estava um rebanho de Mareeps se alimentando nada mais, nada menos que com toda a eletricidade atraída pelo Manectric e os Magnemite. Mas o incontável número de ovelhas — muito quietas por sinal — ainda não era o fator principal de drenagem dos raios, e sim uma criaturinha no centro delas que girava constantemente como se fosse um...

— Está simulando um gerador! — Sussurrou Scar espreitando a cena junto a mim.
— Shh! — Nessa circunstância era melhor ficar calado e observar. Mas já estava claro, era furto de energia bem abaixo do nosso nariz. — Aquela bola é um gerador?
— Sim e não. Na verdade é um Togedemaru. Ele está girando constantemente para atrair toda a eletricidade do perímetro, tanto dos raios quanto do meu rebanho! É por isso que meus pokémon estão tão fracos... — Impaciente, Scar saía de sua posição furtiva e atrevia-se em meio ao rebanho de Mareeps para saber quem estava por detrás disso tudo.

A resposta não tardaria a chegar.

— Le-Leroy?! — Exclamou o robusto homem espantado com o vetor de tal manobra. — E-Espera ai! Você é o malandro que anda me furtando? Não soube da escala, meu rapaz?! — A essa altura Scar já fechava os punhos e ia pra cima do suposto traidor com fúria. Felizmente fui ligeiro em intervir, no caso foi o Siegar que disparou uma chicotada flamejante entre eles antes que se atracassem.
— Se acalmem e expliquem tudo... — Fui bem brando para tentar mediar o conflito.
— Sem essa de calma, Yasuf! Nós fazendeiros da região de Regin Windfarm fazemos escalas há anos para drenagem de energia elétrica das tempestades. Acontece que NESSA estação e NESSE local, EU quem estou escalado para o ofício, e não esse atrevido ai! — Bufou mais uma vez, pude jurar que vi uma tentativa de soco saindo dali. Leroy sequer respondia às acusações, mantinha-se calmo como quem não tivesse culpa de nada. Bom, quem cala, consente. Leroy era um exímio traidor.

Depois dos disparos de acusação por parte de Napa Aiolos, Leroy finalmente abria o bico e esbanjava boçalidade no seu tom de fala. Ouvimos ele do início ao fim e pude constatar o quão desagradável ele era. O homem estava literalmente querendo causar prejuízo ao parceiro de ofício, um mau-caratismo sem precedentes, diria. Ainda concluiu dizendo que não ia retirar seu rebanho dali, nem mesmo uma escala de trabalho poderia fazê-lo recuar. Pois bem, entendemos que pessoas assim devem ser tratadas na marra... Mas violência não nos levaria a canto nenhum, afinal. Consegui impedir Scar de dar uma surra nele, em contrapartida lancei-lhe um ultimato: — Vamos decidir isso numa batalha, está bem? — Algo normal para a nossa realidade, contudo, a batalha teria um fundo de negócios. — Se eu vencer você retira o seu rebanho daqui, mas se você vencer, nós sairemos. De acordo? — Ainda que Scar achasse um absurdo o que eu tinha feito, Leroy por outro lado não teve nenhuma objeção, concordou de imediato e sua expressão era de muita convicção.


O roedor elétrico e bastante energético foi escolhido para me confrontar, enquanto eu chamava por Heatmor para a minha defesa. Estávamos com a vantagem, mas jamais que ficarei convencido por isso, hm. Fomos para um espaço longe das Mareeps, Napa e seu bando estavam num lugar afastado e seguro também; o duelo era entre mim e o traidor. O safado ainda fez questão de acender um cigarro e expelir a fumaça na minha cara... Ah meu caro... Agora fui eu quem tive que conter a raiva de um punho.

— Vamos logo com isso, sim? — Apressei, fitando-o diretamente. — Siegar, quando quiser...

O tamanduá ainda em estado vago livrava-se de sua condição e focava no combate que iniciava. Sendo assim, foi o primeiro a levantar ataque lançando contra o ouriço uma única esfera de fogo do Flame Burst. O elétrico por sua vez conseguiu evadir a mando de seu dono, contudo, uma vez que a esfera colide em alguma coisa, ela explode e sua fagulha afeta a quem quer que esteja próximo, nesse caso não teve como Togedemaru evitar os danos surpresa.

— Golpe baixo! — Reclamou Leroy, que finalmente está se manifestando rs.

Sem aviso prévio, Togedemaru rola de volta e pega Heatmor por trás numa investida com Nuzzle, o movimento de pouco valor mas que causa dor de cabeça com o efeito da paralisia imediata. Os estalos estéticos se sobressaíam ao longo do corpo de Siegar, mas já passamos por isso tantas vezes que já estamos nos acostumando, não é mesmo?! Prossegui a batalha dando mais ordens de ataques do tipo fogo, pois quanto mais rápido findasse isso, melhor. Assim, o tamanduá usou novamente o Flame Burst só que agora ele colidia com o corpo do roedor que estava envolto a muita energia elétrica, vinha como se fosse um cometa com toda a força de um Wild Charge, um movimento potente, mas de alto custo. Ambos sofreram com os danos, principalmente Togedemaru com os impostos do Wild Charge.

— Prenda-o na armadilha do Fire Spin, em seguida avance com Flame Burst outra vez!

A paralisia impedia o uso do Fire Spin e viabilizava o golpe direto de Togedemaru através de um rápido Spark. Pensei, se Numel estivesse nesse combate já teríamos vencido... todavia, o camelo estava com tanto medo da tempestade que mantinha-se acanhado num canto quase imperceptível; tremia a cada estalo dos raios no céu. Não obstante, Flame Burst e Wild Charge se encontravam outra vez e com essa sequência suicida eu pude constatar que o que Leroy tem de mau-caráter, ele tem de péssimo em batalha. O roedor dele já esboçava cansaço, na certa só aguentou o tranco até aqui porque estava recarregado pelos raios. Heatmor levou danos também e está paralisado, mas não transparecia tão exausto assim, pra ser honesto ele sequer parecia estar inteiramente concentrado nisso... estava sempre com a língua pra fora tentando captar alguma coisa e assim divagava. — Siegar está estranho. O que é que tá rolando, hein? — Confesso que já começava a me preocupar. — Foco amigão! Vamos finalizar isso daqui, ok?

— Use o Wish, Togedemaru! — Pontou Leroy.

Então essa era a estratégia? Cansar o pokémon e depender de Wish para revigorá-lo? Mas nem que a Miltank tussa que vou permitir isso! Foi valendo-se da baixa cobertura do elétrico que Heatmor conseguiu finalizá-lo com um último e poderoso Flame Burst, é de fato um movimento que veio para abalar estruturas! Bom, ao menos o pequeno teve a chance de liberar o foco de luz para os céus, só que seu desejo de cura não vai se realizar. A batalha estava encerrada, saía vitorioso sobre Leroy e ele tinha que cumprir com o acordo, ainda que resmungasse muito e me acusasse de ter alterado o resultado. Como? Nem seu sei. Eu lá tenho culpa se ele é ruim de briga?!


Napa estava de volta e ficava contente com o resultado, ainda que o seu orgulho não quisesse me permitir como mediador. O traidor reagrupava o rebanho para se retirar. Numel me observava com um olhar curioso sobre as patinhas dianteiras, eu estava aplicando um frasco do Paralyz Heal sobre o Heatmor, bastou um relâmpago surgir para que o pequeno vulcânico voltasse a se contorcer de medo no seu próprio eixo ali naquele cantinho, isolado de todos. Eu estava satisfeito, embora a minha feição de seriedade não entregasse isso de cara, talvez comemorasse quando visse Leroy partir no horizonte. Que pilantra viu? Detesto esse tipo de gente. Mas bem, minha cabeça dividia a atenção para outra coisa agora... Enquanto passava o conteúdo farmacêutico do Paralyz Heal, notei que Siegar insistia em divagar nos seus próprios instintos, aquilo estava me deixando incomodado, francamente.

— Ah vamos, Siegar! O que está acontecendo, hm? — Indaguei impaciente.
— Está tudo bem, grandão? — Scar, notando minha atitude um tanto grosseira veio me perguntar. — Posso ajudar em alguma coisa?
— Não é isso. Veja... Siegar está estranho já faz um tempo...

O tamanduá continuava com a sua condição suspeita, dessa vez ia além, me ignorava completamente. Sua língua estava mais frenética do que nunca, a chama jazia incandescente como se estivesse transcrevendo seus receios. O olhar que Heatmor me passou transbordava em terror, de repente o via me empurrar para trás e grunhir com força. Resposta hostil ao meu possível atrevimento? Talvez. O fato é que ele estava realmente querendo me alertar sobre alguma coisa, suas expressões, seu zelo, sua preocupação... tudo isso me parecia muito familiar.



Eis que de repente, do alto do precipício do desfiladeiro, uma criatura surge com um único salto sobre o rebanho de Mareeps, esmagando literalmente parte delas. Uma grande fera de hábitos noturnos jazia diante de nós, um monstro que provavelmente já foi o pesadelo de muitos transeuntes desse deserto, só que agora maior, mais forte e visivelmente apavorante. O Terror da Meia-noite anunciava a sua chegada com um uivo tão estridente capaz de instantaneamente recuar algumas das muitas espécies presentes ali em suas respectivas pokéball. As remanescentes contemplavam o lobo feroz de aparência robusta e chamas compelindo majoritariamente todo o corpo abrindo a sua própria temporada de caça. Aquele certamente não era um Lycanroc comum, aquela aberração era de fato...

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[...]Eis que de repente, do alto do precipício do desfiladeiro, uma criatura surge com um único salto sobre o rebanho de Mareeps, esmagando literalmente parte delas. Uma grande fera de hábitos noturnos jazia diante de nós, um monstro que provavelmente já foi o pesadelo de muitos transeuntes desse deserto, só que agora maior, mais forte e visivelmente apavorante. O Terror da Meia-noite anunciava a sua chegada com um uivo tão estridente capaz de instantaneamente recuar algumas das muitas espécies presentes ali em suas respectivas pokéball. As remanescentes contemplavam o lobo feroz de aparência robusta e chamas compelindo majoritariamente todo o corpo abrindo a sua própria temporada de caça. Aquele certamente não era um Lycanroc comum, aquela aberração era de fato...

— Um Jinn!


Estávamos todos ameaçados ali, mais do que nunca procuraria evitar mais perdas do que já estava tendo; Leroy foi o mais prejudicado vendo suas Mareep sendo pisoteadas e comidas à sangue frio pelo grotesco Lycanroc. A criatura possuída por um Jinn prosseguia inquieta, ela nos encarava com seus olhos flamejantes, o sorriso quente estampado na cara evidenciava o seu desatino, estava louco para se alimentar de todos, dilacerar suas carnes e mastigar as entranhas. O clima tempestuoso só colaborava para uma ambientação mais tenebrosa destacando aquela feição dissimulada da fera a cada flash de luz dos relâmpagos. A essa altura Numel já devia estar apavorado com a soma dos fatores.

"Curiosidade: Um Jinn normalmente possui um aspecto flamejante familiar, vez que foram concebidos através do ódio de um antigo lendário senhor dos vulcões. Todavia, o que queima no corpo de um hospedeiro não são chamas de verdade e sim a aura da criatura corrompida. Tal característica pode se manifestar de diversas cores, sendo as mais comuns: Vermelho, amarelo, laranja, azul e verde. Também pode se manifestar por meio de outras texturas, como: Fumaça, fosforescência, eletricidade, entre outros processos derivados de ações ígneas."

— Scar, fuja daqui! Leve os outros e vá para um lugar seguro. — Adverti com muita seriedade. — Eu cuido desse Jinn.

Felizmente Napa entendia e confiava na minha capacidade, não contestou, logo, pegou todos os seus pertences e pokémon, e convidou Leroy a se retirar dali consigo antes que o pior acontecesse. Contudo, o mau-caráter do homem, desolado pela perda gratuita de boa parte do seu rebanho, acusou Scar de ter armado aquilo de algum modo, teimava em não sair enquanto não fosse ressarcido! Foi a brecha que Scar precisava para finalmente desferir um golpe sobre ele e desacordá-lo. — Ah agora sim! Bem melhor! — Carregou o maldito sobre os ombros fortes e largos, em seguida soou um apito que chamava pelo resto das Mareep, bastou elas se moverem em conjunto para atiçar mais ainda a fome do Lycanroc. Era a minha hora...

— Siegar, Junto! — Heatmor colocava-se a minha frente com prontidão e sem nem mesmo pedir já esticava a sua língua dali e, batendo-a contra o chão diante do inimigo, repentinamente prendia-o num rápido Fire Spin evitando que fosse atrás das ovelhas.



O ciclone de fogo aprisionava o lobo como se feitiço fosse, forçando-o a ficar no lugar designado. Com o rebanho evacuado era seguro dar procedência ao combate. Saquei o meu bastão, Siegar sabia exatamente o que fazer e eu só daria comandos quando necessário, desse modo, ambos partimos para cima do pokémon corrompido. Eu tentei correr para atacá-lo na retaguarda, contudo, ele foi mais rápido em me notar, socou o solo arenoso distribuindo uma energia que percorria pelo subsolo até chegar a mim em forma de rochedos pontiagudos que chocavam-se num único encontro, um Rock Tomb. Felizmente pude impedir maiores danos me assegurando num espaço entre as rochas pausadas pelo meu cajado na horizontal. O objeto é bastante resistente, não é a toa que está comigo há tantos anos. Em contrapartida, Heatmor aproveitava a distração do lobo para disparar o Incinerate, golpe que não foi tão efetivo mas que o mínimo de dano é sempre proveitoso em batalhas desse gênero.

— Siegar, como está por ai?! — Indaguei, buscando sair daquela tumba de pedras o mais depressa possível. Quando pude retornar ao campo notei que era Heatmor a vítima do Lycanroc agora. A fera liberava um brado uivante do Howl aumentando em seu nível de ataque, em seguida investia sobre ele com um poderoso Rock Slide. O tamanduá até tentou esquivar, mas aquele solo arenoso não facilitava as suas manobras de velocidade que, diga-se de passagem, não são tão formidáveis assim. — Ah não! Siegar!!! — Me desesperei vendo-o ser atingido pelo deslizamento súbito de pedras sobre si.

O Jinn aproveitava que tanto eu, quanto Heatmor estávamos ocupados com os minerais para se aproximar do seu adversário do tipo fogo e agarrá-lo com suas patas peludas. O tamanduá encarou os olhos flamejantes do Lycanroc, viu-se como uma formiga comparado ao tamanho dele, a fera devia medir por volta de 2,5m por conta da possessão, mesmo assim não se deixou abalar, quando viu a oportunidade não demorou em emplacar outro ataque de fogo, dessa vez um Flame Burst que literalmente explodia na cara do lobo fazendo ele se revoltar e ali mesmo concentrar energias para arremessar Heatmor com o poder mediano do Reversal. Nem o chão de areia do deserto poderia impedir os danos daquela investida, ver aquela cena sem poder fazer nada para interceptá-la me doeu no coração, mas também me deu a força necessária para romper as rochas e sair dali.

— Aguente firme amigão! Estou chegando! — Corri o mais depressa que pude, só que novamente o Lycanroc interrompia o meu trajeto usando a mesma façanha do Rock Tomb, dessa vez fui mais esperto e evitei ficar preso à elas, de todo modo aqueles exemplares me impediam de prosseguir. — Siegar! Lute! — Exclamava na esperança de que ele ainda tivesse forças para lutar. Voltei meu olhar para o ambiente, no horizonte pude ver o Numel em seu isolamento nos observando sem sequer pensar em ajudar. Tudo bem, ele tinha medo da tempestade de raios que castigava os céus, mas uma hora teria que romper sua insegurança e agir antes que algo mais grave aconteça. Cerrei os punhos e franzi o cenho:

— EI NUMEL! ABANDONE ESSE MEDO E LUTE! — Bravejei, o estalo dos raios intercalavam-se com a minha súplica fazendo o animal vulcânico se encolher mais ainda. — NÓS VAMOS MORRER SE VOCÊ NÃO FIZER NADA! QUER MESMO VIVER COM ESSE PESO NA CONSCIÊNCIA, HUH?!

Enquanto tentava convencer Numel, Lycanroc punia ainda mais o tamanduá que, cansado, não conseguia sequer manter a concentração exemplar que sempre teve. Foi num único rugido que o lobo feroz emanou energias ao solo e aprisionou Heatmor na armadilha de Rock Tomb, o movimento fatal que levou o tipo fogo ao desmaio imediato. No fim do ato, Lycanroc ainda sofria com os danos súbitos do Fire Spin, mas que cessavam assim que o seu usuário não ficava mais ativo. Com o alvo completamente inútil, O Terror da Meia-Noite avançava sobre as dunas do deserto, arqueava as mandíbulas e denunciava devorar a sua presa ali mesmo com uma só bocada. Desisti de Numel e me apressei para que Lycanroc não ceifasse a vida do meu fiel parceiro, acredito que nunca dei uma corrida tão rápida quanto essa e consegui desferir a tempo um golpe na lombar do monstro, esse que por um instante cessou a ação das presas e concentrou-se em retribuir os danos que causei através de um Counter. Ele focalizou a energia do impacto num punho e deu-me um soco potente o suficiente para me lançar a distância. Rolei pela areia e parei fragilizado perante ao Numel.

— Si... siegar... — Balbuciei esgotado.

O amarelo pokémon ficou me observando exaurir lentamente, em seguida fitou o Lycanroc que novamente avançava sobre o Heatmor desmaiado. O pequeno olhou para a tempestade, os raios e a ventania não cessavam naquela noite e com a presença caótica do Jinn certamente que não ia se despedir por tão cedo. Avaliando a criticidade do problema, Numel respirou fundo, fechou o cenho e foi se levantando aos poucos. Pelos olhos entreabertos pude ver a sua determinação reacender, ele de fato não iria nos abandonar. De repente seu corpo começou a brilhar intensamente chamando a atenção até da fera lupina, a evolução do Numel só aconteceu graças ao seu ímpeto de coragem; tudo o que ele precisava para deixar o medo de lado era...


Assim o pequeno Numel foi assumindo uma nova forma, maior e mais robusta. O corpulento pokémon possuía dois exemplares vulcânicos em suas corcovas, na fronte da face um par de olhos furiosos entregavam a pretensão direta ao Lycanroc: Que seus dias ali estavam contados. Movido pela raiva e calor do momento, Camerupt levantou suas patas e chocou elas com força no chão demandando energia necessária para que um poderoso Earth Power chegasse ao adversário e contrariasse os seus objetivos. Dito e feito, o solo abaixo dele se abriu e literalmente o desestabilizou de tal modo que sua defensiva fosse abalada. Camerupt deu um brado tão alto quanto os trovões que ecoavam no céu nublado, já Lycanroc respondia com um uivado à mesma altura. Ambos se identificaram como rivais. O lobo abandonou a presa abatida e partiu de encontro ao seu mais novo desafiador, não obstante, Camerupt preparava outro Earth Power fazendo o terreno se romper durante o trajeto do Jinn.

— Vo...cê consegue, Napa... — Encorajava-o tentando me reerguer. Dessa vez deixei claro o seu nome de batismo: Napa. Sempre nomeio os pokémon que realmente merecem reconhecimento e Camerupt não decepcionou afinal.

Lycanroc se levantava com dificuldade ao passo em que o vulcânico executava um Curse silenciosamente e corria em sua direção. O lobo preparava um Bite certeiro que, mesmo envolvendo o lombo do camelo com suas presas não foi capaz de deixar sequer um arranhão; Camerupt estava blindado! Aproveitou o momento para expelir de suas corcovas um Lava Plume, o ataque que foi diretamente para o organismo do Lycanroc fazendo-o recuar de imediato enquanto sofria pelos danos comuns da lava e o castigo momentâneo do fogo. Depois de agonizar por um tempo e ter recebido aquela sequência de ataques, a fragilidade na defesa especial causada pelo Earth Power foi o fator surpresa para liquidar o Lycanroc.

O Terror da Meia-Noite caia por terra.
Camerupt venceu a batalha.

Com muita dificuldade me levantei, assim que soube do resultado levei a minha mão ao peito na intenção de agarrar a Lâmpada Dourada, até apalpar o vazio e perceber que ela já não estava mais sobre o meu domínio, havia perdido os direitos com a Sacerdotisa em Geonite. Partindo desse princípio, eu nada podia fazer com aquele Jinn que já escapava do seu hospedeiro inconsciente e viajaria através do vento para encontrar um novo. Soquei a areia em reprovação, poderia ter sido um Jinn a menos... Mas tudo bem, o que importa é que não houve maiores estragos.



Depois de todo o caos a primeira coisa que fiz foi socorrer o Siegar, coloquei imediatamente na Pokéball, ele precisava de cuidados médicos e infelizmente eu não tinha mais itens farmacêuticos. Em seguida agradeci por demais ao Camerupt, mas isso eu só fiz com ele dentro da Pokéball, pois, o grandalhão ainda queria finalizar o Lycanroc mesmo após a vitória. Quanto ao lobo, este ficaria bem... Já não tinha mais sinais de possessão, seu tamanho e outros aspectos voltaram ao normal, só precisava de cuidados médicos assim como o Heatmor. Scar ficou responsável por isso, colocou o lobo na carroça e disse que o levaria para ser tratado em Florence Kingdom.

— Então... Florence Kingdom, hm? — Pesava um pouco o tom ainda sentindo as dores da luta.
— É grandão, as tempestades estão indo para a região do Cliff Valley... — Explicou Scar preparando a carroceria naquela alvorada. Em seguida me olhava com uma feição suspeita, ele conseguia ler meus sentimentos perfeitamente. Éramos de fato muito íntimos. — Você não vem, não é? ...
Voltei minha atenção a si, estava divagando. Acontece que o resultado daquela batalha poderia ter sido melhor se eu ainda fosse um caçador nomeado, só que infelizmente fui destituído por conta da minha incompetência. Refleti o resto da noite sobre isso... ele deve ter notado.
— Tudo bem se não vier. Você tem pendências para resolver, certo? — Pausou. Levou sua mão ao meu queixo e sorriu. — Você não é esse cara ruim que pensa ser, grandão. Vai lá e conquista o que é teu de volta — Finalizou com uma piscadela.

Parece que essa seria a nossa despedida. Devo dizer que foram momentos divertidos juntos, claro que havia muitas lembranças para serem resgatadas, mas pra que a pressa? Certeza que teremos outras oportunidades tão boas quanto essa para nos lançarmos às nostalgias da infância. Com a decisão de ambos veio a despedida. Nos acalentamos com um caloroso abraço que durou no mínimo uns cinco minutos. Os afagos tinham um significado profundo para nós, aquela ela a essência que nunca iria morrer, mesmo com as tempestades no nosso caminho. Scar ajeitou-se na carroça enquanto eu procurava montar no Camerupt; nos cumprimentamos outra vez, assim ele seguiu para o sul e eu para o norte de volta a Geonite. Toda a cerimônia emotiva não era a comprovação de um longo adeus, com o desejo ardente da amizade de um pelo outro, decerto que estava mais para um...

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Um novo dia começava na Rota 13, os eventos da noite passada ficavam para trás embora tanto eu, quanto Camerupt estivéssemos com as sequelas dos nossos esforços. Foi dureza, mas conseguimos. Justo hoje o sol resolveu dar as caras nos castigando com um calor massivo pela manhã, nos forçando a caminhar devagar de volta para Geonite. Não podia apressar o Napa, ele merecia o seu tempo, no entanto, poderíamos nos entreter durante o trajeto utilizando aquele curioso mecanismo do Ride Pager, o Dowsing Machine. Lembro que da última vez encontrei uma Fire Gem com ele... o que me reservava agora, hm? O aparato encaixou-se perfeitamente na fronte do camelo, acionei o dispositivo e continuamos a andar.

Algum tempo depois o troço dava sinais de vida implicando na existência de um item perdido nas proximidades, seguimos a intensidade do sinal até nos depararmos com uma sequência de rochas pontiagudas onde aparentemente o objeto estaria escondido. Não tinha como alcançar à mão, não desse jeito. Já podia ver a luz dourada do artefato, será que é ouro?! Não sei... só atiçou ainda mais a minha curiosidade. Então foi ai que Napa agiu, invocou um de seus Rock Slides afim de esmagar os obstáculos pontiagudos não restando pedra sobre pedra em nosso caminho. Lá estava o item oculto, apressei em resgatá-lo da areia, limpei a poeira do seu exterior e revelou ser uma Lucky Incense, objeto com um certo valor, diria. Nossa sorte já começava a mudar a partir dali quando notei que além do incenso, havia também conteúdos minerais valiosos naquelas pedras rachadas. Que maravilha! Ganhamos o dia com essa, isso eu não tenho dúvida. Feliz com as novas aquisições e sem mais preciosidades ali, seguimos sem pausas rumo a Geonite City.

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