I- O Sussurro do Leste

Tudo por uma Alma III

A lua e as estrelas brecharam pela porta do caminhão e iluminaram a figura da menina encolhida. Leste rodopiou e zuniu conforme o automóvel avançava e, como se instigasse a mulher a saltar de lá, empurrava e puxava seus cabelos brancos. Os corpos celestes se agitaram lá em cima, discordando do vento que ria embaixo. "Que destino cruel" eles diziam, "Tirei de casa para morrer na próxima cidade" ria a brisa… Ou pelo menos, era isso que Heiwas pensava que estava acontecendo.

O baú não estava mais escuro, mas tampouco era claro, com a garota podendo enxergar apenas o céu lá fora e um metro à sua frente. O frio penetrava o metal e colocava as mãos nela com um sorriso tímido enquanto que a fome, mais sutil, estava contente o suficiente em apenas sentar ali e vê-la morrer e, Deus, era isso, não era? Se não morresse aqui os capangas do Team Eclipse com certeza a mataria em seu ponto de encontro. Ele só não fez isso ainda porque deve está muito apressado para lidar com o monstro que carregava ou com o resto que o pokémon Gamman (? Ela ainda não sabe o que é, mas a etiqueta na jaula dizia isso) deixou para trás. Ela quase se arrependeu de ter se levantado da cama hoje.

—Shiinx? —A criatura perguntou, virando a cabeça para o lado em um claro gesto de confusão.

—Sinto muito.

A garota abaixou a cabeça sobre os braços, joelhos contra o peito. Sua voz era tão pequena e frágil que quebrou um pouco o coração de Solum. O pior de tudo foi ouvi-la se desculpar por algo que não tinha controle. Se desculpar por tentar.

—Shinx! —Ele grunhiu, balançando a cabeça de um lado para o outro tão rápido que já estava ficando enjoado —Shiiii! Shiiii! Shinx shi inx shi!

Explicou. Suas patas bateram embaixo de si, ansiosas e rápidas. O ritmo delas no piso era o único barulho naquele silêncio sufocante.

Tap tap tap tap tap

—Inx —Ele chamou. O felino circulou em volta da mulher duas vezes até que finalmente achou o chaveiro com a pequena pokébola presa na bolsa dela. Era a pokébola que a garota usava para apertar quando ficava estressada e era o que ela precisava agora —Humph!

Heiwas resmungou e sussurrou para si mesma, presa em sua própria cabeça. Tristeza e ansiedade nublando a mente dela, entorpecendo seus sentidos e a trancafiando em um delírio sem fim. Era sua rota de fuga para os tempos difíceis de lidar. Uma fuga que podia levá-los para a morte se não se mexessem logo.

Tap tap tap tap

—Sinto muito por você está preso a alguém como eu —Ela disse depois de alguns minutos, o barulho dos passos sendo mais bem vindo que o som da sua própria voz —Alguém que é patético, inútil e… quebrado…

Tap tap tap

—Estou com medo Sol. Falhei com você no Centro Pokémon e estou falhando com você agora.

Tap tap

—Pensei que essa jornada valeria as nossas vidas… Mas —Seu rosto pálido virou na direção da luz. Olhos dourados vidrados absorvendo toda a beleza da meia lua —Do que adianta correr atrás de algo que não se sabe o que é.

Pelo menos ela conseguiu admitir. O peso pareceu ser tirado de seus ombros finos quando ela se levantou e cambaleou até onde deveria estar à porta —se essa não tivesse sido arrancada com violência. O vento era mais forte ali e ela teve que se agarrar para não ser levada. Shinx continuava em seus pés, batendo com força no chão abaixo dele e produzindo um som sem ritmo ou lógica, entretanto que serviu ao propósito de distrair ambos do que estavam prestes a fazer.

—Minha vida toda pode ter sido um erro! Tudo que Blue me ensinou pode ser uma perda de tempo e meus pais podem estar certos! —Ela gritou para a noite —Talvez fosse um erro ter fugido de casa e talvez saltar de um caminhão em movimento seja a maior burrice que vou fazer na minha vida…

Ela sorriu um sorriso trêmulo —Não há volta pra isso. Tem certeza que não quer voltar para a pokébola?

Shinx grunhiu e faiscou e ela balançou em seus calcanhares, a mão esquerda apertando viciosamente a esfera bicolor. Os olhos estavam mais claro que antes e a adrenalina corria nas suas veias, espalhando o sangue por todo o corpo. Preparou-se para saltar e...

—SHINX!
—Sol!

Algo explodiu o lado do veículo que balançou violentamente, atirando os aventureiros para frente. Heiwas passou os braços envolta do gato azul e curvou-se para protegê-lo da queda iminente. O corpo atingiu a estrada de areia com um baque surdo e continuou a girar e girar até parar imóvel. Heiwas ficou estirada lá, com o Shinx trancado em seus braços e a bolsa presa ao seu lado. A paz durou exatamente quinze segundos até que o tipo elétrico abriu os olhos.

—Shin?!
.
—ShIN?!
..
—SHINX?!
…

Ela não estava respondendo! Não abrindo os olhos nem se mexendo, apenas respirando com dificuldade.

Tap

Ele tentou chamar sua atenção. Tentou puxar sua bolsa e morder levemente a mão. Esfregou a cabeça no rosto, faiscou e gritou, no entanto não havia resposta além da contração das sobrancelhas e o leve tremor que se espalhava pelo corpo da jovem. Também havia sangue, uma fina linha que escorria da cabeça e sujava os cabelos.

—Shii?

Não havia para onde correr. Não havia ajuda chegando. A culpa era dele e ela morreria por isso. Ele que a fez sair, ele a instigou a pular, ele que foi sequestrado e a atraiu para essa armadilha. Era para ele estar no lugar dela.

Lágrimas começaram a pingar no chão, perto da cabeça da adolescente. A estrela na cauda do Shinx iluminava o corpo pálido dos dois, já que uma nuvem pareceu esconder todas as outras estrelas.

Sozinho pela primeira vez, ele chorou. Chorou e lembrou-se das histórias que Heiwas contara para ele. De como, há muito tempo, uma mulher saiu de sua casa para explorar o norte gelado e fazer um nome para si. Lembrou-se de sonhar com ela em seguir os passos daquela mulher, em ser mais do que um fardo paras aqueles que o rodeavam. Ser forte como um herói, o herói dela.

—Shinx! —Disparou um raio contra o céu. O azul cortou o ar, jogando luz para todo o lado. Ele não ia desistir! —ShiINXXX!

Raio atrás de raio cruzou o céu. Sem pausa, um atrás do outro, como um farol que brilha sem cessar. Estava gastando toda a energia dele, no entanto ele não poderia dar o mínimo para a falta de fôlego. Heiwas tinha que sobreviver! Ele iria salvá-la!

O esforço não foi em vão quando dois pequenos olhos pretos reluziram no mato ao lado da estrada. Uma cabeça oval e azul cutucou a grama alta e um sorriso fino e largo chamou a atenção do gato.

—Woooper —A criatura gritou, cambaleante como um bêbado. Ela tombou a cabeça no chão e arrastou pela areia, empurrando-se com pequenos pés azuis e uma cauda chata.

A salamandra sem braço aproximou-se do outro e Sol ficou, instintivamente, tenso com a nova presença. Wooper, porém, parecia divertida quando se esfregou contra o tipo elétrico e via a eletricidade se apressar nas partes amarelas dos pokémon.

—Woooo —Sorriu, com olhos brilhando para a nova descoberta.

—Shinx shinx shinx —Solum disse, socando o chão com a pata antes de apontar para a pesquisadora caída.

O tipo água não entendeu a princípio, embora mudasse a atenção para a humana. Ela não os via muito por aqui, já que a rota 5 era pouco popular e o número de pessoas que moravam em Lakeside era muito pequeno.

Fascinante!

Tinha quatro membros e cabelos longos. Não era muito alta? Humm… Estava ferida. Muito ferida. Não respirava direito e sangrava. O sorriso do Wooper virou 180° graus.

—Wooo wooo!

A fêmea exclamou e fugiu para o mato, escapando assustada de lá. Os minutos se arrastaram depois da sua ida e a esperança pareceu minguar, escorrendo por algum ralo imaginário. Solum deitou-se do lado de Heiwas e esperou. O que ele esperou?

Bem, os pessimistas diriam que seria a morte ou o sono. Talvez ele pensasse que se dormisse tudo seria apenas um sonho quando acordasse pela manhã.
Os mais otimistas diriam que ele estava esperando a garota acordar, como se os arranhões e corte provocados pela queda não fosse nada comparada a força de vontade da pesquisadora.

A verdade era que Sol não esperou, mas confiou que a pokémon voltaria. E voltar foi o que ela fez, trazendo uma fila de Quagsires e Woopers com ela. Havia dois Hoothoot que lideravam o caminho com Foresight, usando as luzes vermelhas de seus olhos para espantar a escuridão. Toda a equipe de resgate trabalhou em conjunto, murmurando e zumbindo uns para os outros. Os maiores suspenderam as pernas e os braços e os menores agiram como uma espécie de maca.

—Wooper per per! —A pequena gritou e se virou para marchar, ainda cambaleante como antes. Shinx seguiu com uma mistura de angústia e preocupação. Uma pergunta, entretanto, ficou por ser feita.

O que diabos atacou o caminhão?


Quando Roselia resolveu morar perto do lago não foi por opção. Ela ainda era uma jovem Budew quando pôs os olhos em um wooper. Ele era o mais legal e O mais desajeitado pokémon que tinha visto e…O único que ganhou seu coração. Mas então ele evoluiu e ela cresceu e um treinador atravessou a grama alta com um Charizard ao reboque. Doeu vê-lo partir, vê-lo ser capturado por aquelas horríveis esferas rubras e não poder segui-lo como ela fazia quando eram mais jovens. Eles o levaram embora e ela passou, a partir daquele dia, todas as primaveras sozinha, esperando seu amado voltar. Ela prometeu que ficaria com os outros Quagsires e os ajudaria em tudo que precisassem. Ela só não esperou que sua promessa fosse tão difícil de cumprir.

Foi um Wooper que trouxe uma daquelas bolas horríveis e colocou aos seus pés, explicando que deveria vir ajudar. Claro, ela negou. Não queria nada com os monstros de duas pernas e todos sabiam disso. Toda a maldita população de pokémon dali sabia que Roselia curaria todo mundo menos aqueles-que-vivem-na-grama-baixa. Woopers, porém, eram ou muito idiotas para compreender isso ou muito amáveis para tentar.

"Os dois" pensou amargamente "Definitivamente os dois"

Mas se isso era verdade, e era, então ela deveria ser ainda mais idiota e burra por se arrepender de sua decisão e correr atrás da salamandra de água. Ela se arrependeria disso, disse para si mesmo.

Tanto o time de resgate quanto a curadora se encontraram na metade do caminho. As árvores eram altas e o rio começava a dar vida à distância. O ninho de Roselia ficava há algumas centenas de metros, à direita, depois do pico da lua onde os Umbreons uivavam e os Lombres se juntavam para festejar. A humana não aguentaria a viagem, então a flor precisava começar logo.
Os outros formaram um círculo com a jovem no meio. Shinx ficou atento ao lado dela, olhos vigilantes no tipo planta que fechava os olhos e deixava que um aroma doce saísse das rosas de seus braços. Os Woopers cantaram em conjunto, harmoniosamente, como se fossem um, fazendo a melodia correr entre eles como uma espécie de brincadeira/ encantamento. Solum ficou aliviado e tocado com a ajuda que estava recebendo, embora o alívio não durou muito.

Swish. Bam!

—Quagsire!
—Hoooo!

Uma esfera roxa atingiu uma árvore, torando-a no meio. Os pokémon se agitaram e formaram uma barreira na frente do humano ferido. O desconhecido sibilou escondido pelas sombras, o som agoniante ecoou, vibrando no peito de Shinx que saiu para a defesa de sua parceira. Os outros ficaram intimidados pela aura predatória do novo oponente e não se mexeram da onde estavam, contudo uma Wooper — a mesma que tinha liderado o resgate — fosse corajosa o suficiente para se colocar do lado do tipo elétrico.

Olharam-se longamente. A boneca de pano com olhos na barriga, a salamandra bêbada e o gato estelar. Quem diria que Roselia veria algo tão louco em um lugar tão pacato e tudo isso por causa de um humano. “Definitivamente idiotas" pensou "É melhor que vençam..."

Então eles atacaram...



Eles circularam uns aos outros: Shinx sondando o terreno, pensando em como poderia usar o tronco caído, as árvores e as pedras para ganhar alguma vantagem sobre o inimigo. Wooper, por outro lado, não parecia preocupada com estratégia ou qualquer outra coisa além do Mimikyu macabro que se movia de um lado para o outro.

O tipo dark concentrou energia na frente de sua suposta boca e formou uma esfera do tamanho de uma bola de boliche. Shinx reconheceu aquele ataque e ficou surpreso ao encontrar outro pokémon que também podia usar Shadow Ball. O tipo água, entretanto, não perdeu tempo e contra atacou com Mud Shot, estufando o peito e disparando um conjunto de bolas de lama. Os dois ataques se encontraram e explodiram em uma nuvem de poeira roxa e marrom.
Eles recuaram com Shinx usando o Charge e Mimikyu se multiplicando, aumentando em número e cercando os outros dois.


A cauda preta e deformada da cópia malfeita do pikachu começou a brilhar, tomando todos os tons de roxo escuro até que uma escuridão crescesse. Todas as vinte duplicatas avançaram contra eles enquanto que Shinx tomava a frente de sua companheira e disparava raios para todos os lados, acertando e destruindo as cópias, contudo nem sequer tocando o original que caiu sobre eles com um rosnado.
Wooper tomou alguns pés para trás e disparou um jato d’água contra o lado do Mimikyu, jogando-o longe do Shinx e impedindo-o de ferir o gato.


Revoltado por ter perdido sua presa e irritado por estar levando tanto tempo para matar dois simples filhotes, levantou-se com fúria e correu com as garras para fora, pronto para um Scratch. Wooper, mais uma vez, tendo o tempo perfeito de reação, saltou sobre o fairy type, deixando as garras maldosas passarem por baixo dela, e girando para acertar com a calda a cabeça do boneco que se achatou sobre a pressão do Slam.

—Woooper!

Uma sombra rapidamente engolfou a salamandra. Grande como era, foi o suficiente para trancá-la na completa escuridão e usar seus braços afiados para cortar a carne macia do filhote. Solum veio em seu socorro com outro Spark, ferindo as sombras com sua luz azul e libertando a fêmea do aperto mortal.

—Shinx? —Perguntou, protegendo-a com seu corpo.
—Ooooper per! —Ela concordou.


Outro Shadow Ball veio na direção deles e Shinx levou o dano para dar tempo da Wooper se aproximar do inimigo e atacar com um poderoso Water Gun.
O dano foi bom —todos podiam ver o jeito que Mimikyu fraquejou —, porém não era o suficiente. Aquilo era um pokémon mais forte que o normal, algo não natural. Ele não seria derrubado assim.
E como para provar esse pensamento, Sol avançou com um Tackle só para ser preso pelas garras medonhas da fera e atirado em uma árvore. Mimikyu se aproximou dele, gritando aquele som horrível e fazendo os olhos da sua barriga brilharem maliciosamente. Ele preparou-se para matar com o Wood Hammer…

—Wooper! —De repente vários jatos d’água atingiram o Gamma de vários ângulos. Todos os Quagsires e Woopers saíram do círculo para ajudá-los. Não foi preciso muito, depois disso, para fazer a besta desmaiar.



Sol correu de volta para a pesquisadora, apenas no tempo de vê-la abrir os olhos. Ele nunca antes ficou tão aliviado em ver algo na sua vida.

Heiwas estava grogue quando se sentou, a mão segurando a ferida. Shinx se lançou em seus braços e esfregou a cabeça em seu peito, sentindo o cheiro característico da garota — algo entre caramelo e pinheiro. Ele estava chorando de novo no conforto de seus braços, sentindo o ritmo do coração dela e a respiração curta e ofegante.

—Shinx! —Ele gritou feliz, sorrindo em seu abraço.

—Obrigada —Ela respirou em seu pelo —Você me salvou, Sol.

Ele discordou disso, mas aquela não era hora de discutir; não com Heiwas assim. Ao invés disso ele apenas gritou mais alto e riu com sua amiga e parceira. "Não foi um erro", ele quiz dizer, "você está bem. Nós estamos bem".

"Por enquanto…" sussurrou o Leste, rodopiando acima de suas cabeças e agitando as árvores "Por enquanto…".

Cacos de um Segredo

Wooper era estranha. Muito estranha.

O tipo água vivia cambaleando, como se estivesse bêbada, e isso, por si só, era inquietante. Ela também tendia a se jogar no chão e girar, dando cambalhotas, mortais e todo o tipo de coisa que envolvia rodar ou rastejar pela areia. E então havia a mania de atirar coisas nas copas das árvores com o Water Gun. Heiwas já vira esse comportamento antes, mas sempre em lagos e com objetos pequenos ou/ e brilhantes. Nunca com algo grande como pedras e troncos — e a menina estaria mentindo se dissesse que não estava impressionada com a quantidade de força que a anfíbia tinha. Entretanto, o comportamento mais estranho do tipo ground era a constante curiosidade escondida debaixo daquela capa de estupidez.

Wooper era estranha. Heiwas também.

As duas chegaram à estrada naquela manhã. Após ter passado a noite ao relento e ter comido alguma-coisa-não-identificável a garota se despediu de sua equipe de resgate e agradeceu profusamente tudo que fora feito por ela. Claro, ela não conseguiu falar, como sempre, mas é a intenção que conta. Agora, com seu Shinx dormindo em sua bolsa, ela estava pronta para partir.

—Eu não entendo porque você insiste em me seguir —A menina falou com o rosto em branco —Não está se beneficiando em nada com minha companhia.

—Woooo —Ela respondeu e balançou a cauda, seus dentes travados na parte de baixo da bolsa.

—Tudo que está fazendo é estragar minha bolsa. Você não virá comigo. Não faz sentido querer deixar tudo que se conhece para embarcar em uma viagem sem volta com um estranho.

Ou faz? Heiwas nunca entendeu muito bem como funcionava a cabeça dos pokémon. Peregrin teve uma escolha a fazer... Na verdade ele não teve. Abandonado em território inimigo escolheu o menor de dois males. Essa Wooper não era assim: ela tinha família e uma vida bem tranquila com pouco ou nenhum predador. Se ela ficasse, provavelmente morreria de velhice. Foi isso que tentou explicar, fazendo um gesto com a mão no pescoço para representar "morte", porém acabou sendo mais um passo de dança do que qualquer coisa.

—Nhunnn —Mordeu com mais força, balançando os pezinhos no ar como se isso explicasse tudo que a pesquisadora queria saber. Alerta de spoiler: não explicava.

—Isso não faz sentido nenhum… —Começou a dizer, no entanto sua voz morreu quando ela pegou o vislumbre de algo brilhante.

Ela aproximou-se com passos lentos e desajeitados, observando a trilha de cacos subir pela encosta e sumir em uma curva fechada. Aquilo pareceu ser interessante o suficiente para fazer o water type deixar a adolescente e correr ladeira acima, seguindo com empolgação e animação ingênua as pistas deixadas por uma grande catástrofe. Heiwas realmente não pode criticar, pois segundos depois estava vibrando de emoção enquanto fazia a curva e se deparava com seja lá o que for que deixou aquela confusão.

A mulher observou as árvores quebradas e as marcas de rodas no chão. Também havia pedaços de madeira e ferro aqui e acolá e uma série de cacos de vidro que a menina achou por bem deixar ali ao invés de chutar para o mato. "Pokémon poderiam se machucar se jogasse na grama" pensou satisfeita.

—...e pessoas podem se cortar se os deixasse ali —Falou pensativa. Agora já é tarde.

Os olhos se moveram do chão para o caminhão amassado contra uma árvore. Ele tinha 2, 2 metros de largura e 6, 6 metros de comprimento, podendo carregar até três toneladas —se Heiwas se lembrava corretamente. Ela não estava, exatamente, em seu juízo perfeito quando se encontrara presa lá dentro, embora sua memória excepcional sempre fizesse questão de notar e guardar os fatos mais estranhos e inúteis de qualquer situação. Havia um símbolo estranho pintado em sua lateral, uma espécie de lua com uma estrela dentro.

—É bonito —Heiwas disse, inspecionando o símbolo de onde estava, na lateral do veículo.

—Com certeza é —Uma voz grossa soou —E também não é algo que alguém como você possa ter o prazer de admirar.

A pessoa que disse era gorda e relativamente alta, com cabelos castanhos e olhos verdes. Vestia couro, muito couro. Sério, a garota se sentiu mal ao pensar na quantidade de Krokoroks mortos para fazerem as botas, o cinto, a jaqueta e, bem, a calça do sujeito.

—Se não era para as pessoas verem então não deveria estar na lateral de um caminhão de carga —Respondeu monotonamente, os lábios formando uma linha fina.

Wooper era mais perceptiva do que a jovem achava, pois estava com a boca aberta em um "O" enquanto emitia um barulho vagamente familiar. Algo entre "Woooow" e "Eeeeeita!" (okay, talvez não fosse bem isso que ela disse, no entanto foi o que Heiwas ouvi).

—O-o-oquê? Quem você pensa que é para falar assim comigo?! —Gritou, ficando vermelho rapidamente. Com um pescoço tão curto que era quase inexistente e uma expressão de fúria contorcida no rosto Heiwas, de repente, teve a impressão de estar conversando com um barril. Ela afastou o pensamento com um balanço de cabeça e cerrou os olhos para se concentrar nas palavras do gordinho —Por que você não vem dizer isso na minha frente?!

—Mas eu já estou na sua frente —Ela rebateu e Wooper mais uma vez fez aquele estranho som sair da sua boca. Francamente, não era para ser uma resposta. Ela só estava apontando fatos —Ou você quer que eu chegue mais perto?

—Wooooooooo

—Você se acha muito engraçadinha né? Estragando nosso caminhão, caçoando de mim! —Ele gritou, furioso —Você acha que pode nos impedir? Nós somos o Team Eclipse! Você pode sempre tentar, mas alguém como você nunca conseguirá vencer a nossa grandiosa, gloriosa e bela organização!

—... —Ela grunhiu pra ele e puxou a pokébola do chaveiro de sua bolsa. Uma sombra caiu sobre seus olhos que fez a tipo água se calar imediatamente e, então, …—Tudo bem…

Ela virou-se para sair, contudo dois braços fortes a prenderam no lugar. Ela se debateu e gritou, pânico borbulhando em seu intestino. Ela odiava ser tocada! Era tão sufocante e estranho e totalmente intimidante. Estava errado, errado, errado, errado e errado. Sua cabeça girou e suas próprias mãos apertaram com crueldade os membros das pessoas que a prendia.

—Ei! Ai ai ai ai —O garoto gritou, jogando seu corpo para trás na tentativa de tirar os pés da menina do chão e desequilibra-la —Cara, isso dói muito!

—Segure ela, 13! Precisamos saber por que ela tentou nos matar!

—Do que você está falando?! —Ela gritou tão alto que fez os Hoothoot das árvores voarem e Solum acordar.

—Ai, caramba! —13 gemeu, sentindo o Shinx morder sua panturrilha —Que merda! Qual o problema de vocês!

Heiwas também queria saber isso. Ela não se lembra de um tempo que alguém a tocou sem permissão. Acontecia muito quando era criança, porém não depois que cresceu. Agora, ela só conseguia pensar naquela sensação asquerosa e no medo correndo em seu coração. Como tudo no mundo parecia errado e agonizante. Como ela faria qualquer coisa para sair dali, até mesmo admitir algo que não fizera. Porém uma parte dela, uma pequena parte, gritou contra isso, admoestando-a fazer o que é certo. A não manchar sua honra.

Heiwas não entendia o porquê que ter honra era tão importante. Ela não via o apelo para dar ouvidos a sua voz interior, então ela sufocou aquela parte de si e disse: —Eu posso provar! Posso mostrar que não fui eu!

E bem, não era isso que ela queria dizer, contudo foi o que pareceu funcionar. A pessoa que a prendia a soltou tão repentinamente que ela caiu nos dois joelhos e ralou o antebraço (como se os ferimentos anteriores não fosse o suficiente).

—Okay, Floco de Neve. Vá em frente — 13 falou, um tom acima do normal —Bata-nos com sua explicação.

Heiwas fez exatamente isso.

—Oi! Por que eu não paro de apanhar!!!
—Dá pra parar de gritar?!

13 era só alguns centímetros mais alto que a garota. Talvez 1, 66 ou 1, 68, o que explicaria o esforço dele para tirá-la do chão. Tinha cabelos vermelhos, olhos castanhos e o fantasma de um sorriso no rosto. Ele parecia... Hum, ensolarado? A pesquisadora se perguntou o que alguém como ele estava fazendo ali, com um barril de couro e um pokémon extremamente perigoso fugido.
Ela balançou em seus calcanhares, de repente com muita vontade de sair correndo dali. Wooper assistia tudo com olhos inocente, muito feliz para o gosto da menina. Era quase como se ela gostasse de confusão.

—Fique esperto, Solum —Ela sussurrou. Foi o suficiente para as orelhas do gato ficarem eretas e atentas. "Wooper era muito estranha"



—Nada do que vocês disseram faz sentido —Heiwas falou, balançando para frente e para trás enquanto fixava o olhar no teto do caminhão em pedaços —E eu vou te dizer o porquê.

—Vocês carregavam uma carga muito perigosa. Veja a jaula. Ela é feita de ferro maciço —Disse apontando para a gaiola dentro do baú. Estava intacta, exceto pelo local que o Meowth tinha se soltado —Há marcas de arranhões e nenhum dos meus Pokémon tem garras afiadas o suficiente para fazer isso. E olha pra isso. As grades estão retorcidas pra fora e não pra dentro.

E de fato estavam mesmo. Torcidas como se uma bola tivesse empurrado seu caminho através dela. Heiwas ficou um pouco confiante quando viu o olhar de compreensão no rosto do menino sol.

—Certo. Acha que sou idiota? Como vou saber que não está mentindo? —Barril perguntou e Heiwas, dessa vez, teve que segurar a língua para não responder com sinceridade a pergunta.

Ela pegou a pokébola de Peregrin e atirou no alto, escutando com prazer o estalar dela se abrindo. A luz que saiu dela se materializou em um Pidgey de aparência afiada e mau humor palpável —Um Pidgey e um Shinx. Ambos são jovens e de lvl baixo e sem nenhum. Além disso se eu fosse atirar em vocês seria na roda e não na lateral o que nos leva a próxima prova: Meu Álibi. Eu estava presa aqui, então, claro, eu não podia atirar na lateral. Além disso é a primeira vez que eu vejo vocês o que significa que é a primeira vez que me veem. Vocês só querem uma pessoa para culpar, então por que não pegar a primeira garota ensanguentada acompanhada por um Wooper?

Ela começou a andar de um lado para o outro enquanto falava. Seus olhos nunca fizeram contato direto com eles. Talvez seja por isso que ela não viu uma pokébola sendo jogada na sua direção. Wooper, por outro lado, reagiu perfeitamente, golpeando a esfera com a cauda e mandando-a para o alto, onde se abriu.

—Não importa o que você diz. A única verdade aqui é que eu não estou levando a culpa por isso! —O gordo resmungou. Treze apenas sorriu e recuou para se apoiar na sombra de uma árvore, não se importando mais com o que estava acontecendo.

O Taillow Shiny pairou no ar antes de partir para atacá-la.




As asas de Taillow começaram a brilhar, ficando brancas contra a luz do sol, ao mesmo tempo em que se aproximava da outra ave. Pidgey forçou-se para trás e bateu as asas o mais forte possível, fazendo uma nuvem de poeira se elevar e jogando areia nos olhos do pássaro.

—Suba! —Heiwas gritou e na mesma hora ele subiu, sentindo as rajadas de vento puxar suas penas, e deixou o adversário passar por baixo dele, errando o alvo por centímetros —Quick Attack!
Ele desceu, fechando as asas para que a gravidade pudesse puxá-lo com mais violência e atingindo em cheio as costas do outro. Foi tão forte que a barriga do Shiny atingiu o solo e o bico foi enterrado na areia.


A ave se levantou e se arrepiou, balançando as penas para tirar a areia presa. Uma ação curiosa aos olhos da pesquisadora que imediatamente puxou seu caderninho de anotação. Enquanto isso o pássaro de Hoenn gritava um grito alto, um rosnado para desencorajar o Pidgey.


Uma luz vermelha engolfou o Taillow, ardendo como brasas, ao mesmo tempo em que Peregrin se agitava e transformavas as finas brisas em redemoinhos apenas com a força de suas asas. Era bonito, como algumas correntes brilhavam em azul, da mesma cor que as asas do pardal. O Gust acertou o inimigo que, apesar de ficar preso, apressou-se para romper a parede de vento e se jogar contra o tipo normal, atingindo o centro de seu peito com um poderoso Quick Attack.
Pidgey foi atirado longe, mas conseguiu se recuperar antes de atingir o chão e rebateu o ataque com outro Gust.


—Woooo

O Pidgey se apressou para atacar, mergulhando em uma poderosa e rápida investida e acertando o raro Taillow antes que esse pudesse atacar.
A ave negra e branca inchou o peito e vibrou. Logo uma dúzia de cópias se materializou e cercou o nativo de Kanto, grunhindo e gritando, deixando ele inquieto. Heiwas arquivou o Double Team na cabeça antes de ordenar que ele revidasse com outro Gust.
O redemoinho foi tão poderoso quanto o primeiro e apagou todas as cópias com uma única rajada de vento, no entanto não foi o suficiente para acertar o original, que já estava vindo a toda velocidade com as garras apontadas para frente; pronto para arrancar um olho de Peregrin.


No mesmo instante o Pidgey fechou as asas e deixou-se cair livremente. O atacante rosnou de frustração quando suas garras apenas trincaram as penas da cabeça do inimigo. Frustrado ele também mergulhou atrás do outro, fechando asas o máximo que podia para que a força do vento não as arrancasse. Agora era pessoal!


Os dois gritaram em uma só voz, sentindo a fúria da batalha gritar em suas veias.

—Pidgey!
—Low low!

Ambos cortaram o céu, Pidgey era apenas uma fração de segundo mais rápido e reativo que o outro, tendo, claramente, mais experiência nos céus que o pássaro de madame que era Taillow. Giraram em uma dança perigosa raspando o chão com suas pernas ou asas, alçando voo o mais alto possível apenas para tentar pegar o outro em um mergulho. Em determinado ponto o de Hoenn girou por cima do Pidgey e, aproveitando a próxima ventania, atacou, mirando o flanco esquerdo do outro.
Os olhos de Peregrin brilharam. Uma rajada de vento mais forte bateu em suas penas e ele deixou-se ser empurrado para cima apenas no tempo de Taillow acertá-lo. A outra ave passou por baixo, zunindo, enquanto o de Kanto subia e subia. Seu corpo reluzia a luz do sol e a sua silhueta foi à última coisa que o Taillow Shiny viu antes de ser acertado e empurrado contra o campo de batalha com um som horrível. Taillow desmaiou na hora.






A garota ficou tensa assim que a batalha, pensando em trocar de pokémon ou em usar uma estratégia mais leve. Como Blue sempre dizia: Às vezes é a diferença de um arranhão que decide a batalha. Então ela abriu as pernas e curvou o seu corpo na posição clássica de batalha, enquanto esperava seu oponente fazer a mesma coisa. Para a surpresa de todos, ele não se moveu.
Os olhos castanhos pareciam guardar um mistério. Um segredo que só ele conhecia. O sorriso não era tenso, mas tampouco parecia verdadeiro. Era quase como se estivesse satisfeita com o que a garota acabou de fazer. Heiwas estava começando a sentir sua timidez voltar. Droga! Ela preferia que eles a acusassem!

—E-e você?! —Ela gritou, ainda olhando pra frente e com o rosto mais vermelho que a pelagem de um Delibird.

—Quem? Eu? —Ele perguntou, sorrindo largamente —Eu já vi o suficiente. Estou convencido! —E com isso foi embora, seguindo o caminho para a route 4.

A adolescente não soube como responder aquilo, então ela fez a primeira coisa que veio a sua mente: sentou-se no baú do caminhão com um Shinx igualmente confuso e Pidgey presunçoso e assistiu a Wooper tirar onda e rir do cara da… o que foi que ele disse mesmo? Team Eclipse?
Parece que a jornada ficou ainda mais interessante, infelizmente. Criaturas extremamente perigosas, marginais com raros pokémon e garotos com sorrisos misteriosos. Team Eclipse, com certeza, é um problema. Ela só precisa descobrir o quanto…

—Woooooow!

O Caminho que Escolhi I

—Uma batalha —A menina de cabelo branco falou com um dedo levantado —Você é um pokémon selvagem que nunca batalhou contra um treinador. Não sabe o que quer ao desejar vir comigo —Ela afastou-se com passos pequenos e se colocou hás uns três ou quatro metros de distância —E eu vou provar isso a você!

O encontro com os dois capangas do Team Eclipse tinha dado uma ideia para a menina. Uma ideia para abrir os olhos da Wooper estúpida.

Não leve Heiwas a mal, ela gostava do tipo água. De verdade! A pequena salamandra louca tinha feito o caminho para o seu coração e a pesquisadora com certeza ia sentir muita falta dela quando continuar sua jornada, mas era justamente por isso que ela não poderia levá-la consigo. Wooper nunca esteve fora desse lugar, nunca batalhou com um treinador. Talvez ela nem goste de batalha! Heiwas não poderia fazer isso: pedir que ela deixe tudo que conhece e ama para seguir uma garota problemática que nem ao menos sabe para onde está indo. O autismo da garota dificultava a sua capacidade de sentir empatia, de entender o que os outros estavam sentindo, embora não a impedisse de ter seus próprios sentimentos e tudo que ela conseguia sentir agora era medo. Por essa razão ela iria humilhar a ground type em uma batalha e mostrar que ela não serve pra essa vida —Tem certeza que quer fazer isso?

—Woooo —Wooper bufou e estufou o peito. Daquele ângulo se podia ver perfeitamente o coração azul escuro na base do pescoço dela.

—Okay… —Os olhos da jovem estavam baixos, não fitando diretamente o adversário. Ela balançava como sempre, apertando na mão a pokébola do chaveiro —Peregrin, Quick Attack e Gust!

A ave deixou o poleiro do ombro da pesquisadora e alçou voo com um poderoso grito, descendo segundos depois para acertar a fêmea que estava sugando todo o ar que podia. Francamente, ela parecia ser uma maldita metralhadora quando começou a cuspir bolas de lama contra o pássaro que, com muita agilidade e destreza, desviava e atingia em cheio o alvo.
Wooper aguentou o dano valentemente e reagiu com rapidez, dando uma cambalhota e usando a cauda para golpear violentamente a cabeça do Pidgey com o Slam. Os olhos de Heiwas se dilataram quando ela ouviu os gemidos de seu pokémon, no entanto um sorriso apagado surgiu no canto de sua boca quando viu o tipo normal se levantar e agitar as asas, formando um redemoinho e prendendo a aquática nele.

—Deixe-a confusa!

Peregrin voou ao seu redor, girando enquanto atirava areia nela com a asa. Wooper não pareceu se irritar com isso, contudo atacou mesmo assim, tentando atingir o "Kantoniano" com seu Water Gun. Pidgey esquivou-se do primeiro, foi pego no segundo, e contornou o terceiro para atacar com um Tackle bem apontado a barriga do outro pokémon.

—Acabe logo com isso! Gust e Quick Attack!

Eles recuaram por um instante, Wooper meio incerta e Peregrin com olhos afiados e concentrados. Nenhum dos dois desviou o olhar ou sequer piscaram. O Shinx, que estava sentado aos pés de sua treinadora, quase que poderia ouvir uma música de faroeste tocar ao fundo e uma bola de sujeira atravessar o campo de batalha.
Os dois atacaram ao mesmo tempo, embora nenhum deles fez contato. Não quando uma grande explosão soou e uma rajada de vento violenta os atingiu com força, jogando todos fora de equilíbrio.

—O-o que foi isso?! —Perguntou. Era confusão, ela tinha certeza que era, e ela estava muito cansada para isso agora.

Peregrin se assustou com o som súbito e veio voando para pousar na cabeça da menina. Ficou ali, estendendo as asas como se dissesse: eu não estou com medo, apenas me certificando que você não faça nenhuma burrice. Heiwas preferiu não questionar a ave e focar no problema em questão.

—Não, nós não vamos naquela direção. Você está ferido, ele ta ferido e eu tô ferida —Ela disse, apontando para o Shinx e depois para o pardal antes de colocar a mão, com a pokébola, em seu peito —Nós não somos heróis e isso não é responsabilidade nossa.

Ela estava tremendo agora, ansiosa; os olhos correndo em volta como duas corças. Ela deveria ter ido para o Centro. Ela devia. Mas estava com tanto medo de alguém tentar roubá-la de novo e depois havia a Wooper que não iria deixá-la sair até que a levasse junto. Seria suicídio ir com dois pokémon ferido, principalmente porque a jornada tinha se mostrado mais perigosa do que pensava. Dois pokémon perigosos e estranhos, uma ladra, um caminhão e dois treinadores da tal Team Eclipse. Estava no meio da contagem quando deu por falta da Wooper.

—Não diga que ela… —Pidgey acenou com uma cara que era metade cansada e metade o-que-eu-fiz-para-merecer-isso-?. Heiwas não sabia que pássaros poderiam ser tão expressivos.

—Shinx!
—Nós não vamos atrás dela!
—SHI!
—Não!

Heiwas não era uma mentirosa, já que mentir requeria muito mais trabalho e esforço do que contar a verdade, mas, às vezes, nem seu próprio corpo dava ouvidos a ela.


Havia um lugar que ficava depois das planícies e no caminho dos rios da rota cinco. Escondido por uma vegetação mais densa e cercada por pedras afiadas, o lago que abrigava os pokémon mais frágeis e pequenos era considerado por todos daquela rota como lugar de descanso e tranquilidade. Roselia vivia naquele lugar, curando quem precisasse de ajuda, enquanto que os Quagsires e Floatzels, ali residentes, agiam como cavaleiros protetores, afugentando toda e qualquer ameaça. Havia, entretanto, um terceiro protetor.

Ele era uma fera violenta. Diferente de todos os outros, se isolava na parte mais escura daquele lugar, percorrendo os rios atrás de sua presa, sondando a grama alta à espera de apanhar algum humano desavisado. Normalmente ele seria uma lenda contada de geração para geração, feita para assustar os jovens de sua família. Wooper cresceu acreditando nisso, temendo isso, até que ela o visse com seus próprios olhos.

Havia uma fúria ao seu redor, uma aura predatória que se acumulava e estendia-se como uma cobra viciosa. Sua pele possuía listras vermelhas que brilhavam no sol da tarde e enfatizavam a pelagem azul. A esfera no final de sua cauda fina e preta estava cortada na parte superior, faltando um pedaço, assim como faltava nas suas grandes orelhas redondas. Uma cicatriz descia por um olho cego enquanto que o outro olho, que deveria ser preto como carvão, ardia em vermelho vivo. Um Marill normal era redondo e fofo...

—Wooper! —Aquele não era um Marill normal; não quando seu Warter Gun estava destruindo árvores e explodindo pedras, colocando em risco os filhotes que viviam naquele lago.

—Pegue ele Duosion! Psywave!

A salamandra saiu dos arbustos e virou-se para a margem do lago, onde um humano alto e magro estava parado com uma esfera vermelha entre as mãos. Ele ostentava um símbolo em preto em sua blusa branca, uma espécie de lua com uma estrela no meio. Wooper não entendeu o que viria a ser aquilo, mas ela também não estava entendendo mais nada! Tudo que sabia é que deveria acalmar o Marill e parar o humano antes que o lago encontrasse sua destruição.

—Per! Per per wooo!

O tipo água gritou, esgueirando-se pela confusão de pokemon em fuga apenas para recuar alguns passos quando Marill passou rolando por ela, atacando o Dousion que para sua sorte, ou falta dela, também havia usado Rollout. A batalha de força não durou muito quando o pokémon estranho derrubou o tipo psíquico e quase amassou o treinador no caminho. O homem xingou e atirou uma pokébola que não fez nada além de irritar o já irritado tipo água. E depois eles ainda falam que são os Woopers que são idiotas!

Resolvendo que parar o humano faria o poderoso rato de água se acalmar, ela partiu para briga, atingindo com a calda o Duosion. Slam serviu só para atrair a atenção do treinador para ela, que se virou com um franzir de testa e um rosnado de advertência.

—Eu não tenho tempo pra perder com você, lixo! —Esbravejou, sacando outra pokébola e liberando um Ralts —Confusion!

Wooper parou a série de ataques, pois ficou presa na luz rosa que era o Confusion. Ela agitou-se e gritou, querendo escorregar do aperto de morte. Ralts sorriu perversamente e largou a fêmea na frente do adulto.

—Vou te esmagar como o inseto que você é! —O adulto pisou sobre a cabeça da aquática, esfregando o rosto dela na lama aos seus pés, se divertindo com a maldade e...

—Ahhhh!

Heiwas tinha se atirado de uma pedra alta e caído nas costas do homem, apertando os braços envolta do pescoço na tentativa de sufocá-lo. Sua fobia de toque a muito esquecida pela dose de adrenalina que corria pelas suas veias, seus extintos cantando para que ela acabasse com aquela loucura.

O grunt do Team Eclipse alcançou o braço da menina e, com um giro do corpo, a jogou por cima do ombro no chão. Ela gritou de agonia quando sentiu suas costas estalar, contudo ignorou a dor para chutar os pés debaixo do adulto.
Se levantando com um gemido ela se afastou apenas o suficiente para lhe dar tempo para pensar e fugir caso o sujeito resolvesse que uma briga seria melhor do uma batalha pokémon.

—Wooper, distraia a Marill! —Ela rosnou com o rosto sem emoção —Eu cuido disso…



Foi Ralts que iniciou a batalha, aumentando o seu número em seis vezes. Seus clones cercaram os dois parceiros, confundindo-os momentaneamente. Porém Heiwas já tinha uma estratégia formada para aquele movimento e, por isso, deu o sinal para que o Gust entrasse em campo. As asas do Pidgey tomaram uma coloração azul e brilhavam vivamente conforme as batia com força e velocidade para criar um redemoinho de vento que acabou com os clones em questão de segundos.
Enquanto isso acontecia Shinx colocava em cheque sua habilidade de intimidar os adversários, divertindo-se internamente quando viu os dois psíquicos se contorcer sobre seu olhar. Crepitando com um pouco com energia ergueu a cabeça. Suas orelhas e cauda se iluminaram ao transformar o ar ao seu redor em eletricidade que era armazenada nas partes amarelas de seu corpo (quer dizer, era isso que Heiwas achava que acontecia. Ninguém tinha muita certeza). Duosion, por outro lado, concentrou uma esfera de energia nas pontas de suas pequenas mãos e preparou-se para lança-la no gato. Peregrin não estava disposto a deixar isso acontecer e aparou o ataque bravamente, deixando seu parceiro terminar o Charge.


O ar ficou mais pesado e Shinx gritou quando liberou a energia armazenada, atacando a Ralts com um Thunder Shock com o dobro do poder. Essa revidou com o Confusion e prendeu o felino em uma aura rosada.
Solum bateu as patas e gritou, apesar de nada adiantar. Ele continuou flutuando e Ralts já ia atirá-lo no lago quando o Water Gun da Marill quase a pegou, distraindo-a o suficiente para que Pidgey se aproximasse com o Quick Attack. Solum foi largado no chão só para ser atropelado pelo Duosion, que agora girava e girava, dando a volta para atacar com outro Rollout.


Rollout vinha em direção de Solum novamente; mais rápido, mais poderoso. Pidgey se intrometeu no meio, atacando o rolo compressor com um Tackle e recuando para cima antes que pudesse ser acertado.

—Pidgey! —Provocou, estufando o peito até que virasse uma bola de penas.

Sol olhou de soslaio para o amigo e partiu para enfrentar o outro do tipo psíquico. Seus dentes ficaram mais afiados e longos, as presas se destacando em sua corrida. Como um leão que se lança sobre a presa o gatinho azul se lançou contra ou pokémon de Hoenn —Reflect!

Uma barreira de vidro ganhou vida sobre as mãos da Ralts, barrando o Shinx que caiu sobre ela com um grunhido. Ele ficou lá em cima, batendo as pequenas patas sobre a tela transparente.


Shinx explodiu em uma porção de raios azuis que choveu para todos os lados. Grande parte atravessou a tela, mesmo que esta tenha sido substituída por outra —dessa vez esverdeada e fina —; e alcançou a Ralts que gritou de agonia.

—Finalize!

Peregrin, a esta altura acostumado com a peculiaridade de fala de sua treinadora, investiu na direção da bípede com um poderoso Tackle, arremessando a fada longe. Ralts nem ao menos tentou se levantar depois disso.
Por outro lado Rollout estava em andamento, apesar de ser atingido pelo Spark, e acertou o Shinx desavisado, esmagando-o de baixo dele.


O Duosion se desenrolou com uma cara de poucos amigos. Os três se olharam tensamente. Respirações curtas preencheram o silêncio junto dos gritos de Wooper e das trocas de Mud Shot e Water Gun.
Uma esfera verde começou a surgir nas pontas das mãos do psíquico. Heiwas já havia visto várias vezes aquele ataque e nunca deixava de se impressionar com o movimento, como se cada um fosse diferente do outro —ela arquivou esse fato na mente para fazer uma pesquisa mais aprofundada do Hidden Power. Quem sabe ela não conseguiria replicar isso? A bola foi disparada em direção ao pássaro que se esquivou por muito pouco, dançando envolta do ataque para mergulhar contra o inimigo.
Encolheu as garras, diminuiu o ângulo das asas e apontou o bico para a cabeça do Duosion. Foi tudo uma questão de física. Pidgey deixou-se ser arrastado pela gravidade, embora, no último minuto, ele girou para a direita, raspando as penas pelo rosto da bolha verde e acertando o lado direito com tudo.


—Duuuu!


Tudo explodiu em uma fumaça crepitante, a eletricidade se dissolvendo no ar. Duosion jazia no chão, desmaiado.




—Você é louca?! Viu o poder daquela criatura? Eu seria imbatível se a tivesse! —Era o olhar daquele sujeito que escondia insanidade. O jeito que suas mãos tremiam e os olhos vermelhos era só mais um indicador que ele não estava bem. Heiwas não percebeu isso, distraída demais em assistir o caos em andamento.

—Não se pode capturar um Alfa —Recitou, quietamente, trêmula em seus pés —Fazer isso é o mesmo que invocar a morte.

—Hahahaha —Riu histericamente; sua risada era tão desequilibrada e longa que mal poderia ser chamada de riso —Você tem razão —Disse, sem fôlego —Mas não será o meu funeral!

De repente outra pedra explodiu e gritos soaram a sua volta. A cabeça de Heiwas chicoteou para o lado. Seus olhos se arregalaram, sua boca ficou seca e o sangue escorreu de seu rosto quando avistou o Marill Alfa vindo em sua direção com um Rollout.
Congelada no lugar, acompanhou com horror, marcando, inconscientemente, com o coração os segundos que lhe sobrava para fugir. Tentou se mexer, porém suas pernas pareciam estar enraizadas no chão. Tudo que pode fazer segundos antes do impacto foi levantar as mãos para proteger a cabeça.

—Per woo per!

Primeiro o mundo começou a se contorcer e, então, a sensação de não ter nada embaixo de seus pés veio sobre ela. Sua cabeça atingiu o chão com força, embora isso fosse bem melhor que ser atirada a vários metros pelo Rollout.

Tudo ficou meio zonzo, entrando e saindo da realidade, como se fosse uma espécie de sonho. Wooper pairava sobre ela, uma expressão de preocupação estampada em sua face. Solum e Peregrin, entretanto, ainda deveriam estar lutando contra o pokémon Alpha, tentando ao máximo afastá-lo dela. Pelo menos era o que ela achava, já que não tinha muita certeza do que estava acontecendo, principalmente quando Wooper não era mais um pokémon azul e redondo, mas um menino de cabelos brancos e olhos dourados.
Ele sorria pra ela, inclinando a cabeça como se estivesse tentando enxergá-la direito. Parecia feliz e totalmente certo do que estava dizendo —Por que você fez isso, Mellody? Você sabia que essa vida não serve pra você. Nunca foi.

Heiwas sentiu raiva borbulha e a figura do garoto se desfez instantaneamente, revelando o rosto da ground e water type. A garota não tinha pensado nisso até então: como Wooper tinha se juntado a ela, como tinha corrido para o perigo sem pensar duas vezes. Ela não tinha pensado no que ela queria. Naquele momento ela a compreendeu, entendeu que não adiantava viver uma vida longa se essa não for a vida que você quer. Wooper queria sair e ver o mundo, como ela. Queria provar para si mesma que era forte para isso. Testar seus limites…
Ninguém nunca tinha dado uma chance para Heiwas... Então ela resolveu fazer isso pela Wooper.

A pokébola foi erguida acima de sua cabeça, na altura dos olhos da salamandra. A fêmea examinou o objeto com olhos curiosos e um sorriso fino. Heiwas fechou os olhos e deixou-se ser arrastada pelos barulhos de destruição e os gritos de seus companheiros. Uma luz azul reluziu contra a escuridão de suas pálpebras e, enfim, a menina sorriu…

O Caminho que Escolhi II

Heiwas apertou firmemente a pokébola de Wooper e levantou-se cambaleante, sentindo o mundo girar. Ela estendeu a mão para se firmar, mas tudo que alcançou foi o ar e, por isso, quase voltou ao chão, permanecendo de pé apenas por pura força de vontade. Instável em seus próprios pés e com a cabeça tocando de dor, ela mancou para mais perto da margem.
Marill era uma figura borrada em seu campo de visão, nada mais que uma mancha vermelha e azul. A garota parou por um momento, respirando com dificuldade, lembrando-se do que acontecera há momentos atrás e o que estava acontecendo agora. “Eu devo ter batido a cabeça mais forte do que pensava”.

—Pidgey! —O Pássaro gritou, puxando a roupa da menina com as garras. Ele tirou-a do caminho bem a tempo de um Water Gun atingir o local que estavam e, de repente, as memórias voltaram para ela com a mesma força de um elástico que é esticado e soltado.

Eles estavam na floresta e houve uma explosão… Então eles foram lá para ajudar? Não, foram atrás de alguém… Quem era… Sim, Wooper! Ela capturou Wooper! Mas, qual era o motivo da explosão?

Heiwas virou-se para a Marill, observou todos os seus traços incomuns. Suas cicatrizes nas orelhas, cauda e no olho que era cego. O outro olho era vermelho vivo, muito diferente do olho preto comum a sua espécie, e listras rubras grossas enfeitavam o corpo redondo do roedor. O mais impressionante, no entanto, era a poderosa aura que saía da Marill. Essa não era primeira vez que Heiwas via um Alfa, embora o terror e o medo que preencheu seu coração naquele momento foram tão forte quanto à primeira — se não mais.
A adolescente olhou para as suas mãos, onde a pokébola da Wooper balançava. Ela quase podia vê-la querendo sair e lutar.

—Então vamos lutar! Wooper venha para a batalha!

A pokébola se abriu com um plop e a luz azul/ prata que saiu dela se materializou em uma salamandra sem braços. Wooper curvou-se para fixar o olhar na Alfa Marill.

—Será três contra um, mas Solum e Peregrin não podem continuar por muito tempo! —Heiwas gritou —Vamos criar uma abertura para Solum atacar com Thunder Shock!

—Wooo!



A pequena aquática começou a dançar, balançando como uma samambaia na frente do Marill que parou com um olhar estranho no rosto. Talvez achasse engraçado, talvez achasse estranho. O importante era que as defesas do inimigo estavam baixas e tanto Shinx quanto Pidgey estavam prontos para aproveitar a chance.


Na mesma hora os dentes afiados do felino travaram no braço do rato. Shinx puxou com força para o lado, desequilibrando o Marill que estava tentando subir suas defesas com o Defense Curl. Antes que ele pudesse fazer algo, entretanto, o pássaro mergulho na sua direção e o acertou com um Quick Attack.
Com raiva, o rato azul se soltou das presas do Shinx ao mesmo tempo em que atacou o Wooper com seu Water Gun. O ataque não causou tanto dano assim, mas foi o suficiente para assustar a salamandra que recuou alguns passos.


Com três pokémon trabalhando contra um, foi meio difícil para o Alfa se esquivar. Mud Shot foi disparado e para deter isso o Marill usou o Bubble; as bolhas estouraram em contato com a lama o que produziu uma fina camada de neblina. Meio segundo depois as asas de Peregrin piscaram em azul e bateram tão forte que produziu um redemoinho. Não houve muito que o tipo água puro pudesse fazer para não ser arrastado pela ventania, principalmente depois que Solum aproveitou a abertura para utilizar o Spark.


Wooper forçou-se contra o inimigo batendo cabeça contra cabeça, empurrando-se para que Shinx desse a volta e a rondasse assim como um gato persegue um rato. Seus olhos ferviam em um dourado vivo, como se o próprio outro estivesse derretendo dentro de suas pupilas. A ground e water type atacou com Water Gun, empurrando a Marill para trás e para mais perto de Solum que, mais uma vez, abocanhou com fúria a orelha redonda do rato. O pardal de Kanto aproveitou para atacar o lado aberto da anomalia, investindo na direção dela com um Tackle.
Marill cambaleou para trás, sentindo-se um pouco fraco pelo combo de ataques. No entanto a fraqueza pareceu sumir quando iniciou sua vingança, torcendo o seu corpo em uma bola.


—Pidg! —Pidgey esbravejou, esquivando-se de um Water Gun. Ele xingou sua treinadora em cinco poké idiomas diferentes. Começou de novo com isso?!



Wooper demorou um pouco para entender que era com ela que a mulher estava falando. Marill veio em sua direção, girando com o Rollout. Azul reagiu rápido, batendo com a cauda no chão para ganhar o impulso necessário para saltar por cima dela —Agora, Blue! Mud Shot!

Uma rajada de lama disparou de sua boca, acertando o rato d’água. Solum aproveitou a distração para avançar com o Spark, disparando raios azuis para todos os lados. Um desses acertou a pequena Wooper que estava perdendo altura rapidamente — sua sorte é que ela era imune à eletricidade. —Agora Lazúli! Slam!

O Alfa se recuperou do choque e investiu com violência contra o gato azul, arremessando-o longe. Shinx não fez nenhum movimento para se levantar, no entanto Wooper não podia prestar muita atenção nisso. Ela estava caindo; e caindo rápido. São nesses momentos de tensão que ela deixa sua mente em branco e passa a agir por instinto, contraindo-se em uma bola bem fechada e deixando a gravidade puxá-la enquanto girava com o balanço do corpo. Dois segundos antes de atingir o Marill ela se desenrola e aproveita o impulso do corpo para esmagar a cabeça do adversário com um poderoso Slam. Um som de estalar ecoa por todo o lago.


Marill se mexe sobre o peso do rabo achatado da Wooper e então abre a boca para disparar uma rajada de bolha na direção do tipo água. Incrivelmente, indo contra todas as coisas que acredita, Pidgey usa o Quick Attack para entrar entre o Bubble Beam e a Wooper, sendo acertado bem no peito pelo ataque de água. Ele cai com um baque surdo no chão, os olhos meio vidrados e fora de foco. O coração de Heiwas quebra com a visão e tem só o tempo de retorná-lo para a pokébola antes de Marill tentar esmagá-lo com Rollout.


—Shinx! —Gritou furioso. Ele estava diferente. Pupilas dilatadas, pelo espetado e as marcas douradas em seu corpo brilhando loucamente. Uma luz azul o envolveu, dançando a sua volta, esticando, mudando. Seus gritos eram altos e Heiwas mal o reconheceu quando a luz ficou mais agitada. Então, de repente, era como se algo lutasse contra a fonte de energia crescente, fazendo-a recuar do corpo do felino. Sua evolução parou mais rápido do que começou, embora resto da energia que o tinha cercado residia em seu pelo, acumulando-se nas estrelas das orelhas e de sua cauda. Charge

Rollout veio na direção deles, vencendo rapidamente a distância entre eles. A salamandra abriu os pezinhos, curvou-se e disparou o Water Gun, sendo acompanhada de um Thunder Shock com o dobro do poder que, ao se mistura com o jato d’água, ganhou ainda mais intensidade e força. Ambos os ataques (agora um só) atingiram o Alfa Marill em cheio, jogando-o no fundo do lago, de onde não saiu.



Heiwas olhou para trás apenas uma vez, para se certificar que Marill estava vivo. Como não houve nenhum corpo boiando, seguiu para parabenizar seus parceiros.

—Vocês fizeram muito bem —Disse suavemente, acariciando a cabeça da pequena enquanto levantava o Shinx para os braços. Ele tinha desmaiado assim que a batalha terminou.

A menina sentiu exaustão só de olhar para aqueles dois. Com mais alguns abraços e carinhos colocou Lazúli na pokébola e respirou fundo. Teriam que voltar para o centro antes de continuar a jornada. A esta altura ela não poderia mais adiar isso, mesmo que estivesse tremendo de medo por dentro. Seus pokémon precisavam dela e ela também precisava descansar e só havia um lugar adequado para isso.
Fugitiva ou não, ferida ou não, ela voltaria para Lakeside Town e descansaria por pelo menos uma noite. Talvez as enfermeiras fossem gentis o suficiente para lhe dar uma refeição quente.

—Está na hora de voltar para casa, Solum —Falou, arrumando-o em seus braços para que descansasse a cabeça em seu ombro —De volta ao início…

Pelo menos agora ela não estava mais sozinha...