001 ≈ Flores e Comida

Twinfist Village - 001

O dia começava mais frio naquela manhã de Outono, porém nada abalava a determinação da jovem ruiva que mal levantava da cama e corria para o jardim nos fundos de sua casa. O local era quase minúsculo comparado a grande plantação de berrys, uma das fontes de renda da família, entretanto a visão das flores com orvalho eram inigualáveis. Ainda ali, ajoelhada perante sua primeira conquista, a menina absorvia a positividade da natureza e sentia os aromas que a levavam para um sonho distante de subir nos palcos e ser aplaudida.
Um urso peludo caminhava na direção da menina e sentava ao seu lado, onde com o ronco ele atraia sua atenção. A ruiva sorria e afagava-o, logo depois descia a mão para a barriga do Pokémon.
- Não se preocupe pequenino, vou preparar um café delicioso pra você

Recompondo-se, a menina esticava a mão para o parceiro e retornava para o quarto, onde deixava-o acima de uma almofada no chão e seguia para a cozinha. Apanhando alguns ingredientes, ela iniciava a receita de panquecas de Oran Berry. Enquanto mexia tudo dentro de uma bacia, ela olhava pela janela e relembrava o estado que encontrara o Pokémon. Seus olhos começavam a lacrimejar, mas antes que uma lágrima pudesse se formar um som de porta arrastando alertava de que alguém se aproximava. Era o pai de Brigitte, que mal notava a presença da garota e caminhava para o banheiro. Agilizando o processo, as panquecas estavam prontas e numa corrida silenciosa, a ruiva adentrava o quarto.

Havia pelo menos nove panquecas gordas empilhadas no prato, o que causou espanto na adolescente que via o urso engolir todas numa única mordida. Os pelos da criatura ficavam maiores, mas logo se mostrariam ser apenas o crescimento repentino da barriga, que deixava a dona extremamente feliz.
- Estava bom? - com uma afirmação com a cabeça, ambos sorriam. - Receita especial da mamãe, ela queria ser uma confeiteira, mas sonhos não são exatamente o que seguimos por aqui - o gorducho torcia a cabeça, confuso - Tudo bem, você não entenderia

Brigitte abria a janela e logo se deparava com o mini jardim e sorria abobalhada. Por fim olhava mais a frente, analisava a extensão das árvores de berry e imaginava o que seria dela a partir dali. Respirando fundo, ela sentava numa penteadeira e iniciava sua trança. Por milésimos de segundos seus olhos se encontravam com o ursinho através do espelho, que imitava seu movimento.
- Olha veja você, caçoando de mim

Envergonhado, ele balançava a cabeça negativamente antes de se aproximar do móvel. Seus olhos brilhavam ao encontrar os acessórios espalhados. A ruiva se levantava e convidava o ursinho a sentar e começava a escova-lo. Os pelos velhos caiam lentamente de seu corpo, deixando apenas os mais belos e lisos. Distraída varrendo as sujeiras do chão, a menina enfim retornava a visão pro seu novo amigo, que colocava uma pulseira brilhante no meio da cabeça como uma coroa e se admirava olhando pelo espelho. Aquele momento simples era um passo especial para a jovem, que dava um forte abraço no gorducho e olhava através do espelho.
- Munchlax, quer conhecer um lugar cheio de acessórios e luz? - o Pokémon balançava a cabeça afirmativamente. - Então aceitaria ser meu parceiro numa jornada para a fama? - os olhos da dupla reluzia, nada precisava ser dito a mais.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

Brigitte ajudava seu amigo a se esconder embaixo da cama, visto que o gorducho ainda era um clandestino na casa. Ela então retornava para a cozinha, onde encontrava uma nota presa na geladeira dizendo "A mamãe foi até a feira e volta em alguns minutos, até lá iniciem as tarefas domésticas. Brigitte cuide de varrer a casa. Loman e Gladi cuidem da louça. Amo vocês".
A jovem encarava o bilhete ligeiramente estressada, porém ao ouvir sua música favorita começar a tocar no rádio de pilha, ela deslizou até a vassoura e começou a performar. Brigitte estava presa em casa fazendo algo que não gostava, mas nunca se sentiu tão livre. Estava tão distraída que nem notou os irmãos saindo do quarto e ficando encostados assistindo tudo. Antes que a música terminasse, com um giro no chão brilhante, a menina encerrava o show de joelhos para a porta de entrada, onde a mãe estava parada.
- Vejo que está empolgada querida, isso é muito bom - comentou, olhando ao redor logo em seguida. - E ainda conclui sua tarefa, muito bem!
A mulher caminhou com um sorriso até a cozinha, até pousar os olhos na louça empilhada, que deixava seu rosto levemente vermelho. Com um sorriso quase cínico ela encarava os gêmeos.
- Loman, Gladi, meus queridos... não leram o aviso na geladeira?
- Perdoe-nos mãe, nós estávamos... - tentou argumentar Loman
- SEM! - gritou - Desculpas - suspirou se recuperando. - Vou preparar o almoço e vocês lavarão tudo. Se não concluirem, não poderão treinar hoje.

A mulher partia para a cozinha resmugando, deixando o trio na sala ouvindo as músicas no rádio. Loman ficava cabisbaixo enquanto Gladi olhava para os lados como se estivesse ameaçado de morte. Finalmente o pai saia do banheiro, porém um som de pratos caindo e um grito azedo da esposa o fez retornar imediatamente.
Brigitte corria para acudi-la, porém se deparava com a mulher mais calma do mundo, abrindo um sorriso tão forçado que doía só olhar.
- Algum problema querida?
- Pensei ter ouvido alguma coisa
- Só acabei batendo a mão nos pratos, está tudo bem, pode relaxar - concluiu sorrindo gentilmente.

Mais longos minutos se passaram até o pai da garota abandonar de fato o banheiro e permitir que os gêmeos entrassem. Sentando lentamente ao lado da filha, o homem finalmente parecia respirar. Ele fechava os olhos conforme uma nova música começava a tocar, um clássico.
- Sabe, meus músculos estão ardendo, mas a música tem um efeito tão relaxante
- Me lembro quando você falava sobre como amava cantar, ainda faz isso?
O pai dava um sorriso frustrado e encarava a menina por um tempo. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, a mulher surgia com quatro travessas que possuíam cheiros divinos. Um toque no sino ao lado da porta da cozinha anunciava que o almoço estava enfim pronto. Os gêmeos saltavam do banheiro e corriam direto para a mesa, evitando ao máximo contato visual com a mãe.
- Hoje é um dia especial para a academia, estaremos preparando vocês para o torneio, porém alguns de vocês não estão disciplinados como é necessário e serão penalizados por isso. Quando terminarmos de comer, o horário de descanso será aplicado apenas aqueles que terminaram suas tarefas
Todos olhavam ansiosos para as mãos da mulher, afinal, a regra era: quando a mãe tocar os talheres, a família pode comer. E assim se fez, onde todos se deliciavam. No entanto, algo intrigava Brigitte, uma espécie de rastro de cheiro saia da carne e se arrastava pela casa até seu quarto, onde o gorducho abria a porta e saia. O rosto da menina ficava pálido e seus olhos arregalavam. Num movimento ágil, ela apanhava um lençol e lançava no Pokémon, deixando todos confusos.
- É... meu... banquinho! Ele está meio empoeirado, vou limpa-lo lá fora depois
Dando de ombros, a família retornava a comer, deixando a menina arrastar o "banquinho" para fora da casa. Agaixando, ela ficava na altura do urso.
- Você devia ter ficado no quarto, agora você vai esperar aqui - afirmou firmemente. - Eu já volto.
A menina retornava para a mesa da família, porém mal tocava no prato. A mãe olhava desconfiada e finalmente questionava.
- O que foi? Não está bom?
- Está... é só... um trabalho de escola
- Seus professores não poupam elogios, com o que está preocupada?
- Sabe como são trabalhos em dupla... ninguém quer fazer comigo - disse ficando cabisbaixa até a mão da mãe toca-la.
- Tudo bem querida, eu sei que você fará um ótimo trabalho
- Na verdade... eu preciso de mais tempo, está quase finalizado... poderia me liberar por hoje?
A mulher analisava a expressão da menina, parecia procurar qualquer falha que denunciasse uma mentira, mas no fim apenas acenava com a cabeça. Brigitte dava um beijo nos pais, apanhava a bolsa e corria para fora. Segundos depois ela retornava, colocando mais um pouco de comida no prato e então saia de vez.

Do lado de fora, ela entregava o prato para o ursinho que virava sem mastigar e liberava um sorriso. Dando a mão para a dona, a dupla caminhava pela vila. O lugar era do jeito que ela sempre lembrou: mesmo no frio, alguns idosos sentavam nas cadeiras e cochilavam cobertos na frente de suas casas e não muito longe dali, alguns gritos de criança a fazia lembrar do parquinho. Munchlax já estava ofegante com a caminhada, ainda que não fosse longa, mas a menina precisava parar e pensar, por isso se aconchegou num banco. A dupla ficava de costa se apoiando um no outro. Brigitte retirava um pequeno caderninho na bolsa e uma caneta, assoprando a mão antes de começar a escrever.
- Vamos ver tudo o que eu sei sobre ser performer
Balançando o lápis no dedo, a menina parecia ficar cada vez mais confusa. Embora quisesse o glamour dos palcos, nunca teve um contato direto com aquilo, então talvez fosse melhor desistir.
- Estou mais perdida do que antes, o que faremos Munchlax?
O silêncio era incomodativo, até ela notar que seu parceiro cochilava. Sorrindo, ela delicadamente torcia o corpo e tentava mantê-lo dormindo, entretanto, um folheto trazido pela brisa grudava no rosto do gorducho, que acordava e se enfurecia amassando-o.
- Calma, calma! - disse ela retirando o anúncio da mão do amigo.
Com o folheto em mãos, ela notava que alguns brilhos deslizavam dele, forçando-a a abrir. A mensagem era clara: "Deseja ser famosa e subir nos palcos? Eu posso te ajudar, venha ser minha aprendiz" seguida de um endereço. Levantando em pura euforia, a garota seguia para o local indicado, mantedo um pensamento extremamente positivo e imaginando como tudo seria.

Suas esperanças caiam por terra assim como o Pokémon que tentava acompanhar seu ritmo. Brigitte encarava um casebre com uma única fonte de luz vinda de dentro. Engolindo a seco, ela adentrava. Duas figuras se escondiam nas sombras, uma delas parecia sorrir com a entrada da jovem.
- Bem-vinda a glamourosa casa de aprendizes de performer! Eu, Betina, irei auxilia-la a se tornar uma das mais renomadas que toda Aurille já viu - encerrando o discurso com uma pose ridícula.
Brigitte encarava a figura com um pensamento de que não era tão glamouroso. Ela então seguia estudando a aparência de sua tutora: uma idosa magrela, com um kimono de trapos e bijuterias. Seu cabelo era bagunçado, mas dava para ver que ela havia pelo menos tentado arrumar.
- É um prazer conhece-la, me chamo Brigitte, eu...
- Brigitte? Já posso ver! A mais famosa performer... BRIGITTE! - interrompeu, fazendo uma pose dramática de engrandecimento.
- Você acha mesmo?
- É claro, jovenzinha! Mas antes, vamos ao que interessa: o pokémon! - disse ela estudando sua aprendiz de cima a baixo. - Você é bonita, precisamos arrumar algo que não roube seu show
No segundo seguinte, Munchlax saltava para a frente da dona e inflava o peito, porém logo deixava sua barriga cair e retornava ao normal. A idosa olhava da menina ao Pokémon, repetindo várias vezes antes de cair na gargalhada, como se ouvisse a melhor piada do mundo.
- Querida, não pode subir no palco com esse saco de batatas - disse ela rindo mais ainda. - O que ele vai fazer? Comer na frente dos jurados? Isso não é talento - completou limpando uma lágrima antes de rir mais um pouco.
- Não ofenda meu amigo!
- Você me ofende garotinha! - disse ela ficando séria. - Acha que sou uma piada? Estou aposentada mais ainda entendo o que querem, e adivinha? Ninguém quer VOCÊ!
- Nunca ouvi tanta bobagem em toda minha vida - disse uma outra voz feminina que parecia estar vigiando pela janela. - Esse lugar é decadente mas eu ainda acreditava nas pessoas, bem... estava errada - concluiu antes de se revelar na porta.
- Mil perdões, não queria que presenciasse isso... - respondeu a idosa adoçando a voz e quase fazendo uma reverência a figura que parecia reconhecer.
- Eu estava falando de você! - interrompeu. - Ouça, Brigitte, certo? Não deixe ninguém dizer que não pode fazer algo, se você tem um sonho, corra atrás dele!
- Isso é um ultraje em minha casa!
- Tudo bem! O tempo não para e estou perdendo meu descanso

Tudo acontecia tão rápido que a menina mal sabia o que fazer, estava paralisada no meio da briga. Por sorte, o urso estava bem alerta e perseguia a mulher, puxando a dona consigo.
- Vão me perseguir agora? Eu vou chamar meus seguranças
- Não é nada disso, perdoe-nos! Nós... eu... quero saber... é verdade o que disse?
- Sobre o lugar decadente? É claro! Não queria ofender, caso tenha entendido assim
- Não! - interrompeu. - Desculpa... na verdade, eu falava sobre meu sonho
- Quer ser uma Performer? - a menina acenava com a cabeça. - Não tem mais voz?
- Sim, desculpe! - exclamou acanhada. - Eu quero muito ser Performer
- Então seja, não importa o que digam, não importa o que façam. É sua vida, você sabe o que quer
A menina tentava não ficar nervosa, porém o olhar crítico da mulher pairava por todo seu corpo. Com um suspiro, ela tentava aliviar a tensão e finalmente endireitava a postura.
- É isso que eu quero, mas não sei como é! Por isso vim aqui
- Então o que eu deveria fazer? Te dar aulas?
- Não, não, não é necessário! Apenas... indique o caminho
Por alguns segundos, ambas se encaravam num silêncio que parecia ser infinito. Pela primeira vez Brigitte podia analisar sua futura tutora: era uma mulher formada, de cabelo preto com alguns fios grisalhos presos em um coque, estava bem vestida e parecia mexer incessantemente em algo nos bolsos do sobretudo.
- Tudo bem - concluiu.

O trio então começava a caminhar um pouco mais, até estarem em um campo aberto onde a mulher retirava a pokébola do bolso e a lançava pro alto. Do brilho azul surgia uma graciosa bípede de coloração roxa, que reverenciava.
- Mienshao, Brigitte. Brigitte, Mienshao - apresentou. - Muito bem, preste bem atenção, só vou fazer uma vez e então você vai tentar
Mienshao ficava ao lado da dona e fazia uma pose, depois iniciava uma tradicional dança de Twinfist, uma homenagem das gueixas aos samurais, sendo boa parte dos movimentos da cintura para cima, mantendo os pés colados ao chão.
- Mienshao use Aura Sphere e Swift!
Ainda nos passos de dança, o Pokémon criava uma orbe azul e a lançava ao alto, seguindo liberando estrelas. A esfera parecia atrair o movimento que fora utilizado em seguida, criando uma nova dança acima da cabeça da dupla. Mienshao dava um salto baixo para o lado, sendo acompanhada, logo ambas agitavam mais o ritmo consoante a combinação de movimentos em suas cabeças.
- Mienshao Drain Punch e finalize!
O punho da lutadora ganhava um intenso brilho vermelho e em um salto ela atingia a esfera, absorvendo parte dela e explodindo o restante. Enquanto pequenos brilhos verdes se formavam com a mistura do azul da esfera e do amarelo das estrelas, os braços de Mienshao se tornavam roxos, combinando com a coloração de seu corpo. Ela caia sob as costas da dona, que estava reverenciando e então a imitava.

Os olhos de Brigitte brilhavam com tudo aquilo, era a coisa mais linda que ja vira um pokémon lutador fazer, não se conteve nas palmas.
- Muito bem, agora é sua vez
- Eu... posso... - tentou argumentar vendo um olhar desconfiado surgir na tutora. - Não saber todos os movimentos do meu pokémon
- Só isso? - questionou, aparentemente entediada. - Então estude os movimentos com ele enquanto eu vou comprar um café, volto em alguns minutos
Cada segundo que passava parecia deixar a menina mais nervosa, porém Munchlax não estava afetado, estava muito confiante em mostrar todos os movimentos para a dona. Finalmente a mulher retornava, parecendo irritada com algo.
- Não terei muito mais tempo aqui, então você apresenta, eu digo o que achei e finalizamos
- Certo!
- Não me decepcione
Aquelas palavras foram quase como um tiro no coração da pobrezinha, seu maior medo era de fato decepcionar a todos, mas o olhar confiante do gorducho a dizia que tudo ficaria bem.
- Certo, vamos lá! Munchlax use Metronome!
Sem mais nem menos, a jovem comandava um movimento, sendo executado pelo pokémon. Munchlax recebia um brilho verde nos pés e golpeava o chão com força, criando um pequeno campo de flores tropicais a sua volta.
- Trop Kick, muito bem - sussurrou. - Munchlax use Odor Sleuth!
Mais um movimento era feito, onde um brilho surgia no meio do rosto do Pokémon e revelava como ele sentia as flores: os cheiros se tornavam rastros coloridos de perfume, que permitiu um ambiente agradável para Brigitte dançar com seu parceiro. 1, 2, 3; 1, 2, 3 era o que passava na cabeça da jovem que tentava não errar no movimento.
- Vamos finalizar! Use Defense Curl!
Se contorcendo até virar uma bolota, o Pokémon girava em torno do campo e criava um redemoinho colorido com os cheiros, depois fazia uma pose no chão enquanto a jovem saltava ao ver os cheiros dissiparem no ar junto com as flores no chão. Com o canto da boca, a mulher sorria, porém antes que sua aprendiz pudesse notar, ela ficava séria.
- Não gostei
- O que? Eu... achei que tinha feito tudo certo
- E fez - afirmou. - Mas Metronome é um movimento coringa muito arriscado, teve sorte do que saiu porque se fosse qualquer coisa a mais não acho que teria tanto sucesso - respirou antes de continuar. - Não fez nenhuma iniciação, simplesmente comandou um golpe, provando minha tese
- Entendo, obrigada
Brigitte ficava cabisbaixa enquanto a tutora a analisava. O momento era interrompido por um luxuoso carro preto que parava ao lado da mulher. O motorista de bom grado abria a porta e a convidava a entrar.
- Eu disse que precisava de mais 10 minutos
- Sinto muito, madame - explicou o homem. - Só sigo ordens
- Tudo bem, já terminamos aqui de qualquer jeito - disse ela virando para a menina. - Boa sorte Brigitte! Você tem futuro, mas reserve um tempo para pensar no que falei
Sem mais nenhuma palavra, a mulher entrava no carro e sumia de vista. A adolescente sorria abobalhada, porém se dava conta de uma coisa muito importante que não perguntara: o nome de sua tutora.

Ao mesmo tempo que vários nomes surgiam na cabeça da menina para tentar decidir qual seria o de sua tutora, a jovem se lembrava de algo muito importante: o treinamento na academia. Tentando ir o mais rápido possível, ela de fato chegava, porém as portas estavam fechadas, só abririam para liberar quem havia chego na hora. Brigitte não tinha outra escolha se não esperar. Retornando o urso para a pokébola, ela o escondia e tentava se aquecer num banquinho ao lado do local.
Quando finalmente o portão abria, diversas pessoas saim de lá contentes, inclusive sua família. Porém ao notar a presença da filha, o olhar da mulher alterava para uma decepção tremenda.
- Você está de castigo

Sem mais nenhuma palavra, a família seguia para casa.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

Havia passado longas horas desde a volta para casa, porém o clima continuava tenso. Brigitte estava trancada no quarto enquanto sua família conversava sobre como comemorariam aquela noite, afinal, não era uma qualquer. O Festival das Lanternas era uma tradição para lembrar dos mortos e desejar um futuro próspero aos vivos, a adolescente o adorava. O sol estava se pondo no horizonte dos pés de berry, deixando-a bem pensativa sobre o que havia aprendido hoje: de fato não era grande coisa para qualquer um, mas era tudo para ela. Loman interrompia seu devaneio com um suave toque na porta e a convidava pra jantar.
Todos se sentavam ao redor da mesa, notando que dessa vez havia apenas pão e alguns recheios para ele. Seria encarava severamente todos a sua volta antes de começar a falar.
- A noite das lanternas, por isso, o jantar será mais leve - respirou fundo antes de sorrir. - Pois hoje vocês poderão comer o que quiser no festival!
A família começava a tocar um a mão do outro, de maneira comemorativa. Porém todos retornavam a ficar quietos quando a mulher levantava e ia até a cozinha, apanhava uma tijela com sopa e colocava na frente de Brigitte.
- Menos você - decretou. - Mostrou não estar interessada em nossa cultura, então poderá ficar em casa
- Querida, isso é realmente...
- Não ouse - afirmou, interrompendo o marido. - Está dito e será feito! Brigitte fica
Todos ficavam mais alguns segundos em silêncio, aguardando Seria pegar na faca para cortar o pão e enfim iniciar o jantar. Apesar de felizes, por hora, todos pousavam os olhos sobre a adolescente e se sentiam pra baixo. Com tudo terminado, os pais levavam a louça para a cozinha.
- Não vai ser o mesmo festival sem você - disse Loman quebrando o silêncio.
- É, você é a alma da festa - completou Gladi.
- Então pensem que estou lá, afinal, o festival é sobre o passado e futuro! - animou, surpreendendo os gêmeos. - Ano que vem estarei lá, então comemorem isso

Nos minutos seguintes, a família se preparava para o festival buscando um dos melhores kimonos no guarda roupa. Brigitte sorria para todos eles, ainda que sentisse um peso de ser deixada de fora. Por fim, eles davam adeus para ela e caminhavam para fora com belíssimas lanternas em mãos. Sabendo que ficaria sozinha por longas horas, a menina caçava coisas produtivas para fazer, revirando seu quarto em busca de coisas perdidas. Tentando limpar o pó embaixo da cama, ela empurrava um objeto em formato oval.
- O que é isso - disse apanhando o item no colo. - Ah sim... Lucky Egg, vovó meu deu de aniversário - falou sozinha, antes de notar que não havia liberado Munchlax. - Desculpa, venha!
A esfera bicolor abria, liberando o gorducho que estava cochilando. Brigitte o cutucou suavemente até acorda-lo. Sem nem mesmo abrir os olhos, ele apanhava o ovo da menina e tentava engolir.
- NÃO! - disse puxando-o, virando uma disputa. - Isso não é pra comer, devolva agora!
Soltando o item, ambos pegavam fôlego. Subitamente, suas atenções eram no ovo: estava reluzindo de uma maneira tão bonita que quase cegava. Munchlax se aproximou e abraçou o item, sentindo uma conexão estranha com ele. Logo depois ele subia no banquinho da penteadeira e se encarava no espelho.
- Exibido - disse sorrindo
Encarando por mais tempo o Pokémon agarrado com o item, ela o via apanhar alguns acessórios e colocando aleatoriamente sobre o corpo. Brigitte podia quase garantir naquela hora que uma lâmpada acesa pairava sobre sua cabeça. Auxiliando o ursinho a sentar, ela abria suas gavetas e retirava uma série de maquiagens, mostrando com orgulho pro amigo.
- Mamãe só me deixa usar isso em ocasiões especiais, então, acho que isso é especial... certo?
Munchlax sorria animado e relaxava na cadeira, deixando que sua dona testasse os diversos produtos sobre seus pelos. Surpreendentemente, por serem naturais, as cores se aplicavam de maneira magnifica. O pó branco era aplicado por boa parte do rosto, deixando apenas alguns detalhes feitos com uma sombra dourada em formato de estrelas. Ela concluiu o trabalho jogando um pouco de glitter no restante do corpo.
- Está feito, você está tão radiante quanto o ovo!
O Pokémon ficava maravilhado ao se olhar no espelho pela primeira vez. Seus olhos reluziam tanto quanto seus pelos. Decidido, ele puxava a dona para perto.
- O que foi Munchlax? - questionou, vendo o ursinho apontar para a maquiagem. - Quer me maquiar? - sorriu com o aceno de cabeça. - Tudo bem!
Não tendo tanta prática, ele olhava para todos os pincéis e ficava indeciso, acabando por pegar três por vez e misturando no pó branco. Passou diversas vezes até a menina parecer um fantasma, depois pegou o batom e passou na bochecha. Concluiu o serviço utilizando sombra roxa e esfumaçou no nariz, parecendo que levou um soco. Brigitte enfim abria os olhos e se encarava no espelho, arregalando os olhos.
- Munchlax... isto... é... - travou antes de encarar o amigo com medo. - INCRÍVEL!
Num pulo, ambos se abraçavam antes de caírem no chão e gargalharem. A maquiagem estava confusa, mas a jovem não tinha mentido, apreciava o esforço do amigo e era tudo o que importava naquele momento.

A dupla passou os minutos seguintes deitados no chão jogando damas. Apesar de não entender muito, o gorducho sorria com cada jogada e não se importava de perder. As velas estavam quase no fim, por isso a luz estava mais fraca, no entanto, subitamente, uma enorme luz invadia o quarto. No horizonte surgiam as primeiras lanternas do festival, aquelas que marcavam a lembrança dos mortos. Brigitte debruçava na janela e esticava a mão como se alcançasse uma das lanternas;
- Obrigada pelo presente Vovó, Munchlax adorou - disse sorrindo, antes de começar a lacrimejar. - Sinto sua falta...
No mesmo segundo que uma lágrima corria, o gorducho agarrava a perna da dona num abraço. A adolescente então puxava o banquinho para mais próximo dela, deixando que o Pokémon pudesse ver o festival de longe.
- Você tem alguém Munchlax? Que quer se lembrar pra sempre?
O silêncio tomava conta do momento, até ele pegar na mão da menina e fazer algum barulho como se tentasse falar. Quando virava para o amigo, a menina via um dedo apontado para ela e logo caia no choro.
- Oh Munchlax - disse abraçando apertado. - Eu jamais vou esquecer de você
Enquanto estavam dividindo aquele momento, a menina podia se ver no espelho e tinha uma ideia que poderia complicar mais ainda sua vida, mas que com toda certeza valeria a pena.
- O que acha de irmos até o festival? - disse saindo do abraço. - Com essas maquiagens, não vão nos reconhecer... vamos!
Auxiliando o Pokémon a subir, a dupla saia pela janela mesmo, partindo através da plantação em direção ao festival. Não demorou para que chegassem no local, sentindo o suave cheiro da tradicional comida. Munchlax forçava a dona a parar em cada barraquinha e apanhar pelo menos dois pratos do cardápio. Mal passava uma hora e todo o dinheiro já havia esgotado.
- Sinto muito, não sobrou mais nada
Ambos caminhavam com desânimo até um parquinho ali perto, apesar de cheios, não poderiam comprar nenhuma lanterna pro festival. Brigitte se jogou no gramado e olhou para o céu, observando as estrelas brilharem. O ursinho, por sua vez, escalava o escorregador e descia animado, soltando um grito no caminho.
- Você não devia fazer isso, vai soltar tudo o que comeu
Apesar do aviso, ele não parecia estar mal, continuando a brincadeira. Decidida a apoia-lo, ela o convidava para o balanço e o empurrava levemente.
- Me desculpa por não ter controlado o dinheiro, mas pelo menos estamos juntos e aqui... será melhor ver as lanternas
- Tanto sentimentalismo, quase me fez chorar - disse uma conhecida voz feminina que se aproximava.
- É você!... Como é seu nome?
- Sorano
- Uau, é diferente do que imaginei
- Desculpa ter te decepcionado - disse sarcasticamente. - Está jogada nesse canto, por quê?
- Torramos nosso dinheiro em comida, agora vamos apenas assistir as lanternas
- Isso então - comentou remexendo nos bolsos. - Vamos, eu compro uma lanterna pra vocês
Animada, ela seguia sua nova tutora, que agora tinha um nome: Sorano. Era incomum, mas de algum jeito, servia muito bem nela. Na barraca de lanternas, Brigitte escolhia uma amarela com detalhes de estrela, claramente sendo um presente pro amigo que sorria abobalhado. Antes que abandonassem a venda, uma mulher entregava um pote dourado com furos na tampa, claramente um incenso.
- Certo, como eu prometi, sua lanterna - disse antes de esticar a mão e entregar o item que ganhara da vendedora. - Leve isso também, um Lucky Incense, dizem que traz energias boas... considere um presente e um desejo de boa sorte
- Não ficar pras lanternas finais?
- Não me entenda mal - disse respirando fundo. - Eu já acreditei nisso, mas... não faz diferença hoje em dia
- Vou fazer um desejo por você então
- Boa noite, Brigitte - concluiu sorrindo e desaparecendo na escuridão da noite.

Após mais algumas horas, todos os moradores começavam uma passeata na direção do mar, anunciando que chegara a hora de liberar as lanternas finais, aquelas com desejos e aspirações. Após uma pequena caminhada, todos se viam a frente para a água, se espalhando e acendendo as lanternas. Brigitte olhava para os lados, sentia falta da família, mas sabia que aquele momento era especial dela e de Munchlax. Com o auxílio de uma idosa solitária, ela acendia a lanterna e segurava juntamente com o amigo.
- Que daqui um ano possamos retornar aqui e nos orgulharmos do que nos tornamos - disse antes de se calar e permitir que o amigo tentasse. - Que seu pedido se realize - a menina quase soltava a lanterna, porém segurava firme ao se lembrar de uma última coisa. - Que... o que um dia minha tutora, Sorano pediu e não se concretizou possa ser atendido
Liberada enfim, a lanterna se erguia com todas as demais, brilhando na imensidão negra do céu. Uma brisa forte passeava entre os moradores que estavam reunidos, o que na lenda, significava que os desejos haviam sido recebidos. No caminho de volta, a menina comprava um último espeto de morango com chocolate com os trocados da lanterna e o entregava pro Pokémon.
Em casa, a dupla retirava a maquiagem da cara e logo se jogavam na cama. Brigitte estava muito cansada para notar que havia esquecido de guardar o amigo na pokébola. Minutos depois a família retornava e a mãe ia checar a filha. Seria assustava com a presença do ursinho, mas não falava nada, apenas apanhava alguns cobertores e jogava sobre eles. Com um beijo na testa, ela partia para o próprio quarto.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

A manhã fria iniciava mais uma vez naquela pequena vila, deixando todos mais preguiçosos. Mas Seria não era uma mulher que deixaria os filhos faltarem da aula simplesmente por estarem com preguiça. Pegando duas tampas de panela, ela acordava a casa toda. Bernheim, que estava sentado na mesa tomando uma caneca de café, gargalhava com a cara péssima dos filhos. Os pais acabavam por notar um novo membro na família: o ursinho que seguia a garota.
- Novo amigo Brigitte? - questionou o pai.
- Hã? - questionou confusa, até olhar pro lado e sentir sua alma sair do corpo.
- Nem tão novo - adiantou a mãe. - Já faz uma semana que ele está aqui como clandestino
Todos encaravam a mulher, confusos. Como ela, tão centrada nas tradições do povo de Twinfist, permitia que um Pokémon Normal fosse treinado pela filha. No entanto, Seria nada fez, apenas remexeu o chá e tomou graciosamente.
- Então... tudo bem ele ficar?
- Sim
Brigitte sorria animada, não precisava mais tratar o amigo como um intruso. Agarrando diversos itens no prato, ela virava tudo na boca do Pokémon, que como sempre, engolia sem mastigar nada. A mulher encarava a cena pensativa, realmente parecia tentar achar uma função útil para o amigo da filha.
- Ele come qualquer coisa? - questionou.
- Nunca tentei dar nada além de comida comum, mas a professora disse que o estômago dele suporta tudo
- Bom... caso ele ainda tenha fome e queira comer parte dos berrys que começaram a apodrecer, fique a vontade
- Obrigada mãe, ele vai adorar!
Assim se sucedeu o café, sem nenhum assunto fora do comum, apenas o velho e bom papo sobre as artes marciais até sobrar apenas migalhas na mesa.

Dispensados, os gêmeos ajudavam a irmã a recolher algumas berrys antigas no canto da plantação, seriam um lanche para o gorducho. Brigitte era dois anos mais nova que os irmãos, o que a fazia estudar numa escola diferente e por sua vez, a parte de seu caminho ser sozinha. Por sorte, ninguém parecia interessado em estudar naquela geada, sendo a primeira vez que ela ia sem ter que aguentar qualquer piadinha. Mas de fato, aquele seria um dia bem calmo: a adolescente era a única de sua sala, mas como já estava acostumada a ficar sozinha, mal sentiu a diferença.
Talvez o dia estivesse calmo demais para algo não dar errado, sendo exatamente o que sucedia. No caminho de volta para casa, Brigitte encontrava os colegas de classe brincando na rua até notarem sua presença.
- Olha quem foi para a escola - disse um dos garotos
- O animalzinho dos professores - caçoou a única garota.
Irritado, Munchlax se colocava a frente da menina e serrava os punhos, chamando todos para uma briga.
- Esse é o seu amigo? - questionou a menina. - Não me surpreende, vocês são bem parecidos: dois perdedores
O ursinho se enchia de raiva, mas sabia que não podia ferir ninguém sem que a dona permitisse. Para isso, ele simplesmente liberou sua enorme língua e a passou no rosto da menina, deixando totalmente babada. Brigitte ria.
- Acha isso engraçado, cabeça de salsicha? - disse irritado um dos meninos. - Vamos ver se você gosta disso
Todos apanhavam uma pedra e atirava contra o Pokémon, que logo era protegido por um abraço da dona. A adolescente esperava o impacto das pedras, mas eles não aconteciam. Retornando a olhar pros seus agressores, a menina via um pokémon igual ao dela, com uma bolha esverdeada ao redor do corpo, protegendo todos das pedras.
- Crianças nojentas, não ousem ofender a espécie de minha Pokémon - alertou um garoto que surgia de um dos becos. - Munchlax, sinta-se a vontade para fazer o que achar melhor
Com um sorriso tão malicioso quanto do dono, a ursinha utilizava Metronome e liberava uma carga elétrica que atingia todos os encrenqueiros, além de afugenta-los. Brigitte soltava lentamente seu companheiro e encarava seu salvador. Por alguns segundos, ela viu uma expressão nervosa no rosto do menino, mas parecia que ao analisar de fato a menina, sua expressão alterava.
- Acho que salvei o dia, não é senhorita?
- Sim, obrigada - disse esticando a mão para um aperto. - Me chamo Brigitte
- Sawyer, é um prazer - respondeu apanhando a mão da menina para um beijo.
- Eu... acho... que... eu deveria ir - gaguejou a menina corando.
- Não irá fugir tão rápido - disse bloqueando a passagem. - Eu insisto que venha comigo, eu pago um chocolate quente... para os dois
A dupla de treinadores olhava os Munchlax se encararem sorrindo. Brigitte não poderia recusar, então a única saída era acompanha-lo. O grupo acabava numa vendinha local, apanhando grandes copos de chocolate quente antes de se aconchegarem num banquinho.
- Muito bem, Brigitte... me fale sobre você - iniciou o garoto.
- E-eu? Como o que?
- Não sei, qualquer coisa! Tudo será novidade pra mim
- Deixa eu ver... sou a terceira filha da família... meus irmãos mais velhos são gêmeos... minha família é dona da plantação de berrys daqui...
- Espera! Berrys? Está falando sério? - interrompeu o garoto.
- Sim! É algo ruim?
- Não! É ótimo! - exclamou. - Meu pai costumava ser desse ramo
- Isso é legal, o que ele faz agora?
- É complicado... não é algo convencional, mas necessário pra um mundo melhor
- Se for para tornar o mundo melhor, deve ser algo bom
- Conheço pessoas que não diriam isso, mas aprecio que pense assim
Antes que pudessem continuar o papo, um aparelho vibrava no bolso da blusa do garoto.
- Essa é minha deixa, lamento - se despediu virando de costas, porém voltando na metade do caminho. - Se... estiver interessada em continuar, venha aqui mais tarde

Brigitte não estava nem na metade do chocolate quente, mas não poderia perder mais tempo ali, virando o restante do copo na boca do amigo e retornando pra casa. Apesar de ser a única presente, a professora deixava lição de casa. Enquanto escrevia a redação sobre a diferença da língua de Twinfist e do restante de Aurille, ela acabava por recordar do convite do menino. Munchlax se animava com o sorriso da menina, era a primeira vez que havia sido tratada bem por um estranho. Seu devaneio era quebrado com a chamada da mãe para a sala.
Apreensiva, ela sentava ao lado da família e via o volume do rádio aumentar com todos focados nele. A interlocutora então anunciava:
- Atenção cidadãos de Twinfist! A polícia local informou uma movimentação estranha do que parece ser uma nova facção criminosa. Se notarem qualquer atividade suspeita, por favor, informe um oficial o mais rápido possível. Boa noite e retornaremos a programação normal
Todos ficavam tensos com as noticias, talvez se questionassem o que poderia ocorrer numa vila tão pacífica. Fazia anos que ninguém era preso, mas aparentemente as coisas estavam para mudar. Seria se apressava em correr para olhar pela janela, buscando qualquer suspeito em suas terras.
- Poderão sair dessa casa enquanto o sol estiver no horizonte, porém antes dele se pôr, quero todos de volta. Entendido? - decretou firmemente, recebendo respostas positivas. - Não tenham medo de usarem o que lhes foi ensinado para combater qualquer mal
A família retornava as atividades normais com uma leve preocupação no olhar. Brigitte não parava de pensar em Sawyer, acreditava que ele poderia se defender, mas talvez não contra mais de um inimigo. Decidida, ela apanhava a bolsa e o parceiro, partindo para o local onde haviam tomado o chocolate quente. No banquinho estava o garoto sentado, olhando para todos os lados até finalmente encontrar quem buscava.
- Você veio
- Eu estava preocupada - disse corando levemente. - A policia disse que há criminosos, achei que você deveria ser avisado
- Se preocupou comigo? É bom saber disso - argumentou, quase como se tivesse ignorado o restante da frase.
Os dois ficavam ali, frente a frente, se encarando nos olhos. Brigitte sentia um frio estranho na barriga, não podia negar a beleza do garoto. O cabelo loiro perfeitamente penteado, os olhos azul claro e aquele sorriso ficariam marcados eternamente nas lembranças da menina. Tudo aquilo era atrapalhado por um walk talk dentro do bolso do menino, que ruía antes de uma voz feminina dizer "Fique preparado, está quase na hora".
- Eu sinto muito, de verdade, mas eu preciso ir novamente - disse o garoto, vendo a cabeça da menina abaixar. - Ouça, eu aprecio que tenha vindo me avisar, mas eu juro que tudo vai ficar bem!
Sem mais nenhuma palavra, ele soltava a mão da menina e saia correndo. No entanto, a adolescente era praticamente formada em detecção de mentiras: havia algo errado e ela ia descobrir.

Seguindo sorrateiramente o mais novo interesse, a jovem acabava num terreno vazio, consideravelmente afastada da cidade. Esgueirando pelas moitas, ela via um caminhão chegar e diversas pessoas uniformizadas levarem caixas de madeira para ele. Parecia algo pesado visto que um quarteto de Machamp auxiliava. Tudo aquilo era suspeito, trazendo a notícia do rádio na memória da menina. Se o palpite dela estivesse certo, Sawyer estava em perigo.
Num passo em falso, a garota pisava num galho, atraindo a atenção de dois uniformizados que patrulhavam. Um deles rapidamente prendia os braços da menina e a levava mais perto do restante.
- Ei, ei! O que estão fazendo? Soltem ela imediatamente - ordenou Sawyer, irritado.
- Temos ordens de imobilizar qualquer ameaça
- E eu estou dizendo que ela não é ameaça! Libertem-a agora!
A dupla de seguranças soltava o braço da menina e se afastava, porém a baderna já havia sido formada.
- Sawyer o que você está fazendo?
- Como eu disse, esse é um projeto pra um mundo melhor... venha! Eu te mostro - disse esticando a mão.
- Não! - gritou, assustando-o. - O noticiário disse que eles são pessoas ruins
- Como eu disse, haveria pessoas que questionariam nossos métodos
- Eu me enganei sobre você... como pude ser tão burra? - gaguejou, sentindo o olho lacrimejar.
- Não queria te machucar Brigitte, ainda não quero! Mas preciso que confie em mim
- Eu vou embora daqui e contar tudo para a polícia
A adolescente tentava se recompor, mas sentia uma dor tremenda no peito. A única pessoa que um dia fora gentil com ela não era do bem. Decidida a consertar as coisas, ela tentava sair, mas era barrada pelos seguranças.
- Temo que não posso deixa-la ir - afirmou o garoto com certo pesar na voz.
- E quer que eu confie em você? - trovejou, deixando-o recuado. - Saiba que eu não desisto sem uma briga
- Continuem o processo, eu vou mantê-la ocupada - ordenou, fazendo os demais uniformizados voltarem ao trabalho.

vs

- Não pense que vou pegar leve só por que você é bonita - provocou, deixando a adversária corada. - Munchlax use Defense Curl depois Tackle!
- Não esperava menos! Munchlax use Metronome e Tackle!

A ursinha do criminoso se ajeitava para formar uma bolota com o corpo, aumentando a defesa. Do outro lado, o gorducho da Performer mexia os dedinhos, que brilhavam por alguns segundos antes de se apagar. Logo em seguida, Munchlax piscava, liberando um coração que explodia no rosto da adversária e a deixava apaixonada, imitando um Attract.
Apesar de apaixonada, a gorducha não deixava de tentar atacar seu alvo, correndo em sua direção para uma colisão corporal. Como fora igualmente comandado, o Pokémon também corria, acabando por trombar com ela e ambos serem jogados para trás.

- Sua parceira está apaixonada pelo meu, parece que está sendo contagioso - retrucou, contando a clara vantagem. - Munchlax use Amnesia e Metronome
- De fato ambos são irresistíveis - comentou sem nenhuma vergonha. - Mas acredito que isso ajude minha pequenina a sair desse efeito! Munchlax use Metronome para acompanha-lo!

Sawyer lançava uma fruta azulada direto para a boca da parceira, que engolia e logo se libertava da paixão. Munchlax fingia demência e acabava por receber uma proteção extra ao redor do corpo.
A dupla de ursos mexia os dedos afim de imitar algum movimento. O Munchlax da menina recebia uma luva gelada no punho e o desferia com força contra a adversária, imitando Ice Punch. Esta, por outro lado, terminava o movimento e caia dura no chão, dormindo e recuperando toda a vida, imitando Rest.

- Eu estaria apavorado, mas por sorte tenho uma carta na manga - comentou o criminoso sorrindo. - Munchlax Sleep Talk!
- Tackle e Metronome!

Levantando desengonçadamente, mas ainda dormindo, a gorducha corria na direção adversária e o dava um empurrão. O ursinho tentava imitar o movimento, mas acabava por tropeçar na adversária e errar ridiculamente o movimento.
Ambos se recuperavam executando os outros movimentos aleatórios, sendo que a dorminhoca invocava Amnesia e aumentava a própria defesa. Surpreendentemente, o ursinho da performer ganhava um brilho vermelho nas duas mãos, batendo-a com força ao executar um Wake-Up Slap. A Munchlax fêmea acordava na hora, porém tinha uma grande quantidade de feridas no corpo.

- Desista Sawyer!
- Como se eu pudesse... Protect e Metronome!
- Tackle duas vezes, encerre isso!

Ofegante, a gorducha lentamente girava os braços na frente do corpo, porém conseguia levantar o escudo na mesma hora que ia ser atingida, sendo protegida. Infelizmente, sua sorte não se repetia, pois no meio da invocação de Metronome, ela era golpeada e enfim caia desmaiada.

- Eu perdi e aceito isso, obrigado Brigitte
- Não parece tão abalado
- Terminamos senhor! - sussurrou um capanga.
- Como eu disse: não vou te machucar, mas precisava mantê-la distraída... até mais!
Retornando a ursinha para a pokébola, Sawyer grudava na traseira do caminhão e mandava um beijo para a antiga amiga, atual rival. Brigitte olhava o automóvel sumir de vista, caindo de joelhos e chorando descontroladamente. Munchlax tentava conforta-la, mas não parecia o suficiente.
- Vamos embora, já vai anoitecer
Retornando para casa correndo e em lágrimas, a menina acabava por encontrar a mãe do lado de fora e logo pulava em seu abraço. A mulher estava confusa, porém sabia que não era hora de questionar nada. Retribuindo o abraço, ela guiava a filha de volta para o conforto do lar.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

Mais uma manhã iniciava em Twinfist Village, trazendo a costumeira baixa temperatura do Outono. Brigitte levantava com dificuldade, estava muito chateada para fazer qualquer coisa. Munchlax tentava anima-la fazendo cócegas, mas até mesmo a sensibilidade da menina estava abalada. A família estava reunida na mesa, cochichando sobre o motivo da mãe ter permitido que ela ficasse mais tempo na cama.
- Ela precisa de um tempo para absorver o que aconteceu - comentou a mãe. - Mas por favor, não comentem sobre o assunto. É algo que ela deve superar sozinha
Todos quase que saltavam ao ouvir a porta da menina deslizar e abrir, encarando-a com um sorriso forçado. Brigitte não ligava muito, cumprimentava a todos e sentava apanhando um pão. Seria mantinha contato visual constante com a filha, notava que o rosto inchado era um sinal perigoso para a beleza, mas não tinha coragem de comentar.
Com tudo terminado, Loman e Brigitte apanhavam a louça e levavam para a cozinha. Era a vez deles de fazer essa tarefa. O menino agilizava tudo, deixando apenas algumas coisas para a irmã. Em seguida, ele retirava alguns ingredientes dos armários e da geladeira e colocava na bancada.
- Estou pensando em criar uma receita nova, quer me ajudar? - perguntou animado.
- Claro, por que não - respondeu de má vontade.
Brigitte não era especialista em receitas como o irmão, mas apenas de olhar o que estava a seu dispor podia deduzir que se tratava de um bolo. Loman separava algumas das coisas e passava para a menina junto com uma bacia.
- Coloque essas medidas e mexa constantemente, por favor - orientou gentilmente.
A adolescente tomava um extremo cuidado com a tarefa que havia recebido, criando uma mistura simples. Mantendo o ritmo, ela observava o irmão cortar diversas berrys e experimenta-las, tendo uma reação para cada gosto. Eles sorriam ao se encararem.
- A Berry vai fazer o recheio, preciso achar a perfeita
- Você é muito bom nisso, por que não faz com frequência?
- É complicado - respondeu cabisbaixo.
Brigitte não queria questionar, entendia o que ele queria dizer. A tradição de Twinfist era colocar todos em academias de luta e praticar as mais diversas artes marciais, porém sonhos externos sempre surgiam e eram pressionados até a desistência. Retornando pra vida real, ela era auxiliada a transferir o conteúdo para uma forma e enfim começava a esquentar o bolo. Loman finalizava o recheio e se preparava para a cobertura, ficando desesperado caçando algo.
- Brigitte você pegou o pote de Casteliacone daqui?
Com o fim do questionamento, um som de coisa sendo engolida atraia a atenção da dupla para verificar atrás do balcão. Munchlax estava lá, sentado com o pote vazio na mão.
- Essa não... era o último pote - disse entrando em desespero. - O que vamos fazer agora?
- Respire Loman! Basta você ir comprar mais!
- Estavam nos últimos estoques, o Inverno ainda não chegou então com certeza estão zerados
- Vá ter certeza, eu cuido do bolo, certo?
- Tudo bem! Eu volto logo, cuidado!

Com a preparação estagnada, a menina acabava de recordar que se esquecera de molhar as flores no jardim, se apressando em encher o regador e correr até elas. Ainda de longe ela notava que uma criatura voava e sugava algo das pétalas, deixando-a preocupada. Se aproximando, ela identificava a espécie: Combee. Havia estudado sobre os insetos a pouco tempo, por isso tudo estava muito fresco em sua memória, o que a deixava calma quanto a presença.
- Olá! Gostando das flores?
Perguntou, assustando a abelha, que tentava se esconder atrás das flores. Porém ao notar o sorriso gentil na menina, ela acabava por se revelar e retribuía. Munchlax surgia um tempo depois, carregando varias berrys no colo e assustava com a presença de uma "ameaça". Combee rapidamente deslizava ao chão e mordia algumas das frutas, ficando extremamente satisfeita.
- Uau, ela parece faminta - comentou a adolescente, deixando o amigo enciumado. - O que faz aqui? Não devia estar na colméia?
Combee fazia alguns barulhos estranhos, papeando bastante, porém a garota era incapaz de entender. No meio da "história" do que havia acontecido, o inseto se entristecia, aparentemente algo ruim havia acontecido. Brigitte colocava a mão sobre a voadora e tentava conforta-la.
- Não se preocupe, está a salvo aqui! - disse retornando a molhar as plantas. - Pode me ajudar aqui se quiser, além de coletar um pouco de pólen
A abelha se aproximava mais do jardim e parecia beijar a flor, ficado com um pó amarelado grudado no rosto. A cabeça central, que possuía uma marca vermelha na testa parecia ser a líder, afinal, era a única que possuía um corpo fora do favo. Munchlax ficava ciumento com toda a atenção no novo Pokémon, mas sentindo um aroma vindo da casa, retornava sua atenção para o que lhe interessava: o bolo. Brigitte a toda velocidade entrava na casa e desligava o forno, tremendo de medo.
- Não tenha queimado, por favor!!
A aparência estava perfeita, assim como a textura. Respirando fundo, ela acabava notando que o inseto havia a seguido até dentro de casa. Combee sentia aquele cheiro e liberava uma fina fumaça rosada, com um aroma adocicado e relaxante.
- Vejo que gostou, mas não podemos comer ainda! - comentou, cobrindo o bolo. - Meu irmão está preparando algo especial, mas prometo que quando finalizarmos, você terá um pedaço - o ursinho a cutucava. - Você também querido

Brigitte retornava o bolo para o forno desligado, apenas para mantê-lo aquecido. Minutos se passavam até o retorno ofegante do irmão, que apanhava um suco de Sitrus Berry antes de começar a falar.
- Sinto muito maninha - comentou envergonhado. - Não tinha mais nenhum pote à venda
- Não é culpa sua - disse colocando a mão no ombro do menino. - Vamos dar um jeito, sempre fazemos isso
A dupla acabava por começar a unir as berrys novamente, iriam fazer um caldo comum e jogar no bolo. Loman não estava contente com aquilo, já tinha feito de todos os tipos, queria algo inovador. Combee via o trabalho árduo dos humanos e se motivava a fazer algo. Voando até a jarra de suco, ela engolia a mistura de Sitrus Berry açucarada e parecia fazer algo. O rosto do favo ganhava um líquido grosso que caía suavemente num prato. Loman olhava e sorria com o acontecimento, mergulhava o dedo e provava a criação do inseto.
- MEL! CLARO! - gritou, abraçando a irmã e o Pokémon. - Como não pensei nisso! É genial!
- Combee, pode produzir mais para que possamos concluir o bolo?
Determinada, a Pokémon retornava ao jardim para apanhar mais pólen, sugava o suco e iniciava o processo de criação. Dessa vez, a abelha central parecia ser a única a produzir o produto, contendo um brilho mais dourado que o mel anterior. Tudo estava pronto: só faltava comer.
- Mãe, Pai, Gladi! Venham aqui, temos uma surpresa pra vocês
A família se reunia ao redor da mesa mais uma vez, todos com os olhos no belíssimo bolo dourado. Seria então olhava para os filhos com um grande orgulho no peito.
- O que temos para esse café da tarde? - questionou.
- Bolo branco com recheio de Nanab Berry e... - disse Loman, deixando uma brecha pra irmã.
- Mel de Combee! - animou, revelando o inseto que sorria para todos.
A reação da família não era positiva, de fato eram estranhos ao tipo Voador devido a vantagem deles contra os Lutadores, porém todos se recompunham quando eram servidos com um grande pedaço de bolo. Seria pegava o primeiro pedaço, fechando os olhos antes de coloca-lo na boca. Sua expressão se alterava na hora para quem havia comido a coisa mais divina do mundo.
- A cada dia você se supera Loman, obrigada por compartilhar seu talento conosco - comentava a mãe.
- Fico feliz que tenham gostado, mas não seria nada sem a ajuda dessa dupla - afirmou o garoto apontando pra irmã e pra abelha.
- Certo, bom trabalho vocês duas - elogiou, antes de ser cutucada pelo gorducho. - Munchlax ajudou também?
- Digamos que se ele não tivesse roubado o Casteliacone, não teríamos tentado usar mel
A família gargalhou enquanto dividia e apreciava os últimos pedaços com seus respectivos Pokémon.

Se aproximando do fim da tarde, Brigitte se juntava a Combee, que voava do lado de fora e apreciava as diversas cores das árvores de Berry. O inseto mais uma vez soltava o aroma doce para relaxar a nova amiga, depois se aproximava dela.
- Acho que é agora que nos despedimos não é? - comentou com tristeza. - Não se preocupe, vamos ficar bem!
A voadora encarava a menina por alguns segundos antes de começar a chorar e voar contra a barriga da adolescente. Perdida no que estava acontecendo, ela apenas recebia a pequena no abraço. Por alguns segundos a Performer raciocinava, tentava lembrar qual o único motivo para aquela pequenina estar perdida. Paralisada, uma luz surgia em sua mente.
- Não vai voltar pra casa, não é? - disse lacrimejando. - Você não tem mais casa
Combee concordava sem tirar a cara da barriga da menina, estava muito envergonhada. Brigitte, no entanto, tinha a solução perfeita. Mexendo nos bolsos lentamente, ela retirava uma esfera bicolor e mostrava ao inseto.
- Sabe, você pode ficar - convidou, cessando as lágrimas da amiga. - Eu adoraria que ficasse - completou sorrindo.
Sorrindo da maneira mais pura que qualquer um já tinha visto, o favo encarava o ursinho que assistia toda cena, desejando uma permissão. Munchlax se aproximou e apanhou um pouco de mel preso no corpo da Pokémon, lambendo os dedos e acenando com a cabeça. Com um último movimento, a abelha batia a testa na Pokébola e era sugada sem resistir, concluindo a primeira captura da Performer.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

Três dias se passaram desde o ocorrido com a nova facção criminosa que surgia em Aurille, mas sem novas notícias. A vila de Twinfist parecia pela primeira vez retornar aos eixos, onde as crianças ficavam até tarde brincando na rua. Apesar de toda a calmaria, Seria era desconfiada o suficiente para manter a guarda alta. Brigitte já havia se esquecido do garoto que um dia a machucara, estava muito ocupada cuidando do jardim com a nova amiga, era tudo o que precisava.
Quando o sol pairava exatamente no meio do céu, a família se reunia para o almoço, dessa vez com o rádio ligado, o que era algo incomum. Seria mastigava lentamente quando a música subitamente foi interrompida e o barulho do plantão iniciava.
- Interrompemos a programação para um alerta: diversos Pokémon aprimorados estão surgindo pelas regiões. As autoridades afirmam terem alguma ligação direta com a facção criminosa - disse a locutora.
- De algum jeito, esses Pokémon possuem um poder quase equiparado aos já conhecidos Alfas, então evitem ao máximo confronto... - disse a voz do prefeito, sendo cortado com o rádio desligando.
- Acabou a pilha - afirmou o marido.
- Por que não avisou antes que estavam acabando? - questionou a mulher nervosa.
- Eu avisei, mas acho que você não prestou atenção
- Bom, tudo bem. Eu tinha que ir a feira mesmo
- Posso ir Mãe? Quero apresentar a vila para Combee
- Toda ajuda será bem-vinda
Encerrada a refeição, as mulheres saíam de casa e caminhavam na direção central da vila. Ambas compartilhavam um sorriso ao ver as diversas barracas formadas ao redor da praça, exibindo tudo o que havia de melhor na culinária local.
- Pegue as pilhas para mim. Nos encontramos na barraca de pastel - comentou a mulher antes de se separar da filha.
Brigitte andava orgulhosamente com seus dois Pokémon. Apesar das reações estranhas, ninguém parecia estar interessado em criar algum conflito. Ela finalmente encontrava a única barraquinha que vendia coisas elétricas, recebendo um sorriso da atendente.
- Boa tarde Brigitte, o que vai comprar hoje?
- Boa tarde Laura, pilhas, por favor!
- Certo... não quer mais nada? - questionou sem nem mesmo esperar a resposta e colocar coisas na frente da menina. - Veja essa câmera fotográfica, é uma novidade!
A adolescente encarava animada aquele aparelho, apesar de ter uma aparência nada moderna, era realmente novidade para ela.
- Como funciona?
- Junte-se com seus Pokémon, vou mostrar
Abraçada aos parceiros, a menina sorria para a lente até um brilho forte e branco quase a cegar. Recuperando da surpresa, ela via a câmera liberar um pedaço de papel com a foto do trio.
- Uau, foi tão rápido! - disse vendo a vendedora orgulhosa. - Mas... eu não tenho dinheiro. Sinto muito
- Não tem problema, toma - disse esticando a fotografia. - Pelo menos isso é de graça

Brigitte estava muito animada com o presente, era simples, mas porque não valoriza-lo. Ela então começava a buscar a barraca de pastel, não estava no lugar habitual, o que a deixava confusa. Por sorte, Munchlax era um nato farejador de comida, levando a dona com absoluto sucesso. Seria já estava fazendo o pedido quando notou a presença da filha.
- Demorou, o que estava fazendo?
- Comprando as pilhas e recebendo isso! - disse a menina esticando a foto.
- Quanto pagou nisso?
- Foi um presente da Laura, cortesia de ouvir sobre o novo aparelho
Ambas continuavam a conversar sobre a nova tecnologia antes de receber o pedido e caminharem pela feira. Uma voz feminina vinda do segundo andar de uma casa chamava o nome da mãe da menina, atraindo sua atenção.
- SERIA!! AQUI MENINA!
- Marisa? O que está fazendo aqui? - questionou a mãe, confusa.
- NÃO ENTENDI NADA! JÁ DESÇO AI
Seria caminhava calmamente até a porta de uma casa, ouvindo alguns barulhos estranhos antes dela ser aberta. A mulher saltava para abraçar a amiga, que desconfortavelmente tentava retribuir. Marisa era uma amiga de infância da mãe de Brigitte, tinha uma aparência típica da vila: cabelos pretos e olhos puxados, sendo de fato os únicos detalhes marcantes nela.
- Marisa! Se mudou pra cá?
- Pois é garota, não aguentava mais ter que andar todo o caminho da fazenda até aqui. Depois que meu pai morreu eu vendi a casa e mudei pra cá - tagarelou sem respirar.
- Meu Deus, eu sinto muito
- Tudo bem, ele já estava passando pro outro lado mesmo - comentou, quase como se quisesse rir. - Mas não vamos falar disso, olha você! Toda bonita, vêm! Vou mostrar a casa
- Claro - disse sendo empurrada contra a vontade. - Essa é Brigitte, a propósito, minha mais nova
- Ela está tão grande! Pode vir também queridinha
- Na verdade... eu ia apresentar a cidade pra Combee. Tudo bem mãe?
- O quê? - questionou, quase implorando por ajuda só pelo olhar. - Tudo bem. Não se afaste da vila! Não quero você sendo pega por qualquer Pokémon modificado
Com um último aceno, Marisa batia a porta e deixava a menina pra fora. Recuperada do trauma que era rever aquela mulher, Brigitte retornava a passear pela cidade, mostrando diversos pontos comuns. Combee estava bem a vontade.

O passeio terminava numa barraca de doces, onde a menina pagava um cupcake para cada, exceto Munchlax, que ganhava quatro. O trio se sentava na grama da praça, juntinhos devido a queda repentina de temperatura que surgia quando as nuvens cobriam o Sol. A ruiva retirava a foto do bolso e a encarava mais uma vez, colocando-a em segurança dentro do "livrinho de aventuras". Puxando uma caneta laranja, ela começava a escrever o que lembrava sobre aquela semana.
Durante o processo, uma gritaria e uma multidão corria desesperada. Algo estava acontecendo na feira. Brigitte também iria fugir, não fosse notar uma idosa tropeçar, não podendo ignora-la. Ficando mais um tempo para trás, ela via o motivo da fuga: um rato enorme e marrom destruir barracas, engolindo as frutas e verduras nelas. Combee olhava a cena em pânico até voar e se esconder atras de uma árvore, tremendo. A Performer a seguia, abraçando-a e tentando manter a própria calma.
- Respira fofinha, você está segura, eu estou aqui - comentou, ainda que não confiasse naquilo.
Dois oficiais apareciam correndo e liberando seus Machokes para conter o invasor. Eles estavam muito confiantes ao enfrentar Raticate, que era do tipo Normal, logo obteriam vantagem. Porém o grandão não estava atormentado, impedia a dupla de lutadores se aproximarem remexendo sua longa cauda, além de reduzir suas defesas. Com os punhos brilhando, a dupla de Machoke saltava e golpeava o rato, que gritava e se enfurecia ainda mais. A cena a seguir era assustadora: os dentes do Pokémon cresciam ainda mais, mordendo cada um dos Lutadores e os lançando contra os policiais. Feridos, a dupla contraia os músculos, aumentando sua chance de crítico. Raticate, no entanto, afugentava-os encarando assustadoramente. Os policiais recuavam com os Lutadores, chamando por ajuda.
O silêncio tomava conta da feira praticamente destruída, o Pokémon arranhava a própria cabeça, como se tivesse sentindo uma dor tremenda e então gritava. O barulho assustava a abelhinha, que caia no choro e alertava o gigante. Se aproximando sorrateiramente, ele encarava o trio recuado atrás da árvore. Brigitte olhava paralisada, notava que a pupila do rato estava dilatada, além de faltar um pedaço da orelha. Raticate farejava o inseto e entrava em fúria novamente, tentando arranca-la da dona. Com um golpe do rabo, ele pressionava a adolescente na parede e colocava o favo na frente da boca.

vs

- Essa não! Combee use Sweet Scent e Munchlax use Metronome!

A voadora batia as asas e liberava uma fina fumaça rosada polinizada no rosto do rato gigante, que espirrava e a liberava. Remexendo os dedos, o gorducho acabava por forçar o crescimento dos pelos e recebia um grande acréscimo na defesa ao invocar um Cotton Guard. Raticate balançava o rabo e empurrava a dupla adversária, reduzindo suas defesas no processo. Depois ainda fazia uma cara mais ameaçadora, reduzindo a velocidade de Combee.

- Ele é duro na queda... Munchlax Defense Curl! Combee Gust!

O rato avançava a toda velocidade na direção do ursinho, empurrando-o contra uma barraca. Por sorte, ele estava torcido numa bolota, além de possuir pelos fofinhos que amenizava o impacto. A abelhinha voava para trás do parceiro, batendo as asas, ela criava uma corrente de ar que o atirava contra o adversário. Raticate tomava o golpe bem na barriga, depois se irritava ao tentar morder o gorducho, porém este permanecia esférico, que dificultava sua execução.

- Perfeito! Vamos de Metronome e Gust agora!

Raticate recebia dois benefícios seguidos ao executar os golpes: a aura vermelha de Focus Energy tomava conta de seu corpo enquanto um círculo de espadas anunciava a chegada de um Sword Dance. Munchlax ainda estava mexendo os dedinhos quando recebeu mais um empurrão da aliada, aumentando sua velocidade. Surpreendentemente, ao final, o gorducho recebia ainda mais ao imitar Extreme Speed. Com uma barrigada, ele empurrava o Gama para trás.

- Munchlax, Combee...

Antes que comandasse o próximo ataque, o rato saltava com os dentes maiores e reluzindo, pronto para abocanhar a dupla com um único golpe. Porém isso não ocorria. Um bípede avermelhado se colocava no meio da batalha, com uma aura multicolorida ao redor do corpo. Brigitte reconhecia na hora: era o Blaziken de sua mãe. Seria abraçava a filha e acenava para o próprio Pokémon, que focava a aura na perna e desferia um golpe letal no rato.

- Nunca perdi uma luta que utilizei Counter - comentou orgulhosa.

Minutos após o milagroso resgate de Seria, surgia os policiais locais, ficando envergonhados com a demora para reagirem ao ataque. Como forma de compensar, eles concebiam uma maleta com itens para a mulher, que logo a transferia para a filha. Para ter certeza de que tudo estava bem, elas iam até o Centro Pokémon. Lá a Enfermeira os recebia com preocupação.
- Qual o problema?
- Acredito que nenhum, mas viemos para ter certeza - afirmou a mãe.
- Por favor aguardem no sofá, deixarei vocês como caso não emergencial - antes que partisse, ela encarava a abelhinha. - Oh querida, ela é sua?
- Sim, eu a capturei depois que surgiu na minha casa... aparentemente destruíram a colmeia dela
- Será que podemos conversar ali no canto? - questionou a enfermeira, deixando ambas preocupadas. - Está tudo bem com ela? Demonstrou algum comportamento fora do comum?
- O que quer dizer com isso Joy?
- A alguns dias atrás a polícia me trouxe um grupo de Combee - disse com pesar na voz. - O Raticate que atacou hoje no centro... ele destruiu uma colmeia inteira apenas para roubar mel. Pobre Vespiquen, estava tão abalada... talvez nem tenha notado que havia arrancado um pedaço da orelha de Raticate
- Isso explica muita coisa
- Bom, assegure-se de cuidar bem dela. Preciso voltar
Brigitte finalmente retornava ao sofá da recepção, abraçando a amiga em solidariedade. Estava amedrontada porém foi corajosa ao enfrentar o destruidor de sua casa. A Performer estava orgulhosa dela, ainda mais do ursinho que bravamente se pôs em perigo para defende-las. Talvez ela já estivesse pronta para iniciar uma aventura.

Twinfist Village - 001

Para o avaliador:

A família estava eufórica na manhã seguinte ao ataque sofrido por Brigitte na feira central. Seria se engrandecia, dizendo como havia contido o Pokémon e como a filha era corajosa em enfrenta-lo. Animada, diversas coisas passavam pela cabeça da ruiva, que inocentemente aguardava a família concluir o café para fazer um anúncio.
- Família, eu quero dizer uma coisa - alertou, se levantando e recebendo a atenção geral. - Tudo o que ocorreu ontem abriu meus olhos para uma coisa que eu sempre temi, mas agora tenho força para enfrentar - comentou, recebendo sorrisos agradáveis de todos. - Por isso, começando nessa tarde, eu vou sair da vila e conhecer o mundo para me tornar uma Performer famosa
Seria engolia o sorriso e torcia a cabeça como se não tivesse entendido. Parecia questionar diversas coisas na cabeça antes de virar para a filha com raiva.
- O que você disse?
- Vou virar uma Performer, para isso...
- CHEGA! - trovejou, paralisando todos. - Você está de castigo mocinha! Além disso não quero mais histórias sobre Performer dentro da minha casa!
- Mas mãe...
- BRIGITTE AUTUMN LINDHOLM! - interrompeu. - Nunca na história dos Lindholm alguém desviu do único caminho: as artes marciais. Não é VOCÊ que irá começar
- Querida, por favor - tentou argumentar.
- Bernheim não ouse!
- Já chega Seria! - retrucou o pai. - Eu escolhi abandonar meus sonhos para ficar com você, aqui! Eu me adaptei a você porque eu te amo. Mas eu não vou permitir que acabe com o sonho de nossa filha! É uma escolha dela
- Talvez eu tenha escolhido o parceiro errado afinal - disse antes de partir e se trancar no quarto.
- Papai... me desculpe
- Não tem porquê querida. Siga seu sonho, seja feliz. Prove que ela estava errada em te impedir
Com um abraço, a menina caia no choro. Sempre soube que seu pai tinha um segredo, mas jamais podia imaginar que era aquilo. No fim, Bernheim encarava todos os filhos e sorria com a maior pureza que já viram.
- Vocês todos merecem o que desejarem! Não tenham medo da sua mãe, ela é dura, mas ama vocês incondicionalmente
- Vai ficar tudo bem?
- Já passamos por coisas piores, nada pode nos abalar

Caminhando rumo ao Sul da vila, a família quase completa dava adeus a um membro. Bernheim ensinava a filha a utilizar o Ride Pager pela primeira vez, convocando um Stoutland que farejava itens perdidos, encontrando uma Sitrus Berry jogada pela estrada. Munchlax se mostrava igualmente prestativo, trazendo um Lum Berry através de sua habilidade Pickup. Brigitte enfim estava pronta para seguir.
- Você foi muito corajosa - elogiou Loman, abraçando-a.
- Vai ficar mais linda do que já é, prometo arrumar um jeito de assistir todas as suas apresentações - disse Gladi, também abraçando-a.
- Vou sentir sua falta, Brig - comentou o pai, lacrimejando os olhos. - Você sempre iluminou nossas vidas, mas agora é hora de iluminar o mundo. Eu te amo.
Todos se reuniam para um último abraço em grupo, caindo em lágrimas e demorando para soltar. Brigitte virava para a estrada que a levaria até a Rota 26, onde sua aventura começaria de verdade. A alguns metros dali, escondida atrás de uma moita, Seria assistia toda a cena.
- Que Arceus ilumine seu caminho minha filha - começava a chorar. - Eu te amo

1 Lum Berry (via Stoutland Search)
1 Sitrus Berry (via Pickup)