X. Doce Energia

Mesmo ainda atrelada ao sono profundo, Luna podia escutar um barulho estranho perto da janela do seu quarto que a assustava e a fazia acordar no meio da madrugada de supetão.

Interessada em investigar, ela descia as escadas e procurava a Enfermeira, que provavelmente já tinha se recolhido por não estar mais no balcão. Tudo estava iluminado, ainda. Ou será que trabalhavam num sistema de turnos? Olhou o relógio logo acima do painel de informações e este mostrava que já passavam das duas da madrugada, então realmente era hora de dormir para qualquer pessoa.

Por sorte, a chave do quarto também tinha uma outra para a porta dos fundos. Eles não tinham que temer ataques, afinal quem iria se meter num lugar onde poderia ter uma dúzia de mestres Pokémon? Nem monitorando a entrada. A polícia também ficava nos arredores fazendo rondas e usando como ponto de encontro, além de ser um lugar bem movimentado mesmo na madrugada. Seus Pokémon estavam à sua disposição numa gaveta eletrônica com o seu nome, uma espécie de cofre.

Luna saía pela porta com um agasalho mais quente e com os seus Pokémon no cinto, vasculhando os arredores por malfeitores. O doce cheiro do mel invadia as suas narinas, revigorando-a completamente...

A partir de agora irei desenvolver mais o lado investigativo e dos sentidos já trabalhados e aguçados da Luna. Gostaria de desafios que puxassem mais para esse lado. Favor não esquecer que está de madrugada na rota.

Passos. A quatro horas, provavelmente se dirigindo para a pequena Drache, que não deveria ter um policiamento ostensivo naquela hora. A audição da jovem captava uns murmúrios também apontando para aquela direção, enquanto ouvia o barulho alto do crocitar de uma coruja e logo em seguida o bater de asas, com um incômodo som disruptivo em ambos os ouvidos, levando a jovem a cobri-los com um protetor de orelhas perdido na mochila.

Luna aparentava despreocupada, mas na verdade ela estava era atenta em tudo ao seu redor. O mínimo som dos passos na silenciosa cidade era possível ser ouvido à distância, principalmente com a atenção focada nisso. Seja lá quem fosse essa pessoa, ela estava com a coruja de antes e isso era fácil de perceber, assim como uma pena amarronzada que provavelmente havia caído durante a retirada. A pegou e guardou em sua mochila.

Liberou seu velho amigo Altair de forma discreta, fazendo um sinal para que sobrevoasse a área sem deixar rastros: o que era um pouco difícil, já que nem aves se atreviam a passar naquele espaço aéreo. Assim que a sua revoada terminava, ele retornava com um pedaço de fio com uma extremidade em metal, usado em hipnose, talvez?

Gastou um tempo andando acompanhada de Altair até chegar numa área onde a vegetação da cidade era mais densa e florestal, onde ela podia perceber um movimento vindo de uma clara. Sorria, imaginando “Quem diria...”. A jovem então tinha uma visão entre as árvores de um pequeno acampamento com dois rapazes. Um já estava dormindo na barraca, enquanto o outro estava com um Hypno se esquentando, indicando que tinha acabado de voltar. Mas e a ave, onde estava?



– Hehehe... Hoje foi apenas o primeiro dia, Hypno. Já percebi que não tem ninguém forte lá. Eles fecham de madrugada e a polícia você viu, são uns fracotes. Noctowl é uma ótima guarda e Honey é pacata então não precisamos temer por reforços de Argent. Vamos soltar o Gama lá e completar a missão que nos foi dada...

Voltou Altair e liberou Gengar, junto de Hanzo. Deu o ovo brilhante para o último. – Hora de se amedrontar... Mean Look e depois Sucker Punch. – Disse ela. O fantasma escondia-se nas sombras como o gato de Cheshire e tratava de achar o Noctowl de guarda numa árvore totalmente longe de onde Luna estava. Colocava ela para se calar em medo sem fazer um barulho sequer, a derrubava no chão com o ataque inesperado e começava o terror.



Primeiro, usava a sombra que a luz do fogo fazia para imitar algo horripilante e o criminoso se assustava, recuando como uma criança. Em seguida se manifestava na fumaça, criando uma explosão e apagando a chama por completo.

Minutos se passavam até Luna poder se acostumar com o escuro e Hanzo seguir Gengar para a cena, distribuindo agulhas venenosas que brilhavam com a reação química, enquanto o fantasma liderava o show com mais terror. Logo que descobriu Hypno, o atacou com o Confuse Ray e um Shadow Punch bem em sua barriga. A exploradora, agora detetive, se metia no meio de todos e começava a vasculhar as mochilas, sacolas de comida, roupas e tirava qualquer coisa que podia ser útil dali.

– Quem está aí? – Berrou o homem e fazia o outro acordar diante de todo aquele pandemônio. Liberando um Torracat, ele logo reestabelecia a fogueira e iluminava a clareira novamente, surpreendendo todos e fazendo Luna ser descoberta enquanto mexia nos seus pertences e Noctowl acordar de seu sono, reunindo-se logo no ombro do criminoso. O gato estava bastante cansado e ferido, provavelmente de alguma batalha anterior e obrigava o segundo capanga a se recolher. Com Hypno ainda confuso, as coisas estavam ainda mais fáceis.

– Gengar, Hanzo, Sucker Punch em Hypno!

Ambos caminhavam até o psíquico e desferiam um poderoso golpe sujo que lançava o Pokémon hipnose de encontro à uma árvore próxima, enquanto o bandido comandava Noctowl para que usasse o Sky Attack. O movimento era forte, mas ainda demoraria um certo tempo para ser executado, então era uma pequena janela ali. Hypno também recebia comandos para usar o Disable e logo que se levantava ainda atordoado, usava o movimento e desabilitava aquele perigo.

Luna então percebia que aquele Hypno não estava com o seu pêndulo e tomava como certeza de que era o que ela tinha em posse, suspirando de alívio já que ele estava dentro da mochila. De certa forma o Pokémon percebia e acelerava até a jovem cegamente.

– Gengar, se meta na frente dele e Shadow Punch! Hanzo, persiga ele com o Pursuit!
– Destruam tudo mas façam isso em silêncio! Eu quero dormir, porra! – Berrou o segundo criminoso de dentro da barraca.
– Se tudo der certo vocês vão dormir é na cadeia! – Respondeu Luna.

Enquanto a sua testa começava a brilhar num tom arroxeado, o Pokémon das sombras usava seu ataque diretamente no ponto de foco do Zen Headbutt, cancelando o ataque mas também danificando um pouco seu braço. O ataque aéreo de Noctowl ficava pronto e ela vinha com celeridade, com suas asas deixando um rastro azulado para trás. Hanzo conseguia correr enquanto o Pursuit estava em efeito, usando Hypno como escudo e se sacrificando para levá-lo junto.

Ambos voltavam para suas Poké Ball. Gengar e Noctowl se fitavam, defendendo ali os seus treinadores. O homem comandava um Air Slash, fazendo a ave invocar uma lâmina de ar em formato de “X” que rasgava o vácuo e se encontrava com o fantasma. Luna liberava Agnaros logo depois, deixando a dupla no campo.

– Rock Slide! Gengar, Payback!

Agnaros preparava um portal logo acima da cabeça do voador, de onde saíam várias pedras pesadas que o forçavam a cair no chão. Quando o homem mandava ele usar o Roost, já era tarde demais: Gengar já havia flutuado até ela, devolvendo o ataque anterior em forma de uma chuva negra de energia, que caía de cima para baixo e fazendo as rochas se fragmentarem nas asas do Pokémon até derrotá-lo.

Derrotado, o homem ficava sem palavras e começava a arrumar as coisas. Luna já tinha material demais e trazia seus Pokémon de volta, correndo para os arredores do Centro Pokémon.  – Acorda, seu merda, a gente precisa sair desse lixo de lugar antes que essa puta aí vá contar para a polícia do plano. Se tivermos problemas com a polícia, iremos ser banidos da Eclipse!

O segundo acordava assustado com as palavras e o ajudava, enquanto Luna já estava longe, gargalhando. Ela jamais teria imaginado que pudesse fazer uma coisa tão perigosa quanto “brincar” de detetive e que ainda seria tão divertido. Chegando nos arredores, meia dúzia de homens da lei estavam vasculhando os arredores.

– Podem parar, já sei quem está por trás disso. – Levantou a voz, forçando a atenção a ir toda para ela. Dirigindo-se ao superior, deu a pena do Noctowl, o pêndulo de Hypno, algumas anotações e os distintivos de Eclipse Grunt de ambos os rapazes com suas fotos. – As provas estão aí. Dois homens, um mais adolescente e outro já adulto. Pelo que eu sei, esses emblemas tem as informações deles aí. O adulto tinha um Noctowl e um Hypno, com umas olheiras profundas. Já o mais novo eu só consegui ver um Torracat. Eles estavam planejando algo grande em Honey, começando pelo Centro Pokémon, mas consegui afugentá-los a tempo. Era sobre soltar um Gama aqui. Irei dormir, boa noite e façam o serviço de vocês direito, por favor.

Assustados, eles entreolhavam-se frequentemente, como se estivessem dizendo “Por que não pensamos nisso antes?!”. Mas como pensariam se estavam todos dormindo feito anjos no meio da rua, não é mesmo? Alguns tinham até a poeira ainda sujando o uniforme. Tomando as provas de Luna como ponto de partida, certamente poderiam fazer algo melhor que simplesmente procurar...

Lucky Egg posto em Hanzo (Croagunk).

Atualização

Luna

O sol raiava e começava um novo dia. Para Luna, que havia tido uma aventura mais cedo, ele até podia esperar – se não fosse um altíssimo estrondo que a fazia pular da cama.

– Déjà vu... – Disse a jovem, se aprontando rápido e pegando suas coisas na cabeceira. – Queria ter uma noite de sono decente antes de seguir para Drache, mas pelo visto não vai acontecer.

Saiu pela porta e se meteu pelo corredor, voando como um fantasma, interessada em saber sobre o som, que apontava para um plaza por ali mesmo na cidade. A multidão era tamanha que Luna tinha problemas para identificar o que era. Empurrando um aqui e outro ali, ela eventualmente chegava a um cordão de contenção, onde um treinador estava tendo problemas contra um Tropius que havia sido isolado. Parecia até uma cena de luta contra Pyroars. Era entretenimento para o público.

– O plano dos Grunts... – Reconheceu, sendo inábil de conseguir que eles fossem embora sem causar o estrago.




– O que vocês estão esperando?! VÃO AJUDAR! – Berrou a exploradora, apenas para ser engolida pelo coro de incentivo de alguns e apostas de outros. Alguns já tinham até arrumado um toco e uma mesa improvisada para vender os tais bilhetes. – Quer saber de uma coisa? Eu vou lá.

Passou por debaixo da fita e chegou ao lado do jovem, que de bravo só parecia de longe. Na verdade, ele estava morrendo de medo. – Primeira vez lutando contra um Gama?! Me senti assim também um tempo atrás. Prazer, Luna.

Ao perceberem que ela estava lá dentro, o povo se calou.

– Na-não... – Respondeu, desajeitado. – T-tá tudo s-sobre c-c-c-ontrole... Meu nome é Alias.
– Ok, então será que eu devo voltar?
– FICA! NÃO, PODE FICAR! QUEM ESTÁ ASSUSTADO? EU TÔ ASSUSTADO? NÃO! QUEM DISSE? HAHAHA!

O inseto azulado que o acompanhava dava um tapa no centro da cabeça e a balançava. Olhando fixamente para o Gama, ainda dava um sorriso para a intrusa.



– Calma, calma. É uma besta mas ainda pode ser derrotada. Gostaria que você me ajudasse servindo como linha de frente. Hanzo, faça as honras! Poison Sting!
– Heracross, Bullet Seed e Aerial Ace!

Os lutadores se organizavam e disparavam seus ataques à distância. A chuva de sementes-bala em conjunto dos dardos envenenados atingia a barriga do Pokémon, que berrava de incômodo e lançava uma poderosa corrente de ar que os empurrava lentamente para trás, isso estando a metros de distância e pairando no ar. Heracross abria seu casco e revelava as asas já fortificadas, atacando o voador com elas em seguida.

– Continue!
– Pegue ele pelo braço e carregue-o usando o Bullet Seed de novo!

O inseto aproveitava o impulso do movimento anterior para dar um rasante e pegar Hanzo, dirigindo-os para cima do Pokémon. Ambos começavam a expelir seus movimentos, que caíam sobre Tropius e machucava uma de suas asas, obrigando-o a descer. Essas agulhas fincavam dolorosamente em sua carne e o adoecia, fazendo o Pokémon urrar e responder com um tornado de folhas que desestabilizava ambos no ar e o faziam cair bem perto dele. A infecção do veneno o descontrolava ainda mais e Luna sabia que era a hora de começar a finalizar para que ele não sofresse. A polícia? Nem sinal. Os incompetentes que varavam a madrugada sem nada para fazer, faltavam justamente naquela hora.

A cada ataque, o público delirava ainda mais e as brigas pelas apostas se tornavam ainda mais frequentes. Nada perigoso, porém preocupante.

– Nasty Plot, em seguida ataque com o Venoshock!
– Megahorn!

Enquanto o besouro se concentrava em fazer um ataque direto, Hanzo decidia recuar e se esconder no meio das árvores que serviam de cenário para a batalha, assim ele poderia ganhar o tempo necessário para subir um movimento de status que aumentasse seu poder especial e se concentrar para invocar uma poça de veneno embaixo dos pés do Pokémon de grama. Ele não sabia o que fazer, logo invocava uma tempestade de ar que engolia as árvores e arrancava todas as suas folhas, usando-as como uma extensão desse ataque.

O desajuste no clima local atingia tudo num raio de 300 metros e logo que acabava, sobrava apenas um mar de folhas secas e avermelhadas nas ruas da cidade. Roupas e casas mais fracas voavam, estabelecimentos viam suas mercadorias sumirem. As pessoas se seguravam no que podiam e logo a multidão se abrigava em algum lugar. Não havia mais ninguém, apenas Luna e Alias tentando se esconder e Hanzo assustado num galho seco. O Heracross estava desmaiado.

– Tá tudo bem? – Perguntou Luna.
– T-tá. Acho que vou para o Centro Pokémon...

E o garoto corria para longe daquele pesadelo como se não houvesse amanhã, em direção ao hospital. Estava agora sozinha. – Pelo menos o trabalho já foi feito quase todo. Prefiro resolver as coisas assim. – Pontuou, contente. – Mire um Poison Sting nas asas.

Tropius estava ainda mais cansado e fraco perante ao último ataque e tombava no chão. Usando o movimento venenoso, ele as prendia no chão e Luna caminhava calmamente até o relutante Pokémon, puxando o aparelho intacto de seu pescoço e o jogando dentro da mochila. – Isso vem comigo. Talvez os próximos fiquem com a polícia.

Falando nela, apenas um carro chegava depois da comoção. A ave já havia se despertado do transe e voado de volta para sua casa e nem Luna estava mais por ali. Atrasados.

Atualização

Luna

Foi um post rápido, mas você me convenceu com o passar de cada situação. O texto rápido condiz com os acontecimentos repentinos que ocorreram, aliás sua batalha foi excepcional, fiquei perdido quanto a narração do Venoshock já que a narrativa detalhava o Nasty Plot e abria brecha para uma possibilidade, estando esta em prática de forma implícita pelo que observei. Quanto ao Gama, deu um ar diferente para este e fugiu do que eu esperava, uma criatura cruel era na verdade medrosa e inocente, parabéns.

Atualização

Luna